A
açucareira da Maragra, uma subsidiária da segunda maior empresa do mundo no
ramo de açúcar, que tem aumentado as suas receitas anuais recusa reajustar o
salário dos milhares de moçambicanos que emprega tendo em conta a inflação.
Além disso paga melhor aos funcionários estrangeiros em detrimento dos
nacionais que, não vendo outra saída, decidiram entrar em greves sucessivas até
verem as suas reivindicações atendidas. No meio do “braço-de-ferro” a polícia
interveio reprimindo os grevistas, acuados os trabalhadores retaliaram.
A
Maragra Açúcar SA, propriedade do grupo Illovo Sugar(maior grupo do ramo em
África) e uma subsidiária da Associated British Foods plc(segunda maior empresa
do ramo no mundo), recusa-se a melhorar as remunerações dos seus trabalhadores
moçambicanos.A multinacional, que em 2015 obteve receitas superiores 593
milhões de rands em Moçambique, e lucro de 24,6 milhões de rands, decidiu
ignorar o aumento salarial de 10,4% decretado pelo Governo para os
trabalhadores da Agricultura e propô-se a reajustar só em 10%.
Além
dos trabalhadores do canavial, que representam 70% da sua força de trabalho, a
Maragra Açúcar SA emprega um significativo número de moçambicanos na sua
fábrica, onde transforma a cana em açúcar, mas recusa-se a remunera-los como
trabalhadores da indústria transformadora equiparando-os ao sub-sector de
panificação.
Mas
as reivindicações dos moçambicanos empregados pela multinacional não se ficam
por aqui. Pedem o fim da diferenciação nos salários entre trabalhadores
estrangeiros e nacionais que ocupam as mesmas categorias e com as mesmas
responsabilidades e competências, numa clara violação do nº 3 do artigo 108 da
Lei nº 23/2007 de 01 de Agosto.
Os
moçambicanos pedem ainda a diminuição dos trabalhadores estrangeiros na Maragra
Açúcar SA, com a expectativa de assim verem os seus míseros salários melhorarem.
À
estas reivindicações juntam-se o pedido de mudança das categorias (existem
trabalhadores a muitos anos na mesma categoria) assim como a revisão da decisão
de pagar por hora em vez de diariamente como havia sido acordado com o Comité
Sindical.Diante da intransigência da direcção da Maragra Açúcar SA, que há
cerca de 2 anos é comandada por Hans Veenstra, os trabalhadores moçambicanos
decidiram exercer o seu direito à greve, que programaram acontecerem
sucessivamente até a resolução do conflito.
Os
mais de 4 mil trabalhadores agrícolas da Maragra Açúcar SA auferem uma
remuneração de 3.360 meticais, contra os 3.642 meticais aprovados pelo Governo,
enquanto os operários da fábrica ganham 4.040 meticais, muito abaixo dos 5.965
meticais que poderiam receber se estivessem avaliados como do sector da
indústria transformadora.
Todavia,
após a primeira greve que decorreu entre 27 de Julho e 1 de Agosto, direcção e
trabalhadores moçambicanos juntaram mais um diferendo, desta vez relacionado
com os descontos salariais durante os dias da paralisação laboral.
Perto
de 45 hectares de cana-de-açúcar foram queimados, última quarta-feira (9),
durante a manifestação dos trabalhadores da Açucareira da Maragra, distrito da
Manhiça, em Maputo. “Queimaram 44,8 hectares de cana. Os grevistas dizem que
não foram eles. Dizem que queimaram uma parte e que a outra parte foi por causa
dos disparos da Polícia”, explicou Alexandre Munguambe, secretário-geral do
Sindicato dos trabalhadores da Indústria do Açúcar, Álcool e Afins (SINTIA). Falando
em conferência de imprensa, Munguambe acrescentou que os trabalhadores
agrediram, com gravidade, alguns colegas seus, incluindo um agente da Polícia,
e vandalizaram a viatura do director da empresa. “Nós não podemos destruir a
empresa. Apelamos aos trabalhadores a não destruir a empresa. Nós entendemos
que numa manifestação não se devem destruir os bens”, apelou.Até ontem (10), as
actividades continuavam paralisadas na Açucareira de Maragra. Na verdade, os
trabalhadores chegaram a retomar as actividades, mas quando a empresa informou
que descontaria os salários dos grevistas, os mesmos decidiram manifestar-se.Representantes
da Organização dos Trabalhadores de Moçambique e do Ministério do Trabalho,
Emprego e Segurança Social tentavam, até ao fecho desta edição, aproximar a
direcção e os trabalhadores da Maragra Açúcar SA.
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