Uma nova Rota da Seda está a ser lançada pelo governo chinês, no âmbito
de uma visão de comércio global apelidada de “One Belt, One Road”. No total,
mais de 60 países vão ser envolvidos neste plano estratégico, ligados a
nível marítimo, rodoviário e ferroviário, num empreendimento que é já
conhecido como a “obra do Século XXI”. E há quem já compare esta
estratégia chinesa ao Plano Marshall, o programa de assistência técnica e
económica proporcionado pelos EUA aos aliados europeus no pós-II Guerra
Mundial. E há razões para isso.
“A China criou a
iniciativa intitulada como ‘One Belt’ e ‘One Road’. Queremos continuar a
tradição da Rota da Seda e dar-lhe um novo significado agora num novo século”,
explicou o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yisse aos
jornalistas, em Fevereiro, após as conversações trilaterais entre os Ministros
de Negócios Estrangeiros da Rússia-China-Índia. “One Belt, One Road”
(um cinturão, uma estrada), que fora já anunciado pelo Presidente chinês Xi
Jinping em 2013 é assim um plano estratégico de desenvolvimento que consiste na
criação de um corredor económico, lançado através de uma nova rota da seda.
Fazem parte da nova rota, a “Silk Road Economic Belt” (cinturão económico rota
da Seda – que ligará a China com a Europa através da Ásia Ocidental e Central
), e a “21st Century Maritime Silk Road” (Rota da seda marítima do século XXI -
que ligará a China com os países do Sudeste Asiático, a África e Europa). E
como o nome indica, são circuitos inspirados na antiga rota da seda, que ligava
o oriente e o ocidente que foi criada em 200 a.C. Como resume o
Economic Observer, o plano “One Belt, One Road” assenta essencialmente na
“visão de uma cooperação internacional que se estende da Ásia Oriental, em
rápido desenvolvimento, até ao coração do já desenvolvido continente europeu”,
passando por vários países em desenvolvimento. No total a nova Rota
da Seda inclui 60 países, entre os quais China (claro está), Bangladesh,
Malásia, Camboja, Laos, Mongólia, Mianmar, Cazaquistão, Paquistão, Azerbaijão,
Índia, Irão, Iraque, Nairobi, Egipto, Grécia, Turquia, Rússia, Alemanha,
Áustria e Itália. No conjunto, estes países somam o correspondente a cerca um
terço da economia mundial e abrangem entre três e quatro biliões de pessoas, ou
seja mais de metade da população do planeta.
A quem já chame ao
“One Belt, One Road” o plano Marshall chinês, em referência ao Programa
de Recuperação Europeia que através da ajuda Americana permitiu o crescimento
económico dos países envolvidos (incluindo os benfeitores EUA, através,
nomeadamente, do comércio). Além disso, anulou barreiras comerciais, abriu
espaço à integração europeia e consagrou a hegemonia dos EUA como a grande
potência - a vários níveis, entre os quais se destaca o diplomático. O plano do
governo chinês– e daí a comparação com o Plano Marshall - é em parte
derivado das necessidades da China em criar um ponto de entrada nas principais
economias mundiais, como aponta o Economic Observer. Mas também é, acrescenta a
publicação, uma “expressão das aspirações chinesas de desempenhar um papel mais
activo no reajuste e reconstrução do cenário político e económico mundial.” O
novo sino-plano surge após 30 anos de reforma e gradual abertura ao mundo,
durante os quais a China passou de um país essencialmente agrícola e pobre para
uma potência da manufactura. “Graças à ordem económica internacional existente,
dirigida pela troika do “investimento, exportação e consumo”, a China cresceu e
tornou-se a segunda maior economia mundial”, observa ainda o jornal chinês. Entretanto,
a crise financeira mundial veio abalar essa ordem económica que sustentava o
crescimento chinês. O país continuou a produzir em larga escala mas a procura
internacional diminui. Além disso, “a pressão do excesso de capacidade também
limitou ainda mais o crescimento do investimento doméstico”.
Impõe-se, agora,
novas estratégias e saídas, por onde possa continuar a alimentar o crescimento.
Ou seja, a lógica por trás do “One Belt, one road” é na semelhante a que os EUA
levaram a cabo depois da II Guerra mundial. Como analisa ainda o
Economic Observer, “Os líderes chineses têm optado por financiar o seu futuro
através da resposta às enormes necessidades de desenvolvimento dos seus
vizinhos. Em comparação com o excesso de capacidade da China e enorme capital
que precisa urgentemente de canais de investimento, os seus vizinhos ainda têm
aumentado rapidamente a demanda.” Assim, e na linha
das novas abordagens escolhidas pela China no que toca às suas relações com os
parceiros vizinhos, a potência, ao invés de investir e produzir internamente
para depois exportar para os mercados desenvolvidos, tem optado agora por
redireccionar a capacidade produtiva e capital para ajudar a alimentar as
economias asiáticas em desenvolvimento. E em causa já não
está apenas a manufactura, mas também os serviços, o capital e a troca de
experiência. Esta nova fase das
parcerias, que promove pois o desenvolvimento dos países vizinhos, afigura-se
também como uma nova etapa da posição chinesa em termos da diplomacia
mundial. “Além de exportar o
capital da China, a estratégia “One Belt, One Road” é uma importante
oportunidade para a superpotência mostrar uma visão completamente nova dos
interesses globais no espírito a que os líderes chineses referem com “uma
comunidade de destino”. Resta saber qual o
impacto interno de toda esta estratégia. Seja como for, o momento é histórico,
graças a esta colossal iniciativa.
Fazendo a rota.
Quando esta estiver estabelecida, de comboio será possível fazer o percurso
entre China (a partir da cidade de Xi’na) e Itália em sete dias. Por estrada, o
tempo de viagem é de cerca de 15 dias. Tanto a ferrovia quanto a rodovia
deverão cruzar, por um lado o Cazaquistão, o Iraque, o Irão e terminar na
Turquia. Por outro lado, haverá uma ligação com Moscovo (Rússia) e Hamburgo
(Alemanha), seguindo até ao porto de Veneza (Itália), onde se fará a conexão
com a rota marítima. Já pela rota marítima, um navio que saia da província de
Fujian, na China, demorará um mês até atracar no porto de Veneza, na Itália.
Actualmente, devidos às barreiras alfandegárias o percurso demora o dobro. A
rota por mar prevê a de portos exclusivos, e uma ampliação no Canal de Suez, no
Egipto. “Além de facilitar o comércio
entre Europa e Ásia, as novas rotas permitirão também avanços em áreas como
telecomunicações, fornecimento de energia (gás e petróleo) e aproximação das
duas culturas”, explica ainda o site brasileiro da área da Construção Cimento
Itambé..
As novas rotas estão
orçadas em cerca de 50 bilhões de dólares (40 do governo chinês e o restante
financiado por bancos europeus) e estima-se que as obras estejam prontas numa
década, embora sejam precisos pelo menos 30 anos para o seu funcionamento
pleno.
0 comments:
Enviar um comentário