Um dos grandes desafios da política sul-africana é como oferecer uma oposição minimamente séria ao Congresso Nacional Africano (CNA), a colossal máquina política que há 16 anos governa o país. É consenso que o maior país do continente jamais será uma democracia genuína enquanto a oposição for incapaz de constranger o governo. Um passo para o fortalecimento da oposição foi dado. Foi anunciada a fusão da Aliança Democrática, o segundo maior partido do país (e maior de oposição), e dos Democratas Independentes, uma agremiação nanica, mas com alguma força entre os chamados “coloureds”, os mestiços, que perfazem 10% da população.Um passo tímido, sem dúvida, mas animador para a oposição. Os Democratas Independentes são uma espécie de PSOL sul-africano, fazendo uma estridente defesa da ética na política. Já a Aliança Democrática tem força na província de Cabo Ocidental, cuja capital é a Cidade do Cabo. Helen Zille, sua líder, é também governadora dessa região. É uma mulher, e branca, o que por um lado é saudável por mostrar diversidade étnica, política e de gênero na patriarcal democracia sul-africana. Por outro, torna a oposição sul-africana alvo fácil da acusação de que é um brinquedo de saudosistas do apartheid contra o governo (majoritariamente formado por negros) do Congresso Nacional Africano. Não há alternativa para a oposição a não ser se juntar contra o inimigo comum. O governo hoje é um monstrengo contaminado por clientelismo, corrupção e ineficiência, sintomas típicos de quem não tem que se preocupar em perder eleições. Uma olhada nos números mostra uma situação desanimadora para a oposição. A Aliança Democrática teve 16,66% dos votos na eleição do ano passado, distante, muito distante dos 65,90% do Congresso Nacional Africano. Números que, na verdade, foram comemorados pela oposição, que esperava resultado ainda pior. Já os Democratas Independentes ficaram com mísero 0,92% da votação. O domínio do CNA é fácil de entender. É o partido que liderou a luta contra o apartheid. É o partido de Nelson Mandela. É um partido que trouxe melhorias palpáveis à população, sem dúvida, principalmente na habitação popular e urbanização de favelas. Por esses motivos e outros, conta com uma fiel legião de eleitores. O que fazer agora? O próximo passo agora seria a oposição abocanhar o Congresso do Povo (Cope), um partido que se descolou do CNA na última eleição, mas que desde então perdeu-se em uma bizarra disputa interna. O Cope obteve 7,42% dos votos em 2009, mas poderia oferecer à oposição um rosto mais, digamos, “negro”. Na racializada política sul-africana, partidos ainda são definidos pela cor da pele dos seus líderes. Mesmo com uma oposição unida, não é realista uma mudança de governo na África do Sul na próxima eleição, em 2014. Nem na próxima década. A democracia no maior país do continente ainda evolui de forma lenta, muito lenta. (Escrito por Fábio Zanini).
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