Acabou a tese da “tensão
político-militar numa área circunscrita”. Quando se começa a falar de mais de
20 mil famílias deslocadas, em Inhambane e de uma enorme quantidade delas em
Sofala, não há tensão político-militar, há guerra, gostemos ou não da palavra. E
temos já o Governo do Japão a oferecer-se para apoiar esses refugiados...
Quando se registam
combates em Homoíne e em Funhalouro, na província de Inhambane, a tese da área
circunscrita vai para as urtigas. Fomos novamente empurrados para uma guerra
civil e é essa a situação que temos que enfrentar, com todas as suas péssimas
consequências. A época turística na província de Inhambane, talvez a mais
procurada do país, foi muito má, com as unidades hoteleiras às moscas, porque é
óbvio que ninguém vem passar férias para uma zona de guerra. E agora vai ser
cada vez pior. Com a Renamo a atacar em Homoíne e Funhalouro (por enquanto...)
não vai tardar a que se tenha que andar em coluna mais umas centenas de quilómetros,
o que representa um desastre em termos de segurança dos cidadãos e em termos
económicos. E o que mais choca é que isto não cai como uma surpresa. Foram muitos,
e repetidos, os avisos de que o caminho que estávamos a seguir só poderia
desembocar no que estamos a viver hoje. E tudo leva a crer que, se não mudarmos
de rumo, a situação vai agravar-se, cada vez mais, até se tornar insuportável. A
Renamo, como qualquer movimento de guerrilha, é quem escolhe onde ataca e como
ataca. E nem os melhor preparados exércitos do mundo (o que não é, de forma nenhuma
o nosso caso...) são capazes de defender efectivamente cada centímetro quadrado
dom território. Não tem equipamento nem efectivos para isso. Daí que se esteja
a mandar para as zonas de guerra jovens mal formados e sem qualquer experiência
de combate que ou desertam ou acabam mortos num campo de batalha onde não estão
a defender os interesses do país mas sim obscuros interesses de grupo, num e no
outro lados da barricada. E digo isto porque, embora concorde com a
reivindicação da Renamo de uma revisão da forma de constituição dos órgãos
eleitorais, estou longíssimo de aceitar que esse pretexto chega para lançar o país,
de novo, numa guerra civil. Ao contrário de mim, os dirigentes do Governo e da
Renamo acham que sim, que chega. O que é um crime contra Moçambique. Um crime
contra todos nós.(Machado da Graça)
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