COMUNICADO
PGR DEVE AGIR IMEDIATAMENTE NO CASO DO
ENDIVIDAMENTO OCULTO
O
Centro de Integridade Pública (CIP) acompanhou com grande interesse a
publicação, pela Procuradoria-Geral da República (PGR), do Sumário Executivo do
Relatório de Auditoria Independente aos empréstimos às empresas ProIndicus,
EMATUM e MAM lançado pela Kroll. Trata-se da primeira publicação oficial do
Estado que visa explicar os contornos das dívidas contraídas de forma oculta e
que receberam garantias do mesmo Estado de forma inconstitucional e em violação
da Lei Orçamental.
A
versão sumária tornada pública pela PGR não identifica os nomes dos principais
agentes implicados neste processo, mas fornece informação bastante e com
relevância jurídica para que haja acção imediata da PGR tendente à
responsabilização criminal dos envolvidos, neste que é o maior escândalo
financeiro de Moçambique desde a sua existência como Estado.
Dentre
várias constatações do relatório, importa destacar as seguintes devido à sua
gravidade:
•
Destino de 500 milhões de dólares (cerca de ¼ do total do valor de empréstimo)
não explicado;
•
Desvio de 713 milhões de dólares (mais de 1/3 do valor total do empréstimo) em
esquemas de sobrefacturação das mercadorias;
•
Aproximadamente 200 milhões de dólares (cerca de 10% do valor total do 2 empréstimo)
gastos em comissões pagas aos bancos e a outros agentes que intermediaram os
empréstimos.
Não
houve por parte do Governo de Moçambique qualquer tipo de acção no sentido de
colaborar com a Kroll Inc. na realização da auditoria independente. Este facto
é constatado ao longo das 64 páginas que compõem o sumário executivo do
relatório nas quais a Kroll Inc. reclama da falta de acesso a fontes de
informação que eram imprescindíveis para a realização da auditoria e
esclarecimento dos factos à volta do endividamento oculto. A falta de colaboração
na disponibilização de informação não foi exclusiva às empresas de Moçambique
(EMATUM, ProIndicus, MAM), visadas pela auditoria e que, obviamente, têm todo o
interesse em ocultar as más práticas que nortearam todo este processo de
endividamento. O Ministério da Economia e Finanças e os Serviços de Informação
e Segurança do Estado (SISE), entidades com informação-chave sobre este
processo, também se furtaram a fornecer informação.
Há
que notar que a direcção geral do SISE, entidade tida como o “cérebro” da
operação, foi remodelada e na altura acreditava-se que esta medida visava criar
condições para que a Kroll Inc. tivesse acesso a toda a informação necessária.
Portanto,
esta falta de colaboração revela que ao longo dos 6 meses em que decorreu a
auditoria internacional, o Presidente da República e o seu Governo mentiram aos
moçambicanos ao declararem várias vezes e publicamente que as instituições
em causa tinham todo o interesse em que a auditoria esclarecesse totalmente as
zonas de penumbra em torno do caso das dívidas ocultas.
Face
a estas constatações:
-
É de estranhar que ainda não haja acções visíveis de responsabilização das
pessoas implicadas neste processo, visto que a Procuradoria-Geral da República
recebeu há mais de um mês o relatório completo da auditoria cujo sumário
somente agora publicou, aliado ao facto de o processo relativo a este caso
estar em instrução preparatória há mais de um ano;
-
A PGR deve tomar acções imediatas tendo em atenção que é o titular da acção
penal em Moçambique com vista à responsabilização criminal das pessoas
implicadas, o que deve incluir a prisão preventiva daqueles que podem
interferir negativamente no processo de investigação em curso;
- A PGR deve, no prosseguimento da sua actividade,
apreender preventivamente os bens de todos os envolvidos no processo já em
curso e daqueles que venham a ser implicados, com vista a ressarcir o Estado
dos danos causados pela sua acção em violação da lei;
-
A PGR deve, ainda, responsabilizar as instituições que se recusaram a fornecer
informação à Kroll que, sob mandato da PGR, realizava a auditoria das dívidas.
É sabido 3 que
esta falta de colaboração configura ilícito criminal;
-
O CIP reafirma, e agora com o reforço da informação disponível no sumário do
relatório de auditoria realizada pela Kroll, que ao aprovar a inclusão das
garantias emitidas pelo Estado a favor destas dívidas, os deputados da
Assembleia da República legalizaram a violação da Constituição da República e
legalizaram uma burla ao Povo que os elegeu e representam;
-
O CIP reitera que o Estado moçambicano não deve pagar as dívidas contraídas
pelas três empresas, pois o valor não beneficiou de nenhuma forma o Estado; as
garantias emitidas a favor destas empresas, em violação da Constituição da
República, devem ser nulas e de nenhum efeito, pelo que não podem ser evocadas
para justificar o pagamento da dívida pelo Estado;
-
O CIP exige a declaração de inconstitucionalidade pelo Conselho Constitucional
da Resolução Aprovada pela Assembleia da República que inscreve as garantias
emitidas pelo Estado a favor das dívidas da MAM e ProIndicus.
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