Uma das figuras centrais do movimento
"sem-terra" brasileiro, Augusto Juncal, esteve em Maputo como
"reforço de peso" da campanha dos camponeses moçambicanos contra o
ProSAVANA e deixou o alerta: "Abram o olho, vocês vão perder as
terras".
O ProSAVANA, um programa de desenvolvimento
agrário dos governos de Moçambique, Brasil e Japão, que está ainda na fase
inicial de implementação no centro e norte de Moçambique, está a ser contestado
pela União Nacional dos Camponeses de Moçambique (UNAC), a maior organização da
classe no país. A ser concretizado, em milhões de hectares de 19 distritos
moçambicanos do centro e norte de Moçambique, o ProSAVANA pretende dinamizar o
agro negócio através da participação do setor privado na produção de culturas
destinadas à exportação. A UNAC defende
que o modelo brasileiro de desenvolvimento agrário de cerrado tropical que será
replicado no projeto moçambicano vai provocar a expropriação de terra de
milhões de camponeses, agravar a pobreza e levar a tensões sociais, tal como se
passou com o fenómeno dos "sem-terra" no Brasil. Convidado de honra na II Conferência
Internacional Camponesa sobre a Terra, realizada esta semana em Maputo, Augusto
Juncal, porta-voz do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), não
tem dúvidas de que o ProSAVANA vai prejudicar os camponeses do centro e norte
de Moçambique.
"Eu acho que a preocupação com o ProSAVANA
está pouca para o problema que está vindo. Acho que os camponeses ainda não se
deram conta do que está vindo, porque, quando se derem conta, não vai ter
nenhuma negociação com o Governo", disse à Lusa o militante da causa dos
camponeses sem-terra do Brasil. "Eu estou falando: abram o olho, vocês vão
perder as terras, não é brincadeira, isso é um processo de usurpação, de
apropriação de terra. No Brasil, o cerrado desapropriou muita população, acabou
com um dos biomas mais importantes" do país, enfatizou Augusto Juncal.
Também o diretor da Organização Não-Governamental
(ONG) angolana Ação para o Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente de Angola
(ADRA), Guilherme Santos, considera que se o ProSAVANA fizer prevalecer os
interesses da agricultura empresarial em detrimento dos camponeses, o país
passará por tensões sociais sérias.
"Se não se fizer absolutamente nada para
proteger os interesses dos camponeses, se a tendência for de pisotear os
interesses dos camponeses vai haver convulsões", apontou Guilherme Santos.
O ativista dos direitos dos camponeses angolanos considera que Moçambique ainda
vai a tempo de evitar que o ProSAVANA resulte em prejuízos para os camponeses. "Há
ainda oportunidade de diálogo, um diálogo que tenha uma finalidade aceite por
todos, que tenha em conta a dimensão económica, social e cultural de todos os
agentes envolvidos. A sociedade civil moçambicana deve construir essa
capacidade de influenciar o processo de decisão sobre o ProSAVANA",
acrescentou Guilherme Santos.
Durante a conferência, a UNAC foi novamente
enfática no repúdio à iniciativa, acusando o Governo de
"contradições" nos pronunciamentos sobre as consequências do programa
e de intimidação nas discussões com os camponeses. "O ProSAVANA tem sido
marcado por contradições, porque temos o Governo central a negar que vai haver
reassentamentos, mas os funcionários locais falam de milhões de terra
necessária para o programa", disse Vicente Adriano, oficial de Advocacia e
Cooperação da UNAC.
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