segunda-feira, novembro 15, 2010

No meio dos medrosos...um com fibra!

”Numa outra carta, denominada “Notificação LMF”, Arnaldo Salvado responde à notificação da Liga Moçambicana de Futebol, no âmbito do processo aberto contra si, na sequência das declarações proferidas após o desafio do Maxaquene contra o Ferroviário da Beira, realizado na Beira, a 17 de Outubro último. Salvado disse, naquele dia, que “o sr. João Armando é um dos árbitros mais corruptos do nosso futebol”. A carta tem a data de 3 de Novembro em curso. Salvado assume “sempre com frontalidade o que em sã consciência penso, digo e faço, com convicção e sem subterfúgios”. Mais: diz que sem necessidade de que “me apresentem as gravações das minhas declarações, confirmo e reafirmo o que entre várias coisas disse nessa ocasião:

1. O Sr. João Armando é um dos árbitros mais corruptos do nosso futebol.

2. O responsável deste estado crítico na nossa arbitragem e, portanto, conivente com essas situações é o Sr. Venildo Mussane, presidente da CNAF.

3. Existe um grupo bem considerável de árbitros que pertencem ao sistema de viciação de resultados, adulterando campeonatos e que se subjugam aos poderosos que querem manter esse mesmo sistema.

Disse que quando era treinador no Costa do Sol, em 2005 e 2006, clube de que João Armando é adepto, “sempre que era nomeado para jogos do Costa do Sol, ainda antes de se tornarem públicas as nomeações, aparecia no clube a informar que era ele o árbitro e a solicitar valores que, entretanto, nunca lhe foram dados, pois o Sr. Rui Tadeu, director do clube, sempre foi contra esses actos. Poderão comprovar essas afirmações os senhores Garrincha e Loforte, na altura funcionários do clube, no departamento de futebol”. Relativamente ao jogo da Beira, aquele árbitro e o seu auxiliar, o Sr. Júlio Muianga, fizeram, sábado à noite, vários telefonemas e enviaram mensagens para o celular número 826384320, pertencente a um membro do Conselho de Sócios do Maxaquene, conhecido por “Gémeo”, informando que estavam muito mal instalados; se o Maxaquene não lhes poderia arranjar condições para melhor alojamento e, ainda, se não haveria valores a receber para facilitar o jogo na Beira, solicitando ainda que esses valores fossem pagos antecipadamente, o que, logicamente, não aconteceu, pois “o Clube de Desportos da Maxaquene não faz uso destes esquemas e, aliás, só tem a reclamar este ano contra arbitragens tendenciosas contra o clube ao longo de toda a prova, não havendo nenhum jogo em que qualquer adversário tenha posto em causa favores feitos ao Maxaquene para vencer”. Acusa ainda João Armando de ter atribuído cartões amarelo (o quinto) e vermelho a Tony e Campira, respectivamente, “jogadores preponderantes”, em lances duvidosos, para não poderem jogar contra a Liga Muçulmana. “Sei que tudo o que mencionei atrás sobre esse senhor, bem como qualquer comprovação por parte de testemunhas por mim relatadas será sempre um caso em que é a minha palavra contra a dele. No entanto, penso poder haver provas comprovativas dos telefonemas e mensagens que este senhor e o seu auxiliar fizeram para o número do celular por mim indicado, se se pedir à operadora mcel a possibilidade de se fazerem escutas às gravações existentes na operadora nesses dias específicos para esse número”. Salvado nega ter chamando corrupto ao Sr. Venildo Mussane. “Disse, sim, que ele é o responsável por este estado de situação da arbitragem, pois ele é o presidente da Comissão Nacional de Árbitros de Futebol e conhece perfeitamente todos os seus filiados, sendo ele o responsável pelas suas nomeações, o que o torna conivente com o processo”, reitera salvado, explicando que Venildo Mussane age de forma pouco ética, aceitando “nomeações encomendadas por certos dirigentes dos clubes”, colocando árbitros em certos jogos, conforme o interesse de certos clubes. “Comprovo isso, pois, tendo eu sido treinador ano passado do Atlético Muçulmano, sempre era informado pelo presidente do clube sobre os árbitros que actuariam nos jogos do clube, antes ainda de saírem as suas nomeações, isto a pedido dele. Se com esse presidente isso ocorria e o Atlético Muçulmano é um clube com pouco poder financeiro, não é de duvidar que o mesmo aconteça com outros clubes de maior poder financeiro”. Ainda sobre o Sr. Venildo Mussane, “não fui eu que o acusei, nem fui eu que o castiguei com a pena de dois anos de suspensão como árbitro, por suposta corrupção em jogo das competições internacionais de clubes, em Angola. Foi a CAF”. Arnaldo diz ser estranho que estando a Liga Moçambicana de Futebol interessada em defender o brilho da prova “não tenha chamado a depor para esclarecimentos os senhores Abdul Gani e Pascoal Loforte, que abandonaram a arbitragem, e a própria Comissão de Arbitragem, tendo até dado entrevistas aos jornais com conteúdos bastante polémicos e reveladores da podridão que nesse seio existe”. Quanto ao terceiro ponto, acrescenta, “penso que, pelo que atrás mencionei, está mais que evidente que o sistema de corrupção existe na arbitragem e não é um caso isolado”. Provavelmente, continua, 80% deles (árbitros) não têm emprego fixo. Os seus prémios de jogo são muito baixos e as suas diárias aquando das deslocações são reduzidíssimas, o que os deixa numa situação bastante vulnerável e permissível de serem corrompidos “por quem tem dinheiro e não tem escrúpulos”. “Não acusei mais nenhum árbitro de corrupto na entrevista, mas, como exemplo, não fui eu que acusei, nem fui eu que castiguei o Sr. Arão Júnior com seis meses de suspensão por alegadamente ter solicitado valores ao treinador do Ferroviário da Beira, o Sr. João Almeida, antes de um jogo contra o Maxaquene. Foi o Conselho de Disciplina da Liga Moçambicana de Futebol. E isto é sintomático.

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