É de
cortar a respiração o ambiente no Movimento Democrático de Moçambique (MDM). O
presidente do município de Nampula, Mahumudo Amurane, acusou o líder do partido,
Daviz Simango, de ditador e de estar por detrás das campanhas difamatórias
contra a sua imagem bem como da família, supostamente desencadeada por membros
do MDM. Sem falar da sua desvinculação do MDM, Amurane diz que está a ser
vítima de vingança por ter questionado o líder do partido publicamente, para
além de recusar drenar fundos do município para
alimentar interesses do partido, bem como dos seus membros seniores. Amurane
diz que a sua saída do MDM depende de Daviz Simango e que nas eleições
autárquicas de 2018 vai concorrer à reeleição com ou sem apoio do MDM. Um ano e
meio nos separa das eleições
autárquicas, isto é, o seu mandato chega ao fim. Como é que olha para a cidade
de Nampula neste horizonte temporal da sua governação, a partir da situação que
encontrou em 2014.
Encontrámos
uma cidade cheia de dívidas, esburacada, sem mercados condignos para os
munícipes, sem vias de acessos nem ligaçoes entre bairros. Na nossa governaçao,
construímos pontes, ligando bairros, pavimentamos ruas, construímos praças,
jardins, parques e tudo isto nos orgulha bastante e afirmamos que valeu a pena
termos apostado num projecto que os munícipes ansiavam. Sentimos que os
munícipes estao satisfeitos e encorajam-nos a darmos seguimento a estes passos.
Isto
para dizer que o seu manifesto eleitoral está a ser implementado na
plenitude? O nosso manifesto está a ser implementado na
plenitude, tendo em atençao o princípio “Nampula para todos”. Nós
nao discriminamos as pessoas, em funçao da filiaçao partidária, pelo
contrário, incluímos todas as pessoas, no que diz respeito as
respostas das necessidades das populaçoes. O munícipe está em contacto
directo com o seu presidente.
Como
outras cidades do país, Nampula apresenta muitos assentamentos informais,
sobretudonos bairros da periferia. Qual é o plano da edilidade para inverter o cenário?
Avançamos
com duas respostas. A primeira é a requalificaçao dos bairros, que consiste na
abertura de vias de acesso, certamente que vamos derrubar algumas habitações que
estao dentro das vias projectadas. Bairros como Muala, Muatala, Namicopo e
Murapaniua sao exemplos de locais onde estamos a trabalhar, construindo
estradas e pontes para melhorar as vias de acesso. A segunda resposta é um
projecto de longo prazo, que consiste num plano-director já aprovado na
assembleia municipal, no qual nos propomos a erguer uma nova cidade para o
futuro. Agora estamos a buscar mecanismos de viabilizaçao do processo. Como
município, nao podemos implementar sozinhos este projecto, precisamos de
Parcerias Público- Privadas (PPP). Alguns
investidores já mostraram alguma abertura para que possamos avançar com a
implementaçao desse projecto. O nosso desejo é fechar os contratos ainda neste
mandato mesmo que nao consigamos avançar na execuçao. Vamos parcelar a área,
construir as vias de acesso, as valas de drenagem, colocar a tubagem de água, postos
de energia, isto para que o munícipe chegue lá e encontre uma área
infra-estruturada, com espaços para comércio, habitaçao e reservas para
jardins.
Em
muitos municípios dirigidos pela oposição há queixas da obstrução da
governação municipal por parte do Governo Central ou de outras entidades
públicas conotadas com a Frelimo. Como é a situação
de Nampula? Em 2014, tivemos problemas sérios. Até o Fundo de
Compensaçao Autárquica (FCA) atrasou três meses e só recebemos o
Fundo de Investimento Local (FIL) no final de Novembro. Em
2015, o cenário mudou com a nomeaçao do novo governador, Victor
Borges. Acho que este é um dos melhores que o país já teve. É um
indivíduo que está ali com o seu partido, mas olha para questões do
Estado. Quando é para resolver questoes de interesse do Estado, ele está
sempre disponível ao seu nível, porque nem tudo depende dele para
que as coisas possam fluir com normalidade. Tivemos o FCA sem
problemas maiores, mas o mesmo nao se verificou com o FIL devido a
problemas de tesouraria e foi liberto a medida que havia condiçoes, o
que nao aconteceu em 2014, porque eram mais problemas políticos do que
financeiros. É preciso elogiar o Governo Central, na pessoa do ministro da
Economia e Finanças, Adriano Maleane, que é uma pessoa excelente, está
sempre apta para nos atender. Devido ao problema de tesouraria, nao
recebemos o fundo de estradas e, só em 2016, foram criadas condições para
recebermos fundos de 2014, mas até ao momento ainda nao temos nenhum
tostao.
Que
relatos tem dos municípios geridos pelo partido no poder?
