Para o pesquisador João Feijó, do
Observatório do Meio Rural (OMR), é tempo de se chamar as coisas com os próprios
nomes, tratando os atacantes de terroristas e não insurgentes, uma designação
que lhe parece simpática, até pela imprensa. Para João Feijó, que também vem estudando
os ataques de Cabo Delgado, as incursões da semana passada foram uma mensagem
de força, de musculatura e de provocação do Estado.
“Há ali uma situação de
provocação ao Estado e se aproveitam da fragilidade do Estado”, observa. O
pesquisador nota, igualmente, uma clara mudança de estratégia por parte dos
atacantes.
“Em vez de atacar à população,
atacaram ao Estado”, sublinha, acrescentando que, desta vez, não houve cabeças
da população decepadas.Para o pesquisador, se há uma vila que é atacada e
ocupada e os “terroristas” saem porque lhes apetece sair, o Estado perdeu o
controlo da situação. Mas não só. Há coincidências que, para João Feijó, são,
simplesmente, estranhas, a exemplo de os dois adminis- tradores, de Mocímboa da
Praia e de Quissanga, não terem estado com suas famílias, na altura dos
ataques.
“É uma coincidência que nos
levanta questões”, diz, questionando o papel da inteligência. Feijó entende
que, sem ajuda internacional, as autoridades moçambicanas não irão conseguir
resolver a situação. Mas também observa que não será a ajuda internacional, por
si, que irá resolver a situação. Defende que, se há uma clara ingerência
externa nos ataques de Cabo Delgado, também é preciso entender que há
componentes internas por detrás do conflito, nomeadamente, contradições que não
foram bem geridas e que, se não forem resolvidas, não vale a pena trazer gente
de fora. Apontou, como exemplos, contradições etno-linguísticas, o tráfico de drogas,
a pobreza e grupos económicos islâmicos suspeitos de financiar os “terroristas”,
ao mesmo tempo que financiam campanhas eleitorais. Aliás, Feijó chama atenção a
um discurso populista dos “terroristas”, que se aproveitam dessas tensões e contradições
locais para obter uma base local de apoio.
“O problema é complexo e a
solução não será só militar”, avisou.
Sobre uma eventual instituição de
um Califado no norte de Cabo Delgado, o professor diz que o discurso parece ser
esse. Contudo, até aqui os ataques ainda não se tornaram numa guerra de ocupação. “Neste momento, a
estratégia deles é de destruição, terror e incidentes que sejam mediatizados
pela imprensa”, afirmou.
0 comments:
Enviar um comentário