Helena Taipo foi alcunhada “tsunami” pela forma
implacável como dirigia o Ministério do Trabalho e entidades tuteladas, mas
pode ter a sua reputação aniquilada caso se provem as suspeitas de corrupção que
lhe são imputadas pelo Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC). A actual
embaixadora de Moçambique em Angola está a ser investigada por ter supostamente
recebido subornos de 100 milhões de meticais (cerca de USD1.7 milhões ao câmbio
de 60 meticais) para favorecer empresas nos contratos com o Instituto Nacional
de Segurança Social (INSS). Ao que o SAVANA apurou junto de fontes do GCCC foi
notificada via Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, para responder
sobre as suspeitas que recaem sobre ela. A notificação aconteceu dias depois de
Helena Taipo ter formalmente entregue as cartas credenciais em Luanda ao Presidente
de Angola, João Lourenço. Taipo foi ouvida esta semana, durante dois dias
(segunda e terça-feira) no GCCC em Maputo. Estava acompanhado pelo esposo,
Amade Chababe, um antigo craque de futebol do Grupo Desportivo de Maputo e da
Selecção Nacional, bem como dos seus advogados. O jornal soube que logo que foi
despoletado o assunto, Helena Taipo tentou um encontro com a Procuradora Geral
da República, Beatriz Buchile, mas não foi recebida.
A ex-governante terá alegadamente recebido os
subornos, quando era ministra do Trabalho na administração Guebuza e nessa
qualidade tutelava o INSS. Numa única conta terão sido depositados cerca de um
milhão de dólares. Os valores eram depositados nas contadas tuteladas por
Taipo. “Não havia nenhuma preocupação de ocultar, o que se sugere que tinha confiança
a um outro nível”, frisou a mesma fonte. Durante as audições no GCCC, Taipo
terá alegado que o dinheiro foi para financiar actividades eleitorais do
partido Frelimo. Não é a primeira vez que surgem alegações de fundos de
instituições públicas desviados para financiar actividades partidárias da
Frelimo. Aquando do julgamento de Diodino Cambaza, ex PCA dos Aeroportos de
Moçambique, este alegou que parte do dinheiro foi para a reabilitação da Escola
Central da Frelimo na Matola e para “outros favores” ao partido no poder.
Também durante a instrução do “Caso Embraer”, que envolve Mateus Zimba
(ex-director da Sasol), Paulo Zucula (ex-ministro dos Transportes e
Comunicações) e José Viegas (ex-PCA da LAM), surgiram indicações de que parte dos
USD800 mil de subornos na compra das aeronaves foram para financiar actividades
políticas do partido governamental, mas fontes do jornal garantem que,
diferentemente dos outros casos, neste não se irá arrastar o nome da Frelimo para
o processo uma vez que existem claras evidências de movimentações de contas
privadas de dois dos envolvidos a partir das “luvas” recebidas da empresa brasileira.
Uma fonte do jornal ligada ao extinto “Nosso Banco” , já depois de serem
tornadas públicas as acusações da Taipo, disse ter recebido um telefonema da
ministra solicitando seis milhões de dólares do banco para a campanha do
Partido Frelimo em Nampula.
A actual embaixadora de Moçambique em Angola é também
acusada de receber ajudas de custos do Ministério do Trabalho e do INSS para as
mesmas viagens de serviço. Helena Taipo terá recebido “luvas” de empresas de
construção civil e do sector gráfico, para poderem prestar serviços e fornecer
bens ao INSS, entidade tutelada pelo Ministério do Trabalho. A acusação cita
empresas como a Calmac, OPWAY Moçambique (agora a NADHARI/OPWAY Moçambique
Limitada) e Académica Magic Impressão Gráfica, uma sociedade unipessoal de
Nampula, como algumas das firmas que terão pago subornos à antiga ministra. FINAL
– Financiamento, Investimentos e Agenciamentos Limitada é uma das empresas
citadas pelos investigadores do Ministério Público como tendo repassado para a ministra
os subornos pagos pela OPWAY. Parte destas acusações, uso indevido de fundos e
equipamentos do ministério e recurso ao INSS como “saco azul”, foram publicadas
na imprensa ainda quando Taipo era ministra depois da informação ter sido
vazada por colaboradores próximos, incluindo com recurso a mensagens de
telemóvel. Porém, Taipo granjeou grandes simpatias entre as franjas populistas do
partido com os seus comunicados bombásticos anunciando a expulsão de gestores de empresas estrangeiros sem
qualquer processo de inquirição.
Multinacionais influentes, apoiadas pelas
representações diplomáticas baseadas em Maputo, foram recebidas várias vezes em
audiência pelo president Armando Guebuza, protestando contra os “excessos” de
Taipo e questionando a intenção do governo em atrair investimento.