Com o
Fundo de Estradas, o problema é generalizado a todos os municípios. Por isso,
nas reuniões da nossa associaçao, sempre dissemos que nao faz sentido que, num país
tao extenso, com milhares de estradas, seja um homem a tomar decisoes, isso é
um absurdo. Esse fundo deve ser descentralizado.
Como
vão as relações entre o governo da cidade de Nampula e o município
de Nampula? Já foram muito tensas em 2014, a situaçao mudou em
2015, temos um novo governador(na foto), que é uma pessoa que nomeia os
administradores do distrito de Nampula. Se ele tem o espírito de
abertura, não seria compreensível que fôssemos hostilizados pelo
administrador. A ideia é colaborar para que juntos possamos
trazer melhores soluções para o ambiente urbano. É por isso que
digo que alguns confundem, que o facto de alguém estar alinhado e
trazer soluçoes para os problemas do povo pensa-se que está a
beneficiar a oposiçao. Quem está na cidade deve comprometer-se com
os problemas da cidade.
Quais
os principais desafios da sua governação? Do
lado político, há muita gente que confunde as coisas, dei oportunidade
a membros da Frelimo, julgando que tinham competência para
realizar certas tarefas, mas, ao invés de executar com responsabilidade
as tarefas, sabotaram-me e,naturalmente, demiti essas pessoas. Notei
que nao tem qualidade para executar as tarefas com imparcialidade. Nao
podemos confundir o cidadao
e partido. Esse é o maior desafio que temos. Outro desafio é educar o povo, queprecisa
de ter a consciencia de que viver na cidade tem custos que devem ser
partilhados. Nós temos de contribuir o pouco que temos para o desenvolvimento
do município. Eles difamaram-me
Mahamudo
Amurane tem-se apresentado publicamente como um dirigente alérgico à corrupção.Porém,
a chefia da bancada do MDM, seu partido, apareceu publicamente a falar das
obras em curso na área onde foi erguido o viaduto, alegando que a autorização das
obras é sinal de corrupção no seio da direcção do município de Nampula. Qual é
o seu comentário? Nao gostaria de comentar
esse assunto, porque qualquer pessoa que nao tenha ido a escola
está a observar estes cenários e facilmente conclui que há um
projecto de denegrir a minha imagem e desacreditar-se. Há obras,
sim, debaixo do viaduto, e vao prosseguir. Agora dizer que há
obras porque houve corrupçao e nao apresentam provas, pelo amor de
Deus. Todos me acusam de corrupçao, mas nao apresentam provas. São
matérias difamatórias. É preciso perceber que nao fui eu que corri
para a televisao denunciar os problemas no MDM, pelo contrário, fui
explicar. Eles foram a televisão difamar a minha imagem.
Partidos
organizados têm a cultura de tratar questões internas em meios fechados. Porém,
a zanga entre o MDM e o edil de Nampula é
exposta a todos. Não havia um mecanismo interno de resolução deste
diferendo? Eu expliquei que este assunto é antigo.Tudo começou na
reuniao do partido que teve lugar em Marracuene cujas
desinteligencias já expliquei a comunicaçao social. Tudo pairava em torno da
nomeaçao dos governadores. Nao fui percebido e logo disse claramente que não contem
comigo, porque o projecto é uma falsa alternativa. Nao é alternativa, é
alternância. Voces querem tirar a Frelimo para continuarem doutra forma.
Quer
dizer que o Edil está a ser vítima de vingança por ter confrontado em
público o presidente do partido? Exactamente. Ele quis
usar métodos baixos,
que chama de “politicamente correctos”. Depois do encontro, voltamos para
Nampula, eu todo satisfeito com a ingenuidade de que apresentei um projecto
fantástico que vai servir de base legal e de discussao e acreditava que muitos moçambicanos
iriam adoptar o projecto, mas foi em vao, porque as campanhas difamatórias
contra a minha imagem foram lançadas. Infelizmente, no MDM o chefe não pode ser
criticado.
Quer
dizer que há culto à personalidade do chefe…..
É
evidente. Os outros dizem que eu afrontei o presidente. Ele agora vai fazer 15
anos de mandato, mas é ele que vem a frente dizer que os outros estao há 40
anos e devem sair. Qual é a diferença com os outros? Vai candidatar-se a edil e
quer ser presidente do partido e da República, depois vai dizer que quer separaçao
dos poderes executivo, legislativo e judiciário. Eu tenho as minhas dúvidas,
porque se ele pretende controlar os governadores como terao independencia na sua
actuaçao.
