O resultado das análises
laboratoriais às amostras do pombe, bebida de fermentação caseira que, em
Janeiro último, vitimou 75 pessoas de um universo de 265 que a consumiram na
localidade de Chitima, província central de Tete, concluiu tratar-se de uma
intoxicação bacteriana e não envenenamento.O laboratório dos Estados Unidos da
América (EUA) identificou nas amostras do pombe e da farinha de milho usada
para a sua confecção a presença das potentes toxinas ácido “bongkrequico” e
'toxoflavina'. Na amostra de milho deteriorado foi também confirmada a presença
da bactéria “burkholderia gladioli”, microrganismo responsável pela produção
das toxinas.A conclusão encerra e esclarece as dúvidas e suspeitas surgidas
aquando do trágico episódio sucedido no vilarejo de Chitima que chocou o país
inteiro, tanto pela forma como pelo número de vítimas, na sua maioria do sexo
feminino, que pereceram na sequência do consumo.O director do Instituto
Nacional de Saúde (INS), Ilesh Jani, que apresentou, em conferência de
imprensa, havida hoje em Maputo, o resultado do trabalho iniciado logo a seguir
a tragédia, disse que a análise identificou um toxico compatível com a
sintomalogia apresentada pelos 232 pacientes que adoeceram e deram entrada no centro
do saúde local (Chitima).Os sintomas e sinais mais frequentes nas primeiras 24
horas foram dor abdominal, náuseas e vómitos. Foram também reportados sintomas
de fraqueza, palpitações e vertigens, seguindo-se de acometimento neurológico
após um período de, em média, 24 horas.“Os casos e óbitos ocorridos em Chitima
resultaram de intoxicação por consumo de bebida tradicional pombe que, no
processo de fabrico, foi usada farinha de milho contaminada por uma bactéria
produtora de toxinas e imprópria ao consumo, muito menos para a confecção deste
pombe”, explicou Jani. Segundo a fonte, as pesquisas laboratoriais detectaram a
bactéria relativamente rara, e muito pouco se sabe sobre a sua epidemiologia e
ecologia no continente africano, daí que não houve, a partida, quaisquer
suspeitas sobre a mesma e as respectivas toxinas no início das análises.
O
director do INS disse, por outro lado, que a bactéria tem a particularidade de
viver em ambientes de fermentação que a estimulam a produzir as toxinas e o
meio de fabrico de pombe é muito favorável e adequado para a bactéria produzir
as toxinas. Jani apontou, a título de exemplo, países do continente asiático
como a China e a Indonésia, onde existem casos bem documentados de intoxicação
na sequência da ingestão de alimentos que passam pelo processo de fermentação e
esses eventos serviram de modelo para estudar bem essa bactéria.O processo de
fabrico do pombe obedece diversas etapas durante vários dias, em que há
constantes adições de farinha. Porém, não se sabe em qual das etapas a farinha
contaminada teria sido adicionada. Aliás, fases existem no processo de fabrico
da bebida em que ela já não é fervida podendo, por conseguinte, ser nessa
altura que a bactéria presente na farinha não foi destruída na fervura ao lume.
A fonte, que não revelou os montantes aplicados nas pesquisas laboratoriais,
que além do país envolveram parceiros da África do Sul, Portugal e Estados
Unidos da América, disse que o laboratório que detectou a bactéria é de muita
confiança, de alta reputação com tecnologia, metodologia e com recursos humanos
do mais qualificado que existe.Ilesh Jani disse igualmente tratar-se de uma
entidade especializada em toxicologia forense até porque é mais especializada
que alguns dos laboratórios que trabalharam na pesquisa.
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