terça-feira, agosto 31, 2010

Desastre

Tive acesso, recentemente, a um relatório da Iniciativa de Monitoria da Governação Local, um interessante trabalho de verificação do que se faz (ou não faz) e de como se faz em termos de governação em alguns distritos e municípios ao longo de todo o país. Para o relatório referente a 2009 foram escolhidos os distritos de Bilene, Mabalane, Buzi, Cheringoma, Chiúre e Montepuez e os municípios de Manjacaze, Marromeu e Mocímboa da Praia. São muitos os aspectos que este relatório aponta mas há um que particularmente me preocupa: a qualidade das obras que vão sendo realizadas. A avaliar pelo documento, um verdadeiro desastre a nível nacional. Mas eu cito:
BILENE - Na altura em que decorreu a monitoria no terreno, os 24 km de valas de drenagem reabilitados em Mangol, Manzir, Magul e Chichango já estavam cobertos de capim. A reabilitação do edifício onde funciona o Serviço Distrital da Saúde, Mulher e Acção Social é uma obra em curso, mas já com algumas imperfeições, tais como rachas nas paredes. Mesmo assim, o edifício está a ser pintado. O tecto falso já apresentava sinais de infiltração de águas pluviais pois trocaram o tecto falso sem substituir as chapas. Problema similar acontece com as portas, que estavam já pintadas mas com sinais claros de que precisavam de uma restauração antes, dado o seu nível de degradação.
MABALANE - As 7 salas de aulas recentemente construídas e concluídas com material convencional nas escolas de Mabomo e Combomune-estação, já apresentavam algumas rachas nas paredes e no soalho. (...)Na altura em que decorreu o trabalho de campo, a represa do Posto Administrativo de Combomune, obra orçada em 1 632 000,00Mt (um milhão seiscentos e trinta e dois mil meticais) estava paralisada porque foi abandonada pelo empreiteiro ainda na fase inicial, depois deste ter recebido o valor total para a construção deste empreendimento.
BUZI - O tanque carracicida de Cherimónio, que foi reabilitado em 2009, já não funciona devido a uma avaria na bomba de água que o acompanha. Segundo informações colhidas no local, esta avaria tem outras implicações na vida da população, uma vez que a bomba abastecia aquela localidade e as circunvizinhas.
CHERINGOMA - A construção de 10 salas de aulas com material convencional, uma obra iniciada em 2007, ainda não foi concluída e, mesmo assim, grande parte delas já apresenta problemas de qualidade, tais como, rachas nas paredes (EPC de Mazamba), aros de portas e janelas demasiado pequenas, pavimentos mal feitos (EP1 Paulo Samuel Kankhomba, na vila sede).
CHIURE - , a secretaria do Posto Administrativo de Katapua, obra recentemente construída, já apresentava rachas nas paredes assim como no soalho e verificava-se infiltração de águas pluviais. A cobertura também apresenta imperfeições, na medida em que foi colocado um tecto falso que está colado às chapas acompanhando, portanto, o caimento daquelas.
MONTEPUEZ - Na ponte sobre o rio Chitope, no posto administrativo de Mirate, obra concluída recentemente, embora ainda não tenha sido entregue oficialmente às autoridades competentes, um dos pilares já estava a ruir. Por outro lado, já tem rachas e o prolongamento da ponte na estrada foi feito com material local, diferentemente das pontes sobre o rio Mehupua no troço de Mapupulo a N´ropa, cujo prolongamento foi feito com pedras e betão.
MANJACAZE - Embora reabilitada em 2009, a bomba de água do Centro de Saúde da vila-sede, já não estava em funcionamento na altura em que decorreu a monitoria no terreno.
MARROMEU - O mercado Keneth Kaunda, um empreendimento recentemente concluído, já apresentava fendas nas paredes e o soalho tinha muitas cavidades. As valas de drenagem que beneficiaram de uma limpeza geral já se encontravam entupidas, dificultando o escoamento das águas. 2 das 3 pontecas reabilitadas já se encontravam em desuso para as viaturas devido aos buracos enormes que apresentam.
MOCIMBOA DA PRAIA - foram reabilitadas 7 fontes de água. Todavia, na altura em que decorreu o trabalho de campo, algumas delas já não funcionavam (Nanduádua e Unidade) e outras ainda não haviam sido entregues às autoridades competentes (Buji e Pamunda).
O leitor pode pensar que andei a seleccionar os bocados que transcrevi, as poucas coisas que correram mal no meio das muitas que correram bem. Infelizmente está enganado. Estes pedaços pertencem à regra geral, não são excepções.
E isto quer dizer que rios do nosso dinheiro estão a ser esbanjados em obras que não servem para melhorar a vida dos moçambicanos. Servem apenas para enriquecer empreiteiros desonestos e quem lhes atribuiu as obras e não fez esforço nenhum para controlar a qualidade das obras. E se estes exemplos foram tirados de obras escolhidas, ao acaso, em todo o país, podemos inferir que é isto que está a acontecer em todo o território nacional. Quanto a mim é um desastre de enormes dimensões. (Machado da Graça/ Semanário SAVANA)

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