As raparigas de Nampula descobriram uma nova maneira de ganhar a vida sem recorrer a actos tidos como estando à margem da moral e do bom senso, como é o caso da prostituição infantil, que é deveras frequente nesta cidade. Lavam carros em diversas esquinas da cidade para pagar propinas nas escolas que frequentam, com a esperança de um dia mudarem de vida. O fenómeno é de certa maneira novo, pelo menos a nível da chamada capital do norte, a cidade de Nampula. Raparigas nas idades compreendidas entre onze e dezasseis anos, descobriram uma actividade rentável com vista a melhorar as suas condições de vida. Trata-se de limpeza de viaturas que estacionam em locais públicos, na sua maioria em hotéis, centros comerciais e até mercados. O exemplo está num grupo de três raparigas, nomeadamente Memuna, Maria e Bety, que junto, às bermas do Hotel Girassol, se dedicam à limpeza de carros para ganhar dinheiro. A priori recusaram-se a dar a cara, mas depois de muita insistência da nossa parte cederam e logo foram avisando: “não aceitamos que nos tirem fotos, porque estudamos e nossos colegas vão se rir de nós”. Em conversa tímida, Memuna, a mais velha das três jovens, com apenas dezasseis anos, foi aos poucos nos revelando de onde surge a ideia. “Lá no bairro (Namicopo) muitos dos nossos amigos saem todos os dias de manhã e regressam à noite com muito dinheiro” disse para depois prosseguir, “eu, por exemplo, ando na sexta classe e o senhor professor pediu-me setecentos meticais para passar de classe e como não tinha, os meus amigos, que frequentam aqui, convidaram-me também a ganhar dinheiro”. Conta Memuna que “durante a primeira semana tive muitas dificuldades, pois ninguém aceitava que eu lhe limpasse o carro, mas depois as coisas foram mudando e melhorando” e “agora consigo, numa noite, entre duzentos e trezentos meticais”. Esta nossa fonte defende que não pode se dar ao luxo de ir ali de dia “porque as pessoas ver-me-ão, como disse anteriormente, e rir-se-ão de mim”. Esta posição manifestada por Memuna é igualmente partilhada pelas suas companheiras que avançaram um dado importante: “nós somente vivemos com nossas mães, que dão o seu máximo para cultivar comida e também ajudamos desta maneira”. As meninas dizem ter começado a batalha no meio de muitas dificuldades e a primordial foi pagar aos seus professores a fim de transitarem de classe, necessidade que ficou satisfeita em menos de uma semana. “Nós não tínhamos como pagar os professores para passarmos de classe e também não queremos ser como as outras raparigas que preferem prostituir-se para ganhar dinheiro, quando muito bem podem conseguir o que querem, vivendo de forma honesta”, desabafaram para quem esta vida compensa. “Não vamos deixar este serviço porque ganhamos dinheiro”. (Aunício da Silva)
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