sexta-feira, novembro 02, 2018

Procuradora Geral da República não recebeu Taipo


Imagem relacionadaHelena Taipo foi alcunhada “tsunami” pela forma implacável como dirigia o Ministério do Trabalho e entidades tuteladas, mas pode ter a sua reputação aniquilada caso se provem as suspeitas de corrupção que lhe são imputadas pelo Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC). A actual embaixadora de Moçambique em Angola está a ser investigada por ter supostamente recebido subornos de 100 milhões de meticais (cerca de USD1.7 milhões ao câmbio de 60 meticais) para favorecer empresas nos contratos com o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). Ao que o SAVANA apurou junto de fontes do GCCC foi notificada via Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, para responder sobre as suspeitas que recaem sobre ela. A notificação aconteceu dias depois de Helena Taipo ter formalmente entregue as cartas credenciais em Luanda ao Presidente de Angola, João Lourenço. Taipo foi ouvida esta semana, durante dois dias (segunda e terça-feira) no GCCC em Maputo. Estava acompanhado pelo esposo, Amade Chababe, um antigo craque de futebol do Grupo Desportivo de Maputo e da Selecção Nacional, bem como dos seus advogados. O jornal soube que logo que foi despoletado o assunto, Helena Taipo tentou um encontro com a Procuradora Geral da República, Beatriz Buchile, mas não foi recebida.
Imagem relacionadaA ex-governante terá alegadamente recebido os subornos, quando era ministra do Trabalho na administração Guebuza e nessa qualidade tutelava o INSS. Numa única conta terão sido depositados cerca de um milhão de dólares. Os valores eram depositados nas contadas tuteladas por Taipo. “Não havia nenhuma preocupação de ocultar, o que se sugere que tinha confiança a um outro nível”, frisou a mesma fonte. Durante as audições no GCCC, Taipo terá alegado que o dinheiro foi para financiar actividades eleitorais do partido Frelimo. Não é a primeira vez que surgem alegações de fundos de instituições públicas desviados para financiar actividades partidárias da Frelimo. Aquando do julgamento de Diodino Cambaza, ex PCA dos Aeroportos de Moçambique, este alegou que parte do dinheiro foi para a reabilitação da Escola Central da Frelimo na Matola e para “outros favores” ao partido no poder. Também durante a instrução do “Caso Embraer”, que envolve Mateus Zimba (ex-director da Sasol), Paulo Zucula (ex-ministro dos Transportes e Comunicações) e José Viegas (ex-PCA da LAM), surgiram indicações de que parte dos USD800 mil de subornos na compra das aeronaves foram para financiar actividades políticas do partido governamental, mas fontes do jornal garantem que, diferentemente dos outros casos, neste não se irá arrastar o nome da Frelimo para o processo uma vez que existem claras evidências de movimentações de contas privadas de dois dos envolvidos a partir das “luvas” recebidas da empresa brasileira. Uma fonte do jornal ligada ao extinto “Nosso Banco” , já depois de serem tornadas públicas as acusações da Taipo, disse ter recebido um telefonema da ministra solicitando seis milhões de dólares do banco para a campanha do Partido Frelimo em Nampula.
Imagem relacionadaA actual embaixadora de Moçambique em Angola é também acusada de receber ajudas de custos do Ministério do Trabalho e do INSS para as mesmas viagens de serviço. Helena Taipo terá recebido “luvas” de empresas de construção civil e do sector gráfico, para poderem prestar serviços e fornecer bens ao INSS, entidade tutelada pelo Ministério do Trabalho. A acusação cita empresas como a Calmac, OPWAY Moçambique (agora a NADHARI/OPWAY Moçambique Limitada) e Académica Magic Impressão Gráfica, uma sociedade unipessoal de Nampula, como algumas das firmas que terão pago subornos à antiga ministra. FINAL – Financiamento, Investimentos e Agenciamentos Limitada é uma das empresas citadas pelos investigadores do Ministério Público como tendo repassado para a ministra os subornos pagos pela OPWAY. Parte destas acusações, uso indevido de fundos e equipamentos do ministério e recurso ao INSS como “saco azul”, foram publicadas na imprensa ainda quando Taipo era ministra depois da informação ter sido vazada por colaboradores próximos, incluindo com recurso a mensagens de telemóvel. Porém, Taipo granjeou grandes simpatias entre as franjas populistas do partido com os seus comunicados bombásticos anunciando a expulsão de gestores de empresas estrangeiros sem qualquer processo de inquirição.
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Multinacionais influentes, apoiadas pelas representações diplomáticas baseadas em Maputo, foram recebidas várias vezes em audiência pelo president Armando Guebuza, protestando contra os “excessos” de Taipo e questionando a intenção do governo em atrair investimento.
