sexta-feira, abril 27, 2018

Presidente negro no Brasil


Resultado de imagem para joaquim barbosaEm dezembro do ano passado, uma delegação de nove deputados do PSB foi conversar com o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa, em seu escritório de advocacia no bairro do Jardim Paulista, em São Paulo. O articulador da reunião, o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG), pediu a todos que chegassem uma hora antes e que se reunissem primeiro numa padaria próxima do escritório. “Olhem só, ele não é fácil”, advertiu Delgado. “É muito formal, fechado. Exige ser tratado como ministro. Vamos, então, com cuidado”. Para surpresa de todos, Barbosa recebeu-os com sorrisos. O deputado César Messias (AL) não se conteve: “Ministro, o Júlio Delgado fez todo mundo chegar uma hora antes, cheio de recomendações sobre como tratar o senhor”. Barbosa sorriu: “É porque ele é mineiro e desconfiado, como eu”. Risos gerais. O ex-ministro acabava de ser mordido pela mosca azul da política.
Se desde então ainda havia dúvidas em Joaquim Barbosa quanto ao projeto de disputar a Presidência, elas diminuíram significativamente com a pesquisa Datafolha, publicada no domingo 15. Posto pela primeira vez como alternativa, Barbosa oscila nas intenções de voto entre 8% e 10%. Ele já aparece em terceiro lugar, atrás apenas de Jair Bolsonaro (PSL), com 17%, e Marina Silva (Rede), com 15%. Tem mais intenções de votos do que Geraldo Alckmin (PSDB), que varia entre 6% e 8%.Ele é socialista por convicção, mas é liberal na economia. Defende as privatizações

<strong>Infância</strong> Filho de um pedreiro e de uma faxineira, Joaquim Benedito Barbosa Gomes nasceu há 63 anos em Paracatu (MG). É o mais velho de oito irmãos. Aos 16, foi morar sozinho em Brasília e trabalhou na gráfica do Correio Braziliense“Ele encarna a necessidade de renovação política, mas mantendo princípios e valores claros, trazidos da sua atuação no Supremo”, resume o deputado Júlio Delgado, um dos mais ardorosos defensores da sua candidatura. Em maio do ano passado, o ex-ministro fez uma provocação nas redes sociais: “Será que o País estaria preparado para ter um presidente negro?”. Ao ler a frase, Júlio Delgado pediu uma audiência com Barbosa. Foi ao seu encontro no seu escritório de advocacia em Brasília. Encontrou um Joaquim formal, grave e rigoroso. “Pois não? Em que lhe posso ser útil?”, perguntou Joaquim. “Vim aqui porque fui provocado pelo senhor. Acho que o Brasil está mais do que preparado para ter um presidente negro”.
A partir daí, as conversas evoluíram. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, comprou a idéia. Tem sido ele o responsável por tentar quebrar as resistências internas. “Aparentemente, Joaquim é o candidato que queremos. Mas ainda precisamos conhecê-lo melhor”, disse Siqueira a ISTOÉ, demonstrando os cuidados de cravar a candidatura antes de todo o périplo de conversas do ex-ministro com os líderes do partido. Inicialmente, Barbosa dizia que só entraria no PSB se o partido garantisse que ele seria candidato à Presidência. “Ministro, isso não tenho como garantir. A candidatura vai precisar passar por conversas internas. Nem o Eduardo Campos (ex-governador de Pernambuco morto em um desastre aéreo na campanha de 2014) conseguiu isso”.
<strong>Posse com a família</strong> Quando tomou posse como ministro do STF em 25 de junho de 2003, Joaquim Barbosa se fez acompanhar por quase toda a família na solenidade: a mãe Benedita, o pai Joaquim (falecido há 8 anos) e os irmãos“Ele terá que aprender a lidar com o meio político e minimizar sua personalidade autoritária”Murilo Hidalgo, presidente do Instituto Paraná Pesquisas.
<strong>Ministro do STF</strong> Depois de cursos de Direito em vários países, como França e EUA, foi nomeado ministro do STF em 2003 pelo ex-presidente Lula. Foi ministro até 2014, quando se aposentou alegando dores na coluna
O namoro durou oito meses até que Barbosa, enfim, assinasse a filiação ao partido no dia 6 de abril. Mas o longo tempo de maturação das conversas no PSB demonstram que ainda há muito chão para pavimentar a estrada que vai levar Barbosa à Presidência. Para Murilo Hidalgo, ele “terá que aprender a lidar com o meio político e minimizar sua personalidade autoritária”. Pesa contra o ex-ministro, e isso também foi identificado no estudo da Big Data, justamente seu temperamento explosivo e falta de paciência. 
Resultado de imagem para joaquim barbosaDurante o mensalão, Barbosa abusou de discussões e trocas de farpas com colegas de Corte, especialmente com os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Em 2009, ele chegou a dizer a Gilmar Mendes: “Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso”. Barbosa foi também condenado em segunda instância por ofender um jornalista, dizendo que ele deveria “chafurdar na lama”. Sua sorte é que condenação por crimes de opinião não entram na vedação prevista na Lei da Ficha Limpa e ele pode ser candidato. Contornando as cascas de banana pelo caminho, Joaquim já tem a receita para um bom plano de governo: respeitar a Justiça, a ética e a moralidade.

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