O sector privado em Moçambique sugere que o Banco
Central introduza câmbios administrativos para facilitar a aquisição de divisas
para o financiamento das importações de factores de produção e bens
essenciais.A medida, de carácter transitório, poderia ajudar a fazer face a
actual conjuntura caracterizada pela contínua depreciação da moeda nacional, em
relação ao dólar norte-americano. No último dia de Outubro, a paridade
metical/dólar no mercado cambial interbancário foi de 42,01, o correspondente a
uma depreciação anual do metical de 35,95 por cento.Este apelo lançado esta
quarta-feira, em Maputo, pela Confederação das Associações Económicas de
Moçambique (CTA), surge numa altura em que o Banco de Moçambique acaba de
anunciar o agravamento, pelo segundo mês consecutivo, da taxa de juro da
facilidade permanente de cedência de liquidez, fixando desta vez, em 8,25 por
cento.O sector privado sugere igualmente ao Governo que inclua medidas
específicas e transitórias no Plano Económico e Social, bem como no Orçamento
do Estado para 2016 e incentivar o sector produtivo e minimizar-se os efeitos
negativos da actual conjuntura económica.“Neste contexto, a CTA incentiva o
Governo a avaliar a reorientação dos subsídios, focalizando-os na produção,
como medida transitória; e a considerar a possibilidade de rever os contratos
de fornecimento de bens e serviços, com forte componente de importação, pelo
sector privado”, disse Rogério Samo Gudo, vice-presidente da agremiação, citado
hoje pelo “Notícias”.A fonte, que falava durante uma conferência de imprensa,
recomendou também aos empresários e homens de negócios a agir com maior
prudência nas suas decisões para o exercício económico de 2016, dando enfoque à
produção doméstica e ao uso de matérias-primas locais.“A CTA, como
representante do sector privado empresarial, estará sempre disponível para
apoiar o empresariado a estabelecer sinergias e ligações empresariais que
possam reduzir a exposição às flutuações cambiais em relação à taxa de câmbio”,
disse.Na ocasião, Rogério Samo Gudo frisou ainda que o recente incremento das
taxas de juro de referência pelo Banco de Moçambique terão um impacto negativo
no sector privado, agravando o seu endividamento no sistema bancário que, no
primeiro semestre, se situou em 203.087,4 milhões de meticais (4.491.600
dólares norte-americanos).Segundo ele, o impacto negativo terá maior peso nos
sectores mais endividados, nomeadamente a indústria, com 11,46 por cento;
construção e obras públicas, com 7.66 por cento e transportes e comunicações
com 6.65 por cento.“Mesmo nas linhas especiais de crédito à agricultura, o
custo do dinheiro irá aumentar, dado que a taxa de juro de empréstimo tem como
base a Facilidade Permanente de Cedência (FPC) que aumentou de 7.75 por cento
para 8.25 por cento”, afirmou.Estas medidas, combinadas com o efeito de
depreciação cambial, segundo sustentou, resultarão num cenário cada vez mais
sombrio.“A título de exemplo, o endividamento privado externo das empresas da
agro-indústria, indústria e telecomunicações cresceu em 2014, passando a
totalizar uma dívida externa de 64 milhões de dólares norte-americanos no início
de 2015. Isso significa que em meticais este endividamento aumentou em 50 por
cento devido à depreciação do metical”, afirmou Samo Gudo.
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