Parece
estar cada vez mais apertado o cerco para Armando Emílio Guebuza (1), ex-Presidente
da República, no que tange ao seu papel na contratação das “dívidas ocultas”,
no valor de 2.2 mil milhões de USD, que levaram o país à falência. Um dos detalhes que consta do Despacho de
Pronúncia exarado pela 6ª Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de
Maputo (TJCM) é referente a um correio electrónico enviado por Jean Boustani (3) à
arguida Maria Inês Moiane (2), Secretária particular de Armando Guebuza, durante os
10 anos em que este esteve na Presidência da República, com conhecimento do seu
filho, Armando Ndambi Guebuza, cujo destinatário era o então Chefe de Estado.
O
e-mail, enviado pelas 11:37 horas do dia 10 de Fevereiro de 2014 e transcrito
pelo Tribunal, dizia:
“Excelência Chefe,
Tivemos uma discussão de ideias sobre as
soluções imediatas para a Proindicus.
Podemos fazer um lobby (influenciar) com
ANADARKO e ENI e garantir os contratos. Não há absolutamente nenhuma
preocupação.
Mas, primeiro precisamos do seu
aconselhamento e instruções para os seguintes passos se forem apropriados:
1) Criar
uma filial da nossa empresa em Moçambique;
2) Criar
uma empresa conjunta entre a filial moçambicana e o SISE, onde este último será
o maior accionista;
3) Esta
empresa conjunta deve receber concessão EXCLUSIVA tanto do Conselho de
Ministros ou do Decreto Presidencial para gerir os activos da Proindicus e
providenciar serviços de protecção a todas as empresas (nacionais e
estrangeiras) em funcionamento em Moçambique.
Com esta solução, somos legalmente
“prova de bala”.
Como você nos instruiu, devemos agir
imediatamente.
Aguardamos as suas ordens
Melhores cumprimentos
Sandy & Jean”.
Entretanto,
o documento na posse da “Carta” não revela qual terá sido a resposta de Armando
Guebuza ao referido e-mail, da mesma forma como não apresenta a resposta dada
por Ndambi Guebuza ao banco sul-africano FNB, quando este questionou a
proveniência do valor, assim como da relação entre Ndambi Guebuza e Privinvest,
como condição para disponibilizar o dinheiro. De acordo com a acusação do Ministério
Público, Maria Inês Moiane, enquanto Secretária Particular do ex-Chefe de
Estado, preparou encontros entre o Presidente da República e dirigentes
seniores do Grupo Privinvest, com destaque para Jean Boustani e Iskandar Safa.
Nessa missão, revela o despacho do TJCM, a arguida recebeu e-mails de Jean
Boustani, incluindo o acima citado, com conhecimento de Ndambi Guebuza,
relacionados com os equipamentos a serem fornecidos pela Privinvest no âmbito
da implementação do Projecto de Protecção da Zona Económica Exclusiva com a
orientação de fazê-los chegar ao Presidente da República.
Aliás,
no e-mail enviado à arguida e transcrito pelo Tribunal, direccionado a Armando
Guebuza, Jean Boustani escreveu:
“Bom dia minha irmã. Por favor, passe para o
Chefe. Abraços e 100 beijos. Jean”.
Pelo trabalho, Inês Moiane recebeu da
Privinvest um valor total de 877.500 Euros, que aplicou na aquisição de
imóveis, que os passou para a gestão do irmão Elias Moiane, também arguido no
processo nº 18/2019-C. (Abílio Maolela)
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