O MPLA garante que a vitória nas eleições gerais de
23 de Agosto será expressiva de acordo com sondagens internas; a CASA-CE está
convicta que irá lutar pela vitória; a UNITA não fala em ganhar, mas sente-se
segura de que não será ultrapassada como segunda força política de Angola.
Ao SOL, o académico Paulo Inglês adiantou os
resultados do follow up da sondagem do Instituto Piaget e do Instituto Sol
Nascente (que teve numa primeira fase o apoio técnico da Universidade Católica
Portuguesa), em que participou, e os resultados são surpreendentes. Reduzidos
os indecisos de 23% para 11%, «o MPLA manteria os seus 36% nas intenções de
voto, desceu algumas décimas», mas a CASA-CE aproximar-se-ia muito do primeiro
lugar, porque ganharia para si 70% dos indecisos. «A CASA-CE estaria nos 28% e
a UNITA nos 22%». Se contarmos que a sondagem tem uma margem de erro de 4%,
vemos que o resultado da segunda força política se aproxima muito do partido que
tem dominado Angola desde a sua independência.
Paulo Inglês, com formação em Sociologia,
Filosofia, Ciência Política e doutorado em Estudos Africanos, afirma que ficou
surpreendido com «a subida nas intenções de voto da CASA-CE», depois de a esta
se ter juntado também o Bloco Democrático, de Justino Pinto de Andrade. «A
UNITA também me surpreendeu por ter conseguido uma maior mobilização, embora eu
ache que seja só o seu eleitorado tradicional que perdeu o medo», diz.
Alcides Sakala, um dos históricos da UNITA,
deputado e atual porta-voz do partido, refuta, em declarações ao SOL, os
resultados: «Isto não corresponde à verdade, o que há é uma tentativa de
manipulação. Segue a lógica com que os órgãos públicos de comunicação social
lidam com este processo eleitoral, dando mais tempo ao partido no poder e
querendo dar mais tempo a esta coligação [CASA-CE], para criar perceções
erradas.»
«Compreendo o mal-estar da UNITA», contrapõe Paulo
Inglês, e embora reconheça que «o modo como o questionário está elaborado»
possa «induzir certo tipo de resposta», não acredita que «os responsáveis
diretos da sondagem tivessem tido alguma intenção de manipular, como a UNITA
inventou, ou que o estudo tivesse sido pago pelo MPLA. Não creio que o centro
de sondagens da Universidade Católica teria entrado nesse jogo, seria arriscar
demais o seu prestígio para ganhar tão pouco».Manuel Fragata de Morais, veterano deputado do
MPLA, também menorizou o resultado da sondagem, mostrando-se tranquilo com o
que irá acontecer a 23 de agosto. «Nós não temos ainda a tecnologia para ter
sondagens que possam refletir... Se as sondagens nos EUA não querem dizer
muito, quanto mais aqui».Não acredita que o MPLA terá menos de 50% dos
votos? «De maneira nenhuma, isso eu garanto-lhe», afirma o deputado. «Existe a
confiança na vitória do MPLA, pode ser que não seja aquela antiga, dos 70 e
tais por cento, mas para cima de 60%, isso eu garanto», sublinhou. «Estou
confiante, a partir de dados que nós temos», disse, com base nas pesquisas
internas do próprio MPLA.
Segundo o deputado, nas informações recolhidas pelo
MPLA, a CASA-CE não surge em segundo nas intenções de voto, mas «aparece a ter
um desenvolvimento um pouco melhor do que tiveram no passado, sobretudo aqui a
nível de Luanda». No entanto, faz o reparo, «isso da CASA-CE ser a segunda ou a
UNITA ser a segunda não nos interessa absolutamente nada, até porque é farinha
do mesmo saco».
Também no lado da CASA-CE, não se acredita muito na
sondagem, mas por razões contrárias. Félix Miranda, secretário nacional para a
comunicação da coligação e da campanha, acha que os números ainda ficam aquém e
que terão mais votos do que a sondagem demonstra.
«É um bocado difícil fazer um comentário a esse
tipo de sondagem porque Angola não se presta a esse exercício - há muito medo,
ainda estamos na cultura da repressão, as pessoas têm dificuldade em se
pronunciar», disse. «Se for fazer um tipo de sondagem anónima, vai ver que a
CASA-CE está em cima», acrescentou Félix Miranda.
Paulo Inglês, na sua interpretação dos resultados
do follow up, sublinha que, neste momento, há «quase um empate técnico entre o
MPLA e a CASA-CE», a coligação liderada por Abel Chivukuvuku. Este antigo
dirigente da UNITA que disputou por duas vezes a liderança a Isaías Samakuva e
perdeu, antes de se cansar e bater com a porta, formou uma coligação de
pequenos partidos que foi a votos em 2012 e elegeu oito deputados, transformando-se
na terceira maior força política angolana.
Miguel Gomes, assessor de comunicação da
organização não governamental ADRA, ex-jornalista e observador atento da
realidade angolana, acredita que o resultado do MPLA possa ser inferior a 50%,
no entanto, espera mais um «resultado à volta dos 50-55%. Acima disso será uma
surpresa para mim. Uma maioria bastante qualificada levantará dúvidas sobre a
lisura do processo.»
Paulo Inglês estava à espera até que a sondagem
desse ao MPLA menos do que aquilo que acabou por ter. «Apesar da situação do
país e das críticas» é para ele surpreendente «o MPLA ter ainda muita
aderência, especialmente nos seus comícios». Será a rational choice, como lhe
chamam os sociólogos, pergunta-se. «Algumas pessoas fazem contas à vida e acham
que, apesar de tudo, nunca estiveram melhores do que entre 2002 e 2015».
Depois, «também há o fator medo, claro» e «a esperança de que o problema era
José Eduardo dos Santos e que com o João Lourenço será diferente».
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