Em dezembro do ano passado, uma
delegação de nove deputados do PSB foi conversar com o ex-presidente do STF
Joaquim Barbosa, em seu escritório de advocacia no bairro do Jardim Paulista,
em São Paulo. O articulador da reunião, o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado
(MG), pediu a todos que chegassem uma hora antes e que se reunissem primeiro
numa padaria próxima do escritório. “Olhem só, ele não é fácil”, advertiu
Delgado. “É muito formal, fechado. Exige ser tratado como ministro. Vamos,
então, com cuidado”. Para surpresa de todos, Barbosa recebeu-os com sorrisos. O
deputado César Messias (AL) não se conteve: “Ministro, o Júlio Delgado fez todo
mundo chegar uma hora antes, cheio de recomendações sobre como tratar o
senhor”. Barbosa sorriu: “É porque ele é mineiro e desconfiado, como eu”. Risos
gerais. O ex-ministro acabava de ser mordido pela mosca azul da política.
Se desde então ainda havia
dúvidas em Joaquim Barbosa quanto ao projeto de disputar a Presidência, elas
diminuíram significativamente com a pesquisa Datafolha, publicada no domingo
15. Posto pela primeira vez como alternativa, Barbosa oscila nas intenções de
voto entre 8% e 10%. Ele já aparece em terceiro lugar, atrás apenas de Jair
Bolsonaro (PSL), com 17%, e Marina Silva (Rede), com 15%. Tem mais intenções de
votos do que Geraldo Alckmin (PSDB), que varia entre 6% e 8%.Ele é socialista
por convicção, mas é liberal na economia. Defende as privatizações
“Ele encarna a necessidade de
renovação política, mas mantendo princípios e valores claros, trazidos da sua
atuação no Supremo”, resume o deputado Júlio Delgado, um dos mais ardorosos
defensores da sua candidatura. Em maio do ano passado, o ex-ministro fez uma
provocação nas redes sociais: “Será que o País estaria preparado para ter um
presidente negro?”. Ao ler a frase, Júlio Delgado pediu uma audiência com
Barbosa. Foi ao seu encontro no seu escritório de advocacia em Brasília.
Encontrou um Joaquim formal, grave e rigoroso. “Pois não? Em que lhe posso ser
útil?”, perguntou Joaquim. “Vim aqui porque fui provocado pelo senhor. Acho que
o Brasil está mais do que preparado para ter um presidente negro”.
A partir daí, as conversas
evoluíram. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, comprou a idéia. Tem sido ele
o responsável por tentar quebrar as resistências internas. “Aparentemente, Joaquim
é o candidato que queremos. Mas ainda precisamos conhecê-lo melhor”, disse
Siqueira a ISTOÉ, demonstrando os cuidados de cravar a candidatura antes de
todo o périplo de conversas do ex-ministro com os líderes do partido.
Inicialmente, Barbosa dizia que só entraria no PSB se o partido garantisse que
ele seria candidato à Presidência. “Ministro, isso não tenho como garantir. A
candidatura vai precisar passar por conversas internas. Nem o Eduardo Campos
(ex-governador de Pernambuco morto em um desastre aéreo na campanha de 2014)
conseguiu isso”.
“Ele terá que aprender a lidar
com o meio político e minimizar sua personalidade autoritária”Murilo Hidalgo,
presidente do Instituto Paraná Pesquisas.
O namoro durou oito meses até
que Barbosa, enfim, assinasse a filiação ao partido no dia 6 de abril. Mas o
longo tempo de maturação das conversas no PSB demonstram que ainda há muito
chão para pavimentar a estrada que vai levar Barbosa à Presidência. Para Murilo
Hidalgo, ele “terá que aprender a lidar com o meio político e minimizar sua
personalidade autoritária”. Pesa contra o ex-ministro, e isso também foi
identificado no estudo da Big Data, justamente seu temperamento explosivo e
falta de paciência.
Durante o mensalão, Barbosa abusou de discussões e trocas
de farpas com colegas de Corte, especialmente com os ministros Ricardo
Lewandowski e Gilmar Mendes. Em 2009, ele chegou a dizer a Gilmar Mendes:
“Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas
do Mato Grosso”. Barbosa foi também condenado em segunda instância por ofender
um jornalista, dizendo que ele deveria “chafurdar na lama”. Sua sorte é que
condenação por crimes de opinião não entram na vedação prevista na Lei da Ficha
Limpa e ele pode ser candidato. Contornando as cascas de banana pelo caminho,
Joaquim já tem a receita para um bom plano de governo: respeitar a Justiça, a
ética e a moralidade.
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