Juro por tudo, não queria tratar este assunto. Até já tinha uma crónica prontinha para o número de Janeiro, falando de coisas mais interessantes. Mas houve alteração de programa e pedem-me os editores para escrever sobre algo relevante que aconteceu este ano em Angola, a jeito de tiro final.
E sou obrigado a cometer o que recusava fazer: escrever sobre lambe-botas, atipicismos e outras esdruxulices que relampejaram nos calmos e previsíveis céus da política cá do burgo.
Há tentativas de revisão constitucional, comissão, metodologia e propostas para se conseguir obter nova lei magna. Parece ser desperdício de tempo e talentos. Para alguns será sempre um ganho, atirando algumas questões importantes para mais longe, mas a insinuação vem de maldade minha, concedo.
Só num aspecto me parece útil, e diz mesmo respeito ao sistema do poder: se acabarem com o dito semi-presidencialismo, fico contente. Porque essa invenção francesa, talvez sirva para eles, que sempre foram de andar entre o peixe e a carne. Os portugueses imitaram-nos e também não se sentem confortáveis com o sistema, embora nem ousem dizê-lo em voz alta. Os europeus têm suas idiossincrasias que devemos respeitar. Mas já o Presidente de São Tomé e Príncipe veio muito acertadamente reconhecer que a principal causa de instabilidade política do seu país tem a ver com o regime semi-presidencialista.
Para o resto, não vejo utilidade de tanto dinheiro gasto para se mudar uma lei. Ainda por cima se não se respeita a metodologia adoptada para o fazer. Muito provavelmente, só o peixe miúdo vai apanhar com essas regras em cima e forçado a obedecer, pois os graúdos passarão por cima dela com 4x4 de luxo.
Afirmo, fazendo chover mais no molhado, um partido mudando à última hora a proposta que todos os seus membros defendiam a golpe de catana se necessário fosse, presumivelmente estará a jogar contra os regulamentos. Se fosse um cabulas qualquer a tentar jogar em fora de jogo, logo o árbitro lhe dava cartão vermelho. No entanto, a Constituição que vai ser mudada nunca foi cumprida, o semi-presidencialismo idem, quem duvida?
Mas o espantoso não é isso, estamos habituados a que não se respeite metodologias e acordos passados; o espantoso é que bastou o chefe dizer que talvez tivesse outra ideia para todos declararem que nunca estiveram de acordo com a proposta apresentada com fanfarra e fogo-de-artifício, para se arregimentarem militante e agressivamente atrás da palavra do chefe. E lá vimos os mesmos de sempre a argumentar convictamente sobre a perspicácia, a ousadia intelectual, a inovação, etc. (já se conhecem os encómios dos discursos de fim de ano ou de aniversário)...
O lambe-botismo de alguns políticos e comentadores raia a sem-vergonhice mesmo. Estão lá só para cantar angélicas melodias aos ouvidos de quem manda e apanhar as migalhas. O problema é que de tanto lamber botas os responsáveis menores e intelectuais de plantão já têm a língua áspera como lixa. De onde se conclui que o melhor militante é o que tem língua de gato. Por isso, a entrada para um próximo congresso será a aspereza da língua.
Certamente 2010 trará novas surpresas. É a nossa idiossincrasia. Por isso deve haver presidencialismo puro e duro, sem atipicismos moderadores, ou sim ou sopas, ou carne ou peixe, abaixo o semi! A propósito, só uma dúvida: bacalhau é mesmo peixe? É que se aproxima o natal e nós comemos bacalhau com vinho tinto, como se de carne se tratasse. Perplexidades típicas de afrancesados! (texto do escritor angolano PEPETELA publicado no angolabela.com)
Há tentativas de revisão constitucional, comissão, metodologia e propostas para se conseguir obter nova lei magna. Parece ser desperdício de tempo e talentos. Para alguns será sempre um ganho, atirando algumas questões importantes para mais longe, mas a insinuação vem de maldade minha, concedo.
Só num aspecto me parece útil, e diz mesmo respeito ao sistema do poder: se acabarem com o dito semi-presidencialismo, fico contente. Porque essa invenção francesa, talvez sirva para eles, que sempre foram de andar entre o peixe e a carne. Os portugueses imitaram-nos e também não se sentem confortáveis com o sistema, embora nem ousem dizê-lo em voz alta. Os europeus têm suas idiossincrasias que devemos respeitar. Mas já o Presidente de São Tomé e Príncipe veio muito acertadamente reconhecer que a principal causa de instabilidade política do seu país tem a ver com o regime semi-presidencialista.
Para o resto, não vejo utilidade de tanto dinheiro gasto para se mudar uma lei. Ainda por cima se não se respeita a metodologia adoptada para o fazer. Muito provavelmente, só o peixe miúdo vai apanhar com essas regras em cima e forçado a obedecer, pois os graúdos passarão por cima dela com 4x4 de luxo.
Afirmo, fazendo chover mais no molhado, um partido mudando à última hora a proposta que todos os seus membros defendiam a golpe de catana se necessário fosse, presumivelmente estará a jogar contra os regulamentos. Se fosse um cabulas qualquer a tentar jogar em fora de jogo, logo o árbitro lhe dava cartão vermelho. No entanto, a Constituição que vai ser mudada nunca foi cumprida, o semi-presidencialismo idem, quem duvida?
Mas o espantoso não é isso, estamos habituados a que não se respeite metodologias e acordos passados; o espantoso é que bastou o chefe dizer que talvez tivesse outra ideia para todos declararem que nunca estiveram de acordo com a proposta apresentada com fanfarra e fogo-de-artifício, para se arregimentarem militante e agressivamente atrás da palavra do chefe. E lá vimos os mesmos de sempre a argumentar convictamente sobre a perspicácia, a ousadia intelectual, a inovação, etc. (já se conhecem os encómios dos discursos de fim de ano ou de aniversário)...
O lambe-botismo de alguns políticos e comentadores raia a sem-vergonhice mesmo. Estão lá só para cantar angélicas melodias aos ouvidos de quem manda e apanhar as migalhas. O problema é que de tanto lamber botas os responsáveis menores e intelectuais de plantão já têm a língua áspera como lixa. De onde se conclui que o melhor militante é o que tem língua de gato. Por isso, a entrada para um próximo congresso será a aspereza da língua.
Certamente 2010 trará novas surpresas. É a nossa idiossincrasia. Por isso deve haver presidencialismo puro e duro, sem atipicismos moderadores, ou sim ou sopas, ou carne ou peixe, abaixo o semi! A propósito, só uma dúvida: bacalhau é mesmo peixe? É que se aproxima o natal e nós comemos bacalhau com vinho tinto, como se de carne se tratasse. Perplexidades típicas de afrancesados! (texto do escritor angolano PEPETELA publicado no angolabela.com)
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