Naturalmente que vai ser falácia, vai nomear os governadores, o executivo,
legislativo e judiciário, será uma fantochada, o poder será dele. Nao há
diferença com o actual modelo. Para as eleiçoes gerais de 2014, tivemos
candidatos a deputados a serem nomeados a dedo por ele, contestou-se que o
irmao (Lutero Simango) nao podia ser o chefe da bancada
do MDM na Assembleia da República, mas Simango insistiu que seria ele. O primeiro
a criticar o presidente foi Manuel de Araújo e foi isolado. Ele aceitou engolir
sapos, mas os sapos quando enchem no estômago arrebentam. Eu nao sou Araújo.
A
crise instalada entre o edil e MDM levou a direccão máxima do partido a
atribuir-lhe nomes, tais como ingrato, maluco e infiltrado ao
serviço do SISE. Que comentário faz sobre estas acusações? Isso
revela um desprezo total, mostra a outra face deles, mas que escondem a
populaçao, eles nao tem condiçoes para serem servidores públicos. Todas essas
pessoas já me quiseram arrastar para práticas contrárias aos princípios de administração
pública na vertente da gestao da coisa pública, mas rejeitei. Por exemplo, o
chefe da Liga Nacional da Juventude do MDM, o deputado Sande Carmona, chamou-me
bandido.
Como é que um homem que aspira ser ministro usa esse tipo de termos? A
raiva de Sande Carmona contra mim resulta do facto de este ter vindo ao meu
gabinete com um amigo a propor uma parceria, com o município, para a criaçao de
um estúdio de gravaçao de música. Identificou o local e nós, como município,
aceitámos e prontificamo-nos a parcelar e legalizar novos terrenos para as
pessoas que seriam afectadas pelo projecto. Contudo, encarregamo-los, através de
um memorando de entendimento, as despesas de reassentamento assim como o
pagamento de taxas autárquicas. Assinamos o memorando há mais de um ano e nunca
mais os vi. Até hoje, nao há sinais de tal estúdio. Na verdade, o que Sande
Carmona queria era que o município movimentasse pessoas, construísse casas e reassentá-los
e ele ficar com o espaço a custo zero com o amigo. Nao aceitámos isso. Só que
eles estao enganados, porque nós vamos andar atrás deles para nos indicar o
estúdio ou, caso contrário, veremos quem é bandido. O Carmona vai ter de
explicar ao povo de Nampula quem é bandido.
E
quanto a Geraldo de Carvalho (na foto),que lhe chamou maluco...
Foi infeliz,
na medida em que disse que Nampula está num bom caminho, a cidade está a mudar,
está óptima, mas o problema está na cabeça. Como isso é possível? Como é que
podes dizer que o comboio está muito bem, a máquina está a transportar a carga
devidamente, mas a locomotiva tem problemas, Isso é possível?
Aí quem na
realidade nao está bem é a pessoa que faz esse tipo de pronunciamentos. Esses
termos de violencia, de mentiras, intrigas, calúnias e difamação sao o modus
operandi deles, porque isso é também incentivado pelo presidente
do partido. Digo isso porque, na última reunião do MDM em que participei, o
presidente do partido trouxe uma fita que mostrava membros do MDM violentando
membros de outros partidos na campanha eleitoral de 2014, na província de Gaza.
Disse que é assim que os membros do partido devem agir para nao serem abusados
e o presidente orgulha-se disso. Isso é um mau sinal. Como é que essas pessoas
vao se comportar quando chegarem ao poder?
...Então
para além de ser ditador, Daviz Simango(na foto esquerda) é violento?
De
certeza que para além de ser ditador é violento. Daviz Simango apresenta-se
como um homem de paz, mas na realidade ele nao é isso. As pessoas podem dizer
que eu tenho problemas com o partido, isso nao é verdade, apenas sou contra certas
práticas dentro do partido. Em
nenhum momento vou aceitar que as contribuiçoes dos munícipes de Nampula sirvam
para alimentar apetites individuais.No dia em que os dirigentes do MDM voltarem
a alinhar com os princípios que nortearam a nossa candidatura em 2014, voltarei
a estar ao lado deles. Aparecem empresários no meu gabinete a dizer que querem
apoiar o partido. Eu sempre lhes digo que essa ajuda deve ser fora do município
e com pessoas ligadas ao partido porque nao sou nenhum chefe.
Uma vez apareceu,
na minha casa protocolar, um empresário interessado em oferecer 200 mil
meticais ao partido. Disse logo que isso deve ser na sede do partido e nao na
casa do Conselho Municipal. Chamei Fernando Bismarque para receber o valor.
Agora nao sei se ele canalizou ao partido, mas recebeu o valor fora das
instalaçoes do município. Para além de Carmona e Carvalho temos outro papagaio
nesta ofensiva de me desacreditar perante a sociedade, que é o Fernando
Bismarque.
