Ivone Soares, deputada pela bancada parlamentar da Renamo na Assembleia da
República, considera que, com a provação do pacote eleitoral, não há mais
motivos para se continuar a ouvir tiros no país. A também presidente da Liga da
Juventude do partido de Afonso Dhlakama, diz não compreender os contínuos
confrontos militares porque a Renamo, que foi proponente das negociações,
conseguiu a revisão do pacote eleitoral, que considera ser um dos quatro pontos
mais sensíveis do conjunto das reivindicações desta formação política.“Com a
porta de diálogo que está já aberta, há toda a possibilidade de se encontrar
consensos. O calcanhar de Aquiles que existia entre os quatro pontos, que
levaram o Governo e a Renamo à mesa de diálogo, foi, primeiro, o pacote
legislativo eleitoral. Senti-me extremamente satisfeita quando vi que este
ponto, o mais sensível, já era consensual. Não há motivo de continuarmos a
ouvir som das armas; não há motivos para ouvirmos que a população está
deslocada das suas zonas devido a este conflito militar”, disse. Relativamente
aos outros três pontos, nomeadamente a desmilitarização; o desarmamento dos
homens da Renamo; e a revisão da política nacional de defesa e segurança, Ivone
Soares diz que, não sendo assuntos novos, acredita também ser possível
entendimento à volta dos mesmos.“Acredito ser possível que as duas partes
cheguem a entendimento. Se conseguiram numa matéria muito sensível que era o
pacote eleitoral, não acredito que seja difícil se chegar a consenso nestas
matérias”, acrescentou. Em jeito de apelo, a jovem deputada exortou as partes
para que ponderem sobre o que é importante a bem do país, dos moçambicanos, dos
jovens, idosos e das crianças.“Não acredito que haja alguém interessado na
guerra neste país, porque ela só vai retroceder ainda mais aquilo que são as
expectativas de todos nós, como moçambicanos, de podermos circular pelo país
inteiro sem obstáculos, termos a possibilidade de estudar, de ter emprego, de
construir as nossas habitações e de prosperar e formar famílias, que é o sonho
de qualquer jovem”, disse a dirigente da Liga da Juventude da Renamo. Para que este sonho seja realizado é necessário, segundo a nossa entrevistada,
que haja paz.“Não pode haver situações em que o exército esteja em confronto
com guardas da Renamo.
Que se revisite o que tem de ser revisitado, que se
façam as cedências naquilo que é possível fazer e que naturalmente possamos
encontrar consensos. A palavra de ordem que gostaria de deixar é a busca
incessante de consensos, porque na medição de forças, vamos acabar colocando os
desfavorecidos numa situação mais crítica”, lamentou Ivone Soares.Questionada
sobre o que leva a Renamo a protagonizar ataques armados, numa altura em que
está em diálogo com o Governo, a nossa interlocutora afirmou que isso se devia
a falhas de estratégia de comunicação no Centro de Conferências Joaquim
Chissano, local onde decorre o diálogo. “As partes não estão a se entender.
Ninguém entende o outro. Se estivessem a escutar o que cada um diz, certamente
haveria diálogo produtivo. Quando há posições extremadas fica difícil haver
consensos”, considerou. Sobre a possibilidade de os ataques da Renamo contra
alvos civis e militares serem uma medida de pressão para conseguir ganhos na
mesa de diálogo com o Governo, Ivone Soares foi categórica: “sempre que
possível, acho que devíamo-nos empenhar no uso de todos os recursos
(pacíficos), e a guerra ser a última alternativa porque não só semeia luto,
dor, incertezas quanto ao futuro, como acaba criando feridas, deixa mágoas,
ressentimentos e marcas profundas. Sempre que for possível encontrar outras
formas mais criativas de criar consensos, de ultrapassar qualquer querela,
temos usá-las, sempre com a paciência, até esgotarmos todas as formas de
resolução dos problemas.
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