No final da IV sessão extraordinária do Comité
Central da Frelimo, que durante dois dias reflectiu sobre a vida do partido,
Eduardo Mulémbwe destacou que foi vincada a necessidade de os “camaradas”
agirem com base nos valores e princípios que norteiam a organização, facto que
fez com que saíssem do encontro fortalecidos. Um outro membro do CC disse que Filipe
Nyusi saiu-se bem e fortalecido e está cada vez mais a impor-se no partido, mas
alertou que derradeiros combates ainda estãopor vir nas conferencias provinciais, que irao
eleger os Primeiros Secretários e delegados, os cerca de três mil delegados ao
Congresso.
“É nas próximas reuniões e no congresso que Filipe
Nyusi vai montar a sua máquina partidária, com pessoas da sua confiança, aliás,
nesta reuniao parte considerável dos membros aconselharam o Presidente a
faze-lo. Este Comité Central e a Comissão Política não foram montados por ele”,
afiançou a mesma fonte.Sobre o dossier paz, que foi uma das principais
agendas da reuniao,os membros do Comité Central apoiaram o presidente
no novo modelo do diálogo com Afonso Dhlakama. Tal como aconteceu na V Sessão
ordinária do Comité Central do partido, Nyusi voltou a defender que Afonso
Dhlakama deve ser visto como um “adversário político” e nao como um inimigo a
abater.Ao que se apurou, vários camaradas
exprimiram os seus pontos de vista, durante os debates, de forma aberta.
Armando Guebuza manteve uma postura discreta e a sua intervenção foi feita num
tom moderado no tema sobre a descentralização e a questão das seis províncias
que a Renamo reclama o direito de governar.
Em comentários, Mulémbwe fez notar que é preciso
encarar os diferentes momentos da vida do partido com frontalidade necessária e,
com toda a clareza, assumir que o ser humano está sujeito a erros. Mulémbwe “dá
a mão a palmatoria” e enfatiza que há membros no seio do partido que tem
“comportamento desviante”, que olham mais para benefícios próprios e nao para o
fortalecimento do partido como um todo. Para o ex-presidente da Assembleia da
República e actual deputado, a mudança de conduta por parte de alguns
militantes do partido começou a notar-se a partir do X Congresso da Frelimo. “Estes
problemas tem a dimensão de um surto, se for para usar uma expressão médica.
Agora precisamos perceber se se trata de uma endemia ou pandemia, esta é a
questão. Mas, dizer que há aqui e
acolá, há cometimentos destas práticas, sim há e estamos decididos a fazer a purificação das nossas fileiras,
seja quem for que incorrer nestas
práticas desviantes”, disse. De seguida, referiu que foi tomada a decisão de desencadear um processo
para desencorajar alguns actos que designou de condutas desviantes, o que passa
por fazer com que os órgãos competentes, como é o caso da Comissão de
Verificação, possam, de forma intransigente, analisar as situações em conformidade
com os estatutos.
Recorde-se que no
congresso dirigido por Armando Guebuza, em Muxara, enquanto presidente da Frelimo,
figuras históricas, como Jorge Rebelo, Óscar Monteiro, Sérgio Vieira e António
Hama Thai não conseguiram a eleição para aquele órgão importante do partido no
intervalo entre congressos. Paralelamente, assistiu-se a ascensão de uma nova
geração considerada mansa e menos incomoda a liderança.
Se na sessão ordinária do CC da Frelimo do ano
passado, a ACLLIN denunciou a compra de votos no seio do partido como um acto
que mina o desenvolvimento da democracia interna e debates produtivos, este
ano, Fernando Faustino voltou a ser incisivo no seu discurso, criticando a
perda de valores por parte de alguns “camaradas”, que olham a política como
meio de recompensa económica e não para vincar os ideais do partido. O SG da
ACLLIN disse, no seu discurso corrosivo, que o partido clama por uma
reorganização de fundo. “O processo de purificação das fileiras do nosso
partido deve ser um facto real, verdadeiro, oportuno e sem contemplações de
modo a devolver a dignidade e valor da Frelimo”, disse.Recentemente reconduzido ao cargo do SG da ACLLIN,
Faustino considerou que a Frelimo converteu-se numa máquina eleitoral, visto
que fazer política significa procurar posições ao nível do Governo, parlamento,
assembleias provinciais, municipais e favorecimento nos negócios com o Estado. De
acordo com Faustino, o maquiavelismo no acesso aos órgãos do partido resultaram
na exclusão de quadros experientes, estrategas e disponíveis para servir. Outra
indignação tem que ver com as derrotas eleitorais que o partido tem averbado
nas províncias do Centro e Norte do país, situação que o levou a questionar o “paradeiro”
dos quatro milhões de membros com os quais a Frelimo se orgulha de contar, bem
como os métodos de actuação na comunicação com o eleitorado. Conhecido por ser
controverso e conservador, Faustino minimizou os ganhos da democracia que abrem
espaço para a entrada de novos actores no panorama político ao considerar que
as novas formações políticas e Organizações da Sociedade Civil constituem uma barreira
para a Frelimo. Porém, ao que apurámos, as declarações incendiárias de Faustino
fazem parte de um plano para chegar a Secretário Geral do partido em substituição
de Eliseu Machava. “O camarada Faustino está a tentar abrir caminho para chegar
a SG, fazendo discursos que suscitam paixões e saudosismos. É uma tentativa de
comprar coraçoes e mentes”, minimizou um camarada em declarações ao jornal.
O presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, iniciou o
seu discurso de encerramento explicando que aquela sessão extraordinária fora
sugerida pelos próprios “camaradas”, para, com mais tempo, reflectirem em torno
da situação interna do partido, sem, com isso, descurarem o estágio da economia
nacional. Poderá ser por isso que a sessão do CC não teve convidados, uma ausência
extensiva aos membros do governo que não fazem parte do CC, com excepção do
primeiro-ministro Carlos Agostinho do Rosário, que marcou presença no encontro.
O líder do partido do “batuque e maçaroca” saudou a coragem dos membros que
apontaram os problemas que podem minar a actuação da organização. Arrolados os
problemas que não chegaram a ser tornados públicos, dada a advertência
presidencial para a observância da disciplina partidária, com o fundamento de que
“ ninguém sabe mais que todos nós”, Nyusi afirmou que o partido sai fortalecido,
enriquecido e mais apto para cumprir as suas tarefas em prol do desenvolvimento
do país.
“Se não podermos ser a mudança que reclamamos e pretendemos ser ao
longo dos debates nesta reunião, então teremos reunido em vão”, disse. Nyusi garantiu que, em nome do povo, continuará a
fazer de tudo para que os resultados obtidos até ao momento em sede de diálogo rumo
a uma paz efectiva no país prevaleçam. Apelou para que todos sejam mensageiros
da paz e reconciliação e transmitam a ideia de que as diferenças não podem
dividir o estado unitário. Os apoiantes indefectíveis de Nyusi saíram
satisfeitos da reunião, mas não estão tranquilos quanto ao desfecho do
Congresso em Setembro. “O nosso presidente esteve bem, teve apoio, mas não saiu
da sessão extraordinária com o tapete vermelho aberto em direcção ao
Congresso”, rematou uma militante.
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