Samora
Machel Júnior, filho do primeiro Presidente moçambicano, quer que a FRELIMO
abra um processo disciplinar contra o presidente do partido no poder e chefe de
Estado, Filipe Nyusi, por alegada violação dos estatutos.
Samora
Machel Júnior: "O presidente da FRELIMO e o secretário-geral pensam que a
FRELIMO é a sua vontade"
"Deve
ser instaurado um processo disciplinar ao camarada presidente e ao
secretário-geral [Roque Silva] por desrespeito aos mais elementares valores da
FRELIMO", afirma Samora Machel Júnior, membro do Comité
Central do partido no poder. A posição de Samora
Machel Júnior está expressa na sua defesa, a que a Lusa teve acesso, à nota
de acusação formulada pelo Comité de Verificação do Comité Central da Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO). A FRELIMO decidiu instaurar um processo
disciplinar contra Samora
Machel Júnior na sequência da sua candidatura à presidência do
município de Maputo nas eleições municipais de 10 outubro do ano passado pela
Associação Juvenil para o Desenvolvimento de Moçambique (AJUDEM), após ser
excluído das eleições internas do partido no poder.
Filipe
Nyusi, presidente da FRELIMO e chefe de Estado
Na
resposta, com 40 páginas, o filho de Samora Machel acusa Filipe Nyusi e Roque
Silva de terem violado os estatutos do partido para inviabilizarem a sua
candidatura a cabeça-de-lista da Frelimo à presidência de Maputo. "Eu
candidatei-me pela AJUDEM quando ficou claro que o presidente da FRELIMO e o
secretário-geral pensam que a FRELIMO é a sua vontade", lê-se no
documento.
Sobre
o facto de a candidatura
pela AJUDEM ter sido travada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE),
Samora Machel Júnior considera ter havido crime eleitoral, acusando membros
desta entidade de terem obedecido às ordens da cúpula da FRELIMO. "Tenho
provas cabais de terem existido vários crimes e ilícitos eleitorais, com
autores morais e materiais identificáveis, para a exclusão da AJUDEM junto da
CNE", refere a contestação.
O
filho do primeiro Presidente moçambicano (1975-1986) considera que a CNE está
partidarizada, acusando membros deste órgão de terem sido obedientes aos
comandos da Frelimo para serem bem vistos. "Engendraram as manobras
necessárias para ameaçar alguns subscritores da lista da AJUDEM. É ilícito
eleitoral, é crime", adianta o documento.
Samora
Machel Júnior acusa a direção do partido de ter permitido o enchimento de urnas
nas eleições internas da FRELIMO para permitir a designação de um candidato da
sua escolha a cabeça-de-lista às municipais de 10 de outubro. "No comité
da cidade, para a eleição do cabeça-de-lista, houve notável enchimento de urnas
e o primeiro secretário, em perfeito conflito de interesses, manipulou o
processo pré-eleitoral", considera a carta da defesa de Samora Machel
Júnior. Nesse sentido, prossegue, seria inútil impugnar o ato eleitoral, uma
vez que foi organizado por órgãos do partido que atuam em violação dos
estatutos. "Este processo disciplinar contra mim movido é um mecanismo de
branquear um processo eleitoral inquinado de todas as irregularidades",
acrescenta.
Samora
Machel Júnior diz que foi o único pré-candidato nas internas da Frelimo que
reuniu todos os requisitos necessários para concorrer como cabeça-de-lista pelo
município de Maputo, mas que viu essa pretensão travada pela direção máxima do
partido.
"O
Comité de Verificação do Comité Central devia ter tomado conhecimento de que o
camarada presidente do partido não está a empenhar a sua magistratura moral e
política, não defende a unidade e coesão internas, não garante o respeito pelos
princípios e valores da Frelimo, [e] viola gravemente os princípios e estatutos
da Frelimo", refere a contestação.
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