Em muitos países
africanos, é proibido possuir mais do que uma nacionalidade. Uma questão de
respeito pela pátria, orgulho ou um método de ditadura cultural?
A dupla
nacionalidade é proibida em muitos países africanos. São exemplos a República
Democrática do Congo, a Tanzânia e a Etiópia. Ou seja, qualquer cidadão natural
de um destes três países que queira adquirir uma outra nacionalidade, terá
de renunciar à antiga. Mas quais as razões por detrás de tal
regulamentação?
Foi esta a
pergunta de partida para um tabu que não parece ter uma resposta formatada.
Para Ahmed Rajab, jornalista e analista político, esta é uma questão que
continua a ser um "mistério", uma vez que os "benefícios da
dupla nacionalidade superam claramente as desvantagens".
"Talvez seja
uma questão de orgulho. Não consigo encontrar outra explicação senão o fato
destes países terem tanto orgulho nas respetivas nacionalidades, que não querem
que nenhum nacional adquira outra cidadania. No entanto, ficou provado, no caso
do Gana, [que legalizou a dupla nacionalidade em 2002], ou mesmo no
Quénia [2011], que o país sai beneficiado [em termos económicos] com as
receitas dos países onde vivem esses cidadãos que têm dupla
nacionalidade".
Quanto
ao analista político tanzaniano, Gwandumi Mwakatobe, vai mais longe. Para
ele, a razão por detrás do "não à dupla nacionalidade" nestes
países está para lá do orgulho. É que os líderes africanos em questão
apreciam a ignorância do seu povo, diz Gwandumi Mwakatobe.
"[As pessoas com
dupla nacionalidade que vivem no estrangeiro] estão expostas a muitas coisas e
têm uma visão diferente de muitas questões políticas ou relativas aos direitos
humanos. Têm mente aberta. Por isso, podem desafiar os Presidentes dos seus
países. Algo que não lhes convém".
É intenção de
vários líderes africanos manterem afastados da política dos seus
países este tipo de cidadãos com "ideias diferentes acerca do
funcionamento dos processos democráticos", constatam os especialistas
em assuntos africanos ouvidos pela DW. No entanto, Gwandumi Mwakatobe
lembra que, nos dias que correm, é cada vez mais difícil bloquear o acesso
à informação. "Actualmente,
devido à tecnologia, nada consegue impedir a comunicação. Mesmo na República
Democrática do Congo, onde a internet foi cortada, as pessoas continuaram a
comunicar. Não há que temer a dupla nacionalidade".
O analista
político tanzaniano salientou ainda, que "têm é de existir bons sistemas e
boas leis para garantir o crescimento e o sucesso dos países", reforçando
que "há muitas vantagens na dupla nacionalidade e as desvantagens que
existem estão, na sua maioria, relacionadas com o medo".
Em África, são
vários os políticos ou ex-políticos que possuem mais do que uma nacionalidade.
O Presidente da Somália, Mohamed Abdullah Mohamed, é cidadão somali, mas também
norte-americano. O mesmo acontece com a ex-Presidente da Libéria, Ellen
Johnson-Sirleaf, que tem raízes alemãs e libanesas. Moïse Katumbi, um dos
principais políticos da oposição na República Democrática do Congo, teve
nacionalidade italiana durante 17 anos. Essa foi, aliás, a razão pela qual não
foi autorizado a participar nas eleições presidenciais do ano passado no
respetivo país.
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