A revisão do
plano de energia da África do Sul, um projecto que deverá ser implementado ao
longo dos próximos 20 anos, ignora “de forma chocante” as descobertas massivas
de gás natural na Bacia de Rovuma, província de Cabo Delgado, norte de
Moçambique.Esta é a posição de Johan de Vos, Presidente da Comissão Executiva
da Gigajoule, uma empresa sedeada em Pretória e que integra o consórcio da
Gigawatt, responsável por um projecto de geração de energia a partir do gás
natural em Ressano Garcia, sul de Moçambique.Segundo escreve o jornal
sul-africano “Business Day”, esta posição de Johan de Vos surge pelo facto de
as descobertas da Bacia do Rovuma constituírem o quarto maior depósito de gás
natural do mundo, que pode resolver a crise imediata da energia da Eskom e
evitar custos “dispendiosos” de construção de uma terceira nova central
eléctrica a carvão.A Gigajoule diz ter realizado estudos que demonstram a
viabilidade económica de um gasoduto com 2.450 quilómetros de comprimento e que
parte de Cabo Delgado, norte de Moçambique, a Richards Bay, na África do Sul.Segundo
de Vos, este gasoduto custaria cinco biliões de dólares americanos. Um estudo
encomendado pela Gigajoule a empresa de consultoria VGI, refere que seriam
construídos dois clientes âncora na forma de centrais de eléctricas a gás: um
em Maputo e o outro em Richards Bay, com uma capacidade combinada para a
geração de cinco mil megawatts e, para o efeito, seria necessário um
investimento de outros cinco biliões de dólares.
“Trabalhámos dois anos nesse estudo de viabilidade e sabemos que se
construirmos uma central eléctrica de cinco mil megawatts no fim do gasoduto
este projecto é um bancável”, disse ele.
Com um custo estimado em 10 biliões de dólares, o investimento numa central
térmica movida a gás seria “mais barato que o Medupi e irá custar menos a
operar se forem acrescidos os respectivos juros”, acrescentou.
Medupi é um projecto da Eskom, empresa produtora e distribuidora de energia
eléctrica na Africa do Sul, para a construção de uma central eléctrica a
carvão, um investimento orçado em 17 biliões de dólares. Esta central está em
construção próximo de Lephalale, província de Limpopo.“Nós (África do Sul) não
precisaríamos de construir a Coal 3”, disse a fonte, referindo-se ao plano do
governo para a construção de uma terceira central eléctrica a carvão, além das
de Medupi e Kusile.O fornecimento de energia na África do Sul tem sido precário
desde 2008, quando a rede de energia da Eskom começou a se ressentir devido a
sua incapacidade de suprir a demanda. Os grandes investimentos da Eskom em duas
novas centrais eléctricas a carvão têm sido afectadas por longos atrasos de
origem técnica e financeira.Os custos dispararam em flecha e a energia ainda
não chegou à rede. O tempo e os custos associados aos projectos como o Gasoduto
do Norte ao Sul de Moçambique (Gasnosu) mostram que se a construção arrancasse
no próximo ano, o projecto estaria concluído até finais de 2018.“Os japoneses
estão em tudo isso”, disse de Vos, referindo-se aos projectos de gás em curso
na Bacia do Rovuma. “O Primeiro-Ministro japonês esteve em Moçambique esta
semana (semana passada) para assinar acordos com o governo na área da energia.
Nós (África do Sul) não fazemos nada”, acrescentou. “É tecnicamente viável
e terá um impacto social massivamente positivo. Se estivermos todos alinhados,
isso pode acontecer, é uma janela de oportunidade que temos agora e não
devíamos desperdiçar, não podemos enveredar pelo Coal 3 quando existe esta
oportunidade logo à porta”, disse ele.Para Cornelis van der Waal, director da
unidade de energia na Frost & Sullivan, uma empresa de consultoria na área
de pesquisa de mercado, disse que o gasoduto é a coisa mais “interessante e
sensata” que ouviu sobre o desenvolvimento dos depósitos da Bacia do Rovuma.
Segundo referiu, o Plano Integrado de Recursos (IRP) encontra-se em revisão e
não é muito tarde considerar o gás natural de Moçambique para o plano de
electricidade da África do Sul.
“As companhias sul-africanas e o governo estão realmente a perder uma grande
oportunidade em Moçambique, com o gás deles na equação, o debate sobre a
necessidade de energia nuclear cai no vagão”, disse ele.“A beleza de um
gasoduto é que, se for bem feito, pode replicar uma outra Sasol e reduzir
seriamente a nossa dependência em importações de crude. Existem muitas
companhias e indústrias que poderiam beneficiar disso, tirar-lhes da rede e
fornecer-lhes gás barato e limpo. Rovuma devia absolutamente estar no IRP”,
disse ele.Segundo o “Business Day”, a única menção de Rovuma no IRP - e que até
foi erradamente escrito Romvula - é o facto de não ter sido considerado no
cenário alargado de gás natural devido a distância e os custos envolvidos no
transporte de gás natural liquefeito.
Pesquisas em curso na Bacia do Rovuma revelam a existência de reservas de gás
natural na ordem de 170 triliões de pés cúbicos, uma magnitude que a Gigajoule
considera capaz de responder a todas as necessidades energéticas da África do
Sul, estimadas em cerca de 40 mil megawatts, nos próximos 170 anos.
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