Depois do caso emblemático da expulsão do gestor da
empresa G4S (convidado depois a regressar a Moçambique, Taipo expulsou o
administrador Pinto Ribeiro, do Banco Moza, acusado de ter atitudes racistas
para com os seus colegas. O banco recorreu da decisão e o caso foi sanado nos
bastidores, Segundo um dos gestores na altura, “para que a ministra não
perdesse a face”.
Depois de deixar o cargo de ministra do Trabalho em
2015, Taipo foi nomeada governadora da província de Sofala. Vários círculos
afiançam que a ex-governante saiu de Sofala como “uma baixa” do conflito
“fratricida” que flagelou a Frelimo na província, opondo uma ala liderada por
Helena Taipo a uma outra encabeçada pelo ex-primeiro secretário do partido no
poder Paulo Majacunene. Ambos engalfinharam-se numa refrega pelo controlo das
oportunidades de negócios cobiçadas pelas elites ligadas ao partido no poder em
Sofala.
O ambiente irrespirável que se gerou em resultado do conflito entre as
facções de Taipo e Majacunene criou uma autêntica dor de cabeça ao Presidente
da República e dirigente da Frelimo, Filipe Nyusi. Majacunene, oriundo de
Manica, foi “montado em Sofala pelo seu conterrâneo Filipe Paúnde, antigo secretário-geral
da Frelimo, que nas eleições gerais de 2014 confessou aos seus próximos em Nampula,
“sentir-se humilhado” com a sede de protagonismo de Taipo que integrava também
a mesma brigade provincial. Majacunene foi “despachado” para delegado do INSS,
em Quelimane, como única forma airosa de não agudizar o descontentamento de uma
figura que dirigiu a Frelimo na politicamente “sensível” Sofala. Nyusi tinha
feito de Taipo uma escolha de segunda linha para Sofala, exactamente para
agradar aos sectores populistas do partido que consideravam positivo o seu
desempenho anterior na pasta do Trabalho. Tal como Guebuza, Nyusi foi forçado
várias vezes a gerir conflitos criados pela governadora com sectores sensíveis
da província, nomeadamente os operadores de madeiras e os gestores do Parque
Nacional da Gorongosa. Outra fonte de conflito permanente na Beira era o
“mayor” local, Daviz Simango, o líder do Movimento Democrático de Moçambique
(MDM), a terceira maior força política em Moçambique. As obras de reabilitação
do projecto do Chiveve foram várias vezes adiadas por interferência de Taipo. Devido
a um conflito numa das suas direcções provinciais, Taipo interrompeu o início
da época de corte de madeira. Nos distritos limítrofes do Parque Nacional da Gorongosa
(PNG), as “intervenções incendiárias” de Taipo en encorajavam os camponeses a
ocuparem áreas do parque com a justificação de que os administradores da área de
conservação tinham arbitrariamente alargado a superfície do PNG. Segundo apurou
o jornal, Greg Carr, o filantropo americano que apoia financeiramente a
reabilitação do PNG, ameaçou romper com o acordo com o governo de Moçambique,
devido às sistemáticas interferências de Taipo. A indicação de Taipo para
embaixadora de Moçambique em Angola e de Majacunene para INSS foivista como uma fórmula criativa encontrada por Filipe
Nyusi para não dar a ideia de haver “vencidose vencedores”.
Porém, muitos questionam a decisão de enviar Helena
Taipo para Angola, quando a forma como as instituições judiciais funcionam em
Moçambique levam a uma suspeita fundada de que o Presidente da República já
tinha conhecimento de que a nova embaixadora estava a ser investigada pela
justiça por factos graves.Ironicamente, a dirigente foi enviada para uma missão
diplomática num país que está a ser conhecido por uma nova aurora no combate à corrupção
movido pelo actual chefe de Estado angolano, João Lourenço. O escândalo
financeiro envolvendo Helena Taipo poderá ser mais uma “batata quente” para a
Frelimo, pois a visada é uma das figuras mais conhecidas da etnia macua, um
grupo demograficamente importante na distribuição do voto no norte do país.
Terá sido a forte capacidade de mobilização de Helena Taipo na província de
Nampula que lhe value a saída da discreta posição de directora provincial do
Trabalho para ministra do pelouro em 2005, primeiro ano da governação de
Armando Guebuza. O “sector” macua da Frelimo não ficará alheio ao facto de
Helena Taipo ser a segunda figura do grupo a ser envolvida em escândalos de corrupção,
depois de o ex-ministro da Justiça, Abduremane Lino de Almeida ter sido
condenado por corrupção. Segundo disseram ao jornal, há sectores influentes na
Frelimo que apontam o dedo acusador aos líderes partidários daquela província, por
terem deixado “cair” vários municípios em Nampula, após a sua perda de
protagonismo no congress da Frelimo realizado em Setembro de 2017.
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