Depois do caso emblemático da expulsão do gestor da empresa G4S (convidado depois a regressar a Moçambique, Taipo expulsou o administrador Pinto Ribeiro, do Banco Moza, acusado de ter atitudes racistas para com os seus colegas. O banco recorreu da decisão e o caso foi sanado nos bastidores, Segundo um dos gestores na altura, “para que a ministra não perdesse a face”.
Depois de deixar o cargo de ministra do Trabalho em 2015, Taipo foi nomeada governadora da província de Sofala. Vários círculos afiançam que a ex-governante saiu de Sofala como “uma baixa” do conflito “fratricida” que flagelou a Frelimo na província, opondo uma ala liderada por Helena Taipo a uma outra encabeçada pelo ex-primeiro secretário do partido no poder Paulo Majacunene. Ambos engalfinharam-se numa refrega pelo controlo das oportunidades de negócios cobiçadas pelas elites ligadas ao partido no poder em Sofala.
Imagem relacionadaO ambiente irrespirável que se gerou em resultado do conflito entre as facções de Taipo e Majacunene criou uma autêntica dor de cabeça ao Presidente da República e dirigente da Frelimo, Filipe Nyusi. Majacunene, oriundo de Manica, foi “montado em Sofala pelo seu conterrâneo Filipe Paúnde, antigo secretário-geral da Frelimo, que nas eleições gerais de 2014 confessou aos seus próximos em Nampula, “sentir-se humilhado” com a sede de protagonismo de Taipo que integrava também a mesma brigade provincial. Majacunene foi “despachado” para delegado do INSS, em Quelimane, como única forma airosa de não agudizar o descontentamento de uma figura que dirigiu a Frelimo na politicamente “sensível” Sofala. Nyusi tinha feito de Taipo uma escolha de segunda linha para Sofala, exactamente para agradar aos sectores populistas do partido que consideravam positivo o seu desempenho anterior na pasta do Trabalho. Tal como Guebuza, Nyusi foi forçado várias vezes a gerir conflitos criados pela governadora com sectores sensíveis da província, nomeadamente os operadores de madeiras e os gestores do Parque Nacional da Gorongosa. Outra fonte de conflito permanente na Beira era o “mayor” local, Daviz Simango, o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira maior força política em Moçambique. As obras de reabilitação do projecto do Chiveve foram várias vezes adiadas por interferência de Taipo. Devido a um conflito numa das suas direcções provinciais, Taipo interrompeu o início da época de corte de madeira. Nos distritos limítrofes do Parque Nacional da Gorongosa (PNG), as “intervenções incendiárias” de Taipo en encorajavam os camponeses a ocuparem áreas do parque com a justificação de que os administradores da área de conservação tinham arbitrariamente alargado a superfície do PNG. Segundo apurou o jornal, Greg Carr, o filantropo americano que apoia financeiramente a reabilitação do PNG, ameaçou romper com o acordo com o governo de Moçambique, devido às sistemáticas interferências de Taipo. A indicação de Taipo para embaixadora de Moçambique em Angola e de Majacunene para INSS foivista como uma fórmula criativa encontrada por Filipe Nyusi para não dar a ideia de haver “vencidose vencedores”.
Resultado de imagem para taipo em angolaPorém, muitos questionam a decisão de enviar Helena Taipo para Angola, quando a forma como as instituições judiciais funcionam em Moçambique levam a uma suspeita fundada de que o Presidente da República já tinha conhecimento de que a nova embaixadora estava a ser investigada pela justiça por factos graves.Ironicamente, a dirigente foi enviada para uma missão diplomática num país que está a ser conhecido por uma nova aurora no combate à corrupção movido pelo actual chefe de Estado angolano, João Lourenço. O escândalo financeiro envolvendo Helena Taipo poderá ser mais uma “batata quente” para a Frelimo, pois a visada é uma das figuras mais conhecidas da etnia macua, um grupo demograficamente importante na distribuição do voto no norte do país. Terá sido a forte capacidade de mobilização de Helena Taipo na província de Nampula que lhe value a saída da discreta posição de directora provincial do Trabalho para ministra do pelouro em 2005, primeiro ano da governação de Armando Guebuza. O “sector” macua da Frelimo não ficará alheio ao facto de Helena Taipo ser a segunda figura do grupo a ser envolvida em escândalos de corrupção, depois de o ex-ministro da Justiça, Abduremane Lino de Almeida ter sido condenado por corrupção. Segundo disseram ao jornal, há sectores influentes na Frelimo que apontam o dedo acusador aos líderes partidários daquela província, por terem deixado “cair” vários municípios em Nampula, após a sua perda de protagonismo no congress da Frelimo realizado em Setembro de 2017.

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