Júlio Mendes é professor de História no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED), uma unidade orgânica da Universidade Agostinho Neto, essencialmente virada para à formação de professores providos de uma formação científica, cultural e técnica de nível superior. Concedeu um entrevista muito actual e que ajuda a perceber o continente africano e os seus povos.
Sente-se mal ao recomendar aos seus alunos bibliografia sobre a história de África produzida por não africanos?
A minha grande dificuldade com os estudantes é que existe muito material sobre história de África, produzido tanto por africanos como por europeus que, pura e simplesmente, não existe no mercado nacional. Temos de recorrer a fontes de fora. As bibliotecas das universidades também têm essa lacuna, em termos de material sobre a história de África. Outra grande dificuldade dos estudantes da universidade é o domínio de línguas estrangeiras. Há muita literatura sobre a história de África que está publicada em francês e em inglês . A África francófona e a anglófona produziram muita coisa,
O que leva as elites africanas a não massificar a formação, é só a manutenção do poder ou haverá aí resquícios de uma cultura colonial assimilada?
Também tem muito a ver com a própria colonização, porque a maior parte das elites colonizadas não conseguiram fazer uma ruptura com o passado colonial. Apesar de terem combatido a colonização, não fizeram essa ruptura tão importante para virar a marcha do desenvolvimento dos seus próprios países. Verificamos, então, uma série de chagas, de problemas.
Acharam-se herdeiros dos processos da administração colonial?
É isso mesmo. Não fizeram a necessária ruptura com os processos da administração colonial.
Há, portanto, ainda, uma necessidade de regresso à africanização ?
Exactamente. É preciso regressar à história, é preciso divulgar ainda mais a própria história de África, a história dos países, em particular, para que as elites que se vão sucedendo nas diferentes instituições possam utilizar a história como fonte de inspiração para o novo desenvolvimento africano.
Esta entrevista com o professor de História do ISCED, Dr. Júlio Mendes Lopes que pode ler na íntegra aqui.
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