Há, naturalmente, razões muito fortes
que levaram o técnico Nélson Santos a pronunciar-se daquela forma antes do
final do campeonato, prova que discutia “taco a taco com a União Desportiva do
Songo. Provavelmente o técnico quisesse fazer o aproveitamento circunstancial,
despedindo-se do seu público, em virtude do jogo com o Textáfrica do Chimoio
ser o último disputado no Estádio da Machava. Independemente das razões,a
atitude chocou a todos aqueles que nem sequer haviam cogitado essa
possibilidade.Esse foi, entre os vários pecados cometidos por Nélson Santos na
presente temporada, aquele que será recordado na curta passagem pelo
Ferroviário de Maputo, principalmente por ter sido protagonizados alguns
minutos antes de uma partida, a primeira das três últimas do campeonato, num
momento em que a sua equipa devia ter concentração máxima para entrar em campo
e jogar todos os seus argumentos para atacar o título, anunciar o rompimento, o
que pode ter tido influência nos primeiros minutos do jogo (os jogadores já
sabiam, de certeza).Nélson Santos não quis adiantar as razões da sua decisão e,
por conseguinte, ficaram no ar todas as interpretações possíveis, até de uma
possibilidade de sabotagem do seu trabalho por alguns membros da Direcção
locomotiva, por este ser aposta de Sancho Quipiço Jr, o presidente da colectividade
locomotiva.
Tudo o que se diz não passa de especulação. Nenhuma das partes
pronunciou sobre as reais causas. Mas, indo às consequências dos tais
pronunciamentos, começamos por salientar que o tal jogo com o Textáfrica do
Chimoio não correu da melhor maneira. Os locomotivas chegaram a estar em
desvantagem de dois-a-zero e depois de reduzir para 1-2 igualaram o jogo num
lance polémico, bastante debatido em toda a semana.
Acabou por vencer a
partida, mas a Direcção do Ferroviário de Maputo não quis “engolir em seco” os
pronunciamentos do treinador e decidiu romper o compromisso e colocar Carlos
Manuel (Caló) no comando técnico, coadjuvado por Carlos Baúte, Florêncio Tembe
e Manuel Valoi, estes dois que haviam feito parte da equipa técnica anterior.
Recorde-se que o Ferroviário de
Maputo contratou Nélson Santos quando este parecia firme no Costa do Sol, até
porque conseguira conquistar a Taça de Moçambique, depois de um largo tempo de
interregno de festejos pelos canarinhos. Para os locomotivas, que haviam
conquistador o seu último campeonato em 2015, tinha sido uma grande vitória ir
buscar um treinador que havia sido vice-campeão por duas vezes (2015 e 2017),
sem ligar a certeza de que esse é o lugar do primeiro dos últimos. Essa
contratação contagiou positivamente os adeptos fervorosos locomotivas, que
apoiaram a entrada em “sua casa”. No plano exibicional a equipa de Nélson
Santos não enchia o olho aos mais atentos e adeptos do bom futebol, mas as
vitórias suplantavam todo o resto. Nos finais das partidas o jovem técnico
dava-se ao luxo de explicar aos leitores, ouvintes e telespectadores que o mais
importante era ganhar e que o aspecto exibicional não era o mais importante. O
campeonato foi seguindo, com os locomotivas 100 por cento vitoriosos nos jogos
no Estádio da Machava, até à recepção ao Maxaquene, com quem perderam por 1-3.
Ainda assim o Ferroviário de Maputo vinha com algumas alterações no “xadrez” em
relação ao ano passado (Diogo perdera a titularidade, o mesmo acontecendo com
Timbe), lançando novas unidades que foram respondendo positivamente à sua
chamada ao “onze”. Tudo indicava que, mesmo sem um futebol convincente, pela
primeira vez Nélson Santos, face ao avanço na tabela classificativa em relação
aos restantes concorrentes, poderia festejar o título.
No percurso para a conquista do
título outro pecado significativo prendeu-se com as derrotas “fora de portas”,
mesmo com adversários considerados inferiores. Essa forma titubeante de
caminhar pode ter sido um dos elementos fundamentais para permitir que a União
Desportiva do Songo alcançasse os locomotivas e ainda se desse ao luxo de
ultrapassá-los com vantagem confortável. Nos percalços vão as duas derrotas
consecutivas frente à Liga Desportiva de Maputo, na Matola “C”, e frente ao
Songo no campo da Hidroeléctrica de Cahora Bassa. A equipa descontrolou-se e
mesmo assim venceu na recepção ao seu homónimo de Nampula, no Estádio da
Machava, mas aí a sua situação começou a ficar mais complicada porque os
hidroeléctricos não tiram o pé do acelerador. Nélson Santos, de certeza, deve
ter se recordado do que andava a dizer sobre o capítulo exibicional e mesmo
face à derrota do seu concorrente directo na luta pelo título, na Beira, não
conseguiu vencer diante do aflito Ferroviário de Nacala, empatando a zero, num
jogo em que a segunda parte começou 25 minutos depois em relação a todas outras
desse dia, criando celeuma que recordou os nove minutos de 2015 que levaram o
Ferroviário de Maputo a celebrar o título.
O técnico Nélson Santos surgiu no
futebol moçambicano através do Costa do Sol como adjunto de Diamantino Miranda,
que saiu da equipa em 2013. Os últimos jogos dessa temporada foram orientados
por Nélson Santos, que no ano seguinte trabalhou também como adjunto de Arnaldo
Salvado, no regresso aos canarinhos em 2014. Lembrar que as coisas não correram
bem ao “papa-títulos”, que a meio da época teve de ser substituído pelo então
adjunto, Nélson Santos. O presidente do Costa do Sol, na altura (Amosse
Chicualacuala) considerou que o português nascido em Sesimbra podia ser a
grande alternativa à equipa técnica e depositou confiança nele, fazendo aposta
séria em 2015, que valeu o segundo lugar no Moçambola. O seu regresso aos
canarinhos em 2017 foi com o intuído de devolver o título de campeão que lhes
fugia desde 2007, mas a equipa acabou por ficar apenas com a Taça de
Moçambique. Pelo percurso do Costa do Sol nessa época esperava-se por uma
relação continuada no ano seguinte, mas Nélson Santos preferiu seguir para o
Ferroviário de Maputo. Referir que sobre a saída de Arnaldo Salvado do Costa do
Sol circularam informações de que Nélson Santos podia ter tido alguma
influência, o que nunca foi assumido por Salvado nem por nenhum membro ligado
aos canarinhos nesse período.
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