Ele
também disse que uma das voluntárias em sua pesquisa está grávida de um outro
bebê com o material genético editado. O cientista chinês que afirma ter criado os
primeiros bebês geneticamente modificados da história informou nesta
quarta-feira (28) que vai dar uma "pausa" nos testes clínicos depois
da repercussão negativa da comunidade científica provocada pelo anúncio. Em uma
conferência em Hong Kong, He Jiankui reiterou que permitiu o nascimento de
gêmeas que tiveram o DNA alterado para deixá-las mais resistentes ao vírus HIV.
Também explicou que oito casais – todos formados por um pai soropositivo e uma
mãe soronegativa – se apresentaram de modo voluntário para a pesquisa, mas que
um deles desistiu do procedimento. Mais cedo, He disse que uma outra voluntária do estudo estava grávida
de um bebê com genes modificados.
"Peço desculpas porque o resultado vazou
de maneira inesperada", afirmou He Jiankui, em referência aos vídeos
publicados neste domingo (25) no YouTube, nos quais anunciou o nascimento das
gêmeas Lulu e Nana. "Foi dada uma pausa nos testes clínicos devido à atual
situação", disse o cientista, que dirige um laboratório em Shenzhen.O
anúncio dos nascimentos recebeu muitas críticas em todo o mundo. Vários
pesquisadores consideraram o ato uma "loucura". Em entrevista ao G1, alguns especialistas disseram que a edição
dos genes dos bebês fere ética, leis e segurança e tem consequências
imprevisíveis".
A comunidade científica denunciou a falta de
verificação independente ou o fato de ter exposto embriões saudáveis a
modificações genéticas.
Um passo atrás
Alguns especialistas consideram que tais
modificações poderiam gerar mutações em zonas diferentes das que foram
tratadas, mas He Jiankui defendeu seu trabalho e disse que os pais,
voluntários, estavam perfeitamente conscientes dos riscos de "efeitos
colaterais" e "decidiram pela implantação". Também afirmou que a
Universidade de Ciências e Tecnologias do Sul, na cidade de Shenzhen, onde trabalha,
"não estava a par do teste". O próprio centro de ensino fez questão
de tomar distância do cientista ao afirmar que ele estava de licença desde
fevereiro e sem receber salário, ao mesmo tempo que anunciou ter ficado
"profundamente impactado".
Os organizadores da conferência também
indicaram que não tinha conhecimento das pesquisas de He. O moderador da mesa
redonda, Robin Lovell-Badge, opinou que o teste representa um "passo
atrás" para a comunidade científica. "É um exemplo de enfoque que não foi
suficientemente prudente e proporcional", declarou."No entanto, é óbvio que se trata de algo
histórico. Os dois bebês seriam os primeiros geneticamente modificados. É um
momento capital na história", completou. O presidente da conferência, o
biólogo David Baltimore, vencedor do Nobel, denunciou a "falta de
autorregulamentação da comunidade científica devido à falta de
transparência".
Investigação
O geneticista, formado na universidade
americana de Stanford, afirmou que utilizou a técnica CRISPR/Cas9, conhecida
como as "tesouras do genoma", que permite remover e substituir partes
indesejáveis do genoma como a correção de um erro de digitação em um
computador.
As gêmeas nasceram, segundo o cientista, após
uma fertilização in vitro a partir de embriões modificados antes de serem
implantados no útero da mãe. A técnica abre perspectivas no âmbito das doenças
hereditárias. Mas é muito controversa porque as modificações realizadas seriam
transmitidas às gerações futuras e poderiam afetar o conjunto do patrimônio
genético. O pesquisador americano de origem chinesa Feng Zhang, que reivindica
a paternidade da técnica CRISPR/Cas9, considerou o experimento perigoso e
desnecessário. "Esta experiência não deveria ter
acontecido. O que ele fez não é científico", declarou à imprensa.
O vice-ministro chinês de Ciências e
Tecnologia, Xu Nanping, afirmou nesta terça-feira (27) que se as gêmeas estão
vivas é algo ilegal. De acordo com os princípios éticos
estabelecidos em 2003 sobre as pesquisas com células-tronco em embriões, o
cultivo in vitro é possível, mas apenas durante 14 dias após a fertilização ou
o transplante de núcleo. Qiu Renzong, pioneiro de questões bioéticas na China,
afirmou que os pesquisadores do país geralmente evitam as sanções porque
precisam prestar contas apenas a sua instituição. E algumas não preveem sanções
em caso de falha profissional. A China deseja assumir a liderança da pesquisa
genética e da clonagem, mas as zonas cinzentas da legislação do país permitem
experiências polêmicas.
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