Este senhor, que até foi vosso colega, veio ao meu gabinete apresentar
um amigo que passaria a fazer parte dos concursos da edilidade. Respondi-lhe
que nao havia problema, mas todas as obras do Conselho Municipal de Nampula sao
na base de concurso público. Tentou convencer-me e até identificou uma obra
abandonada que o município estava em vias de adjudicar de forma directa. Pedi
para ir fazer a orçamentaçao e trazer a proposta financeira. Foram fazer seus
cálculos e apresentaram uma proposta de 16 milhoes de meticais. Fomos ao
mercado e procurámos outras propostas e acabamos efectuando a obra com qualidade
desejada por cinco milhões de meticais com outros empreiteiros. Isto é, uma
obra de 16 milhoes, que a empresa do amigo de Bismarque queria foi feita por cinco
milhoes. A minha questao é: para onde ia o resto do dinheiro? Imagina uma
pessoa gananciosa e ambiciosa como Fernando Bismarque como ministro? Todos os
moçambicanos estao mal.
O
presidente diz que não vai aceitar engolir sapos. Os preparativos para
o congresso do MDM estão a passos galopantes, pondera participar ou
já está consumada a sua retirada do partido?
Eu
nao sou presidente do partido. Espero que o presidente do partido tome a
decisao que lhe convier, eu nao estou preocupado, a minha concentraçao neste
momento é com os munícipes de Nampula.
Aventa
a possibilidade de renunciar ao seu lugar na Comissão Nacional MDM? Isso nao depende de mim, mas do presidente do
partido. A verdade é que nao vou vergar nos meus princípios. Nao
estou intimidado.
Tudo
indica que o divórcio entre o MDM e Mahamudo Amurane está
quase consumado. Quando é que vai oficializar a sua desvinculação do
partido? Que seja o presidente do partido a oficializar a minha
desvinculaçao. Aliás, tudo indica que a minha desvinculação está consumada,
porque, quando o presidente Daviz manda seus papagaios para violentar-me
ou difamar-me está a querer tirar-me do partido, mas cabe a ele efectivar essa
desvinculaçao, porque ele é que tem todos os instrumentos para fazer tudo o que
bem entender do partido.
Os
munícipes de Nampula podem contar com a candidatura do edil nas
próximas eleições? Independentemente do
apoio do MDM, vou levar o meu mandato até ao fim e a populaçao da
cidade de Nampula deve contar comigo nas próximas eleiçoes
autárquicas como candidato. Com ou sem MDM, serei candidato as
autárquicas de 2018.
Nao
estou preocupado com isso, porque a populaçao de Nampula está feliz com o meu
trabalho. Não é só Nampula, mas todo o país. Moçambique tem, neste momento, o melhor
gestor da coisa pública, que é Mahamudo Amurane. O trabalho que estou a fazer,
de proporcionar melhoria das condições de vida dos munícipes de Nampula, vai
ditar o meu apoio. Ninguém vence o povo e este está comigo,
porque sou bom gestor, simpático, jovem.
Vai
ou não participar no congresso do MDM em Dezembro próximo?
Que
congresso?
Do
MDM...
Tenho
muita coisa na minha cabeça que ocupa toda a minha agenda. Sabes que nem tenho
tempo para pensar nesse congresso? Neste momento estou mais concentrado em como
fazer as coisas. Aliás, acho que Moçambique devia ser isso. Assuntos da naçao
em primeiro lugar.
Se
não tiver apoio de nenhum partido político na sua corrida pelo pleito eleitoral
de 2018, aventa a possibilidade de criar o seu próprio partido? Isso dependerá daquilo que o povo almeja. Se no
futuro sentir que o povo quer contar com o meu próprio partido
nao vou hesitar. A dinâmica da vida é assim, ontem nao estava no
município, veio um grupo, acreditei no projecto e juntei-me.
Infelizmente, as minhas expectativas foram totalmente goradas e
hoje estou totalmente decepcionado.
Num
passado recente, o edil de Quelimane, Manuel de Araújo (foto), disse
que a crise do MDM é normal numa organização em crescimento. Qual
é o seu comentário?
Nao
quero acreditar nisso. Tivemos problemas com o senhor Ismael Mussá, que até
explanou publicamente e acabou por deixar o partido. O próprio Manuel de Araújo
foi vítima de humilhação e isolamento por várias vezes por expor suas opinioes
ou criticar a direcçao do partido. Agora, o meu colega Manuel de Araújo só
podia dizer aquilo devido ao seu passado. Esteve na Renamo e depois passou para
o MDM. Acho que nao se sente confortável em deixar o partido, porque
politicamente nao tem muito espaço de manobra. Com Amurane é totalmente
diferente. Eu sou voltarei a dizer Simango hoyeee... se as pessoas que lincham o
meu bom nome se retratarem publicamente.
Disse
recentemente que o país corre o risco de sair de uma oligarquia para
uma dinastia, a que se refere objectivamente? Nao
tem nada a ver com objectividade, já expliquei tudo sobre esse assunto.
0 comments:
Enviar um comentário