sexta-feira, maio 04, 2018

“Não seja usada para qualquer tipo de aproveitamento”


Resultado de imagem para dhlakamaO líder do maior partido da oposição em Moçambique morre num momento político delicado no país, em que o seu partido RENAMO e o Governo da FRELIMO estão a alcançar consensos no contexto das negociações de paz que opõe as duas partes. O processo negocial estava a ser liderado pessoalmente por Dhlakama e o Presidente moçambicano Filipe Nyusi. Silvestre Baessa é especialista moçambicano em boa governação, fala sobre o assunto.
Resultado de imagem para dhlakamaDWA: O que pode representar a morte do líder da RENAMO no contexto das negociações de paz?
Silvestre Baessa (SB): Essa morte tem implicações profundas em todo o processo político nacional. Primeiro perde-se um ator fundamental, penso que nos outros anos ficou claro que o esforço do presidente da RENAMO em busca de uma paz efetiva e o Acordo que se assinou resulta muito do seu empenho. As condições em que se encontrava extremamente difíceis que um líder, um ator principal num processo tenha conseguido em certa medida controlar esse processo e fazer o encaminhamento do qual hoje celebramos, com todas as críticas que se podem fazer em relação à essa proposta.
Resultado de imagem para dhlakamaPor outro lado, este ator saindo de cena e conhecendo a história da RENAMO não estou em crer que o presidente tenha pensado num substituto, que possa facilmente e rapidamente dar seguimento a isto. Penso que isso há-de ser um grande desafio, o próprio Presidente da República vai sentir muito a ausência do líder, até porque Afonso Dhlakama era o seu maior aliado neste projeto de paz ambicioso dentro do próprio partido e da sociedade para a realização deste Acordo. Sem esta figura naturalmente instala-se um clima de incerteza no país. Penso que a reação mais imediata vai ser a suspensão de todo este processo negocial. Acho que a RENAMO vai precisar de ter o seu tempo para alinhar as suas ideias, apesar do assunto já estar na mesa de negociações e no Parlamento e tudo indicar que nos próximos tempos teríamos uma decisão final do Parlamento. Creio que a morte abre duas possibilidades: tanto uma RENAMO fragilizada agora, mas também perigosa sem líder que tenha capacidade de estabelecer o seu controlo.
DWA: Podemos considerar que este é o risco de se personalizarem assuntos de interesse nacional?
Resultado de imagem para dhlakamaSB: Sem dúvida. Todo esse processo negocial foi feito a partir, por um lado pelo Presidnete da República na cidade com toda uma equipa de contacto, de diálogo, de apoio, e depois tínhamos o líder da RENAMO isolado nas matas com dificuldades de comunicação com a parte política da RENAMO, mas estou em crer que os termos como se chegaram aos acordos foram muito personalizados, então é natural que dentro da RENAMO neste momento não haja muita gente com o conhecimento suficiente para perceber como é que se chegou [ao Acordo] e o que é que está implicíto dentro de cada um dos pontos do Acordo. Então, é um risco que se corre com a personalização do poder, mas era o Acordo possível dentro das condições existentes. Ele continuava a explorar o seu maior trunfo que era manter uma força armada e que para tal tinha de estar fora do contacto mais urbano, onde ele teria todo o contacto, onde a RENAMO política teria um contacto maior e estar melhor informada sobre os avanços nesse Acordo.
Resultado de imagem para dhlakamaPresidente moçambicano diz que processo de paz não vai parar e lamentou não ter podido ajudar líder da Renamo a ir para o exterior; O Presidente moçambicano revelou que da última vez que falou com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama pediu-lhe que o processo de paz em curso no país terminasse com sucesso e prometeu que a Renamo “não ia falhar”. Na primeira reacção à morte de Dhlakama nesta quinta-feira, 3, na Serra da Gorongosa, fruto de complicações de saúde, Filipe Nyusi disse, em conversa telefónica com a televisão Televisão de Moçambique (TVM), que se sentia mal com a morte de Afonso Dhlakama. O Chefe de Estado moçambicano pediu para que a morte de Afonso Dhlakama “não seja usada para qualquer tipo de aproveitamento”.
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Na conversa, Nyusi revelou ter feito esforços para ajudar o líder da Renamo a procurar assistência médica quando soube que estava doente. “Estávamos num alinhamento total para resolver os problemas do país. Fiz todo o esforço para transferir o meu irmão para fora do país, mas não consegui. Já era tarde. Estou muito deprimido, profundamente chocado, porque não me deram tempo para agir”, afirmou Nyusi, indicando que só ontem soube que Dhlakama estava doente há uma semana. Ele garantiu ter feito diligências para que Afonso Dhlakama fosse levado de helicóptero da Serra de Gorongosa, para um hospital fora do país.
Resultado de imagem para dhlakamaO Presidente moçambicano não adiantou se irá ao funeral do líder da Renamo ou que tipo de cerimónia terá Afonso Dhlakama.
O líder do principal partido da oposição faleceu na manhã desta quinta-feira, na sequência de complicações de saúde. Fontes revelaram que Dhlakama teve uma crise decorrente de diabetes e tentou sair da Gorongosa em direcção de Sofala, de onde seria transferido para uma clínica na África do Sul. O antigo guerrilheiro e líder do principal partido da oposição faleceu aos 65 anos de idade. O corpo já se encontra na capital provincial de Sofala,cidade da Beira,  no Hospital Central local. No final do dia, familiares e dirigentes da Renamo dirigiram-se para Gorongosa a fim de preparar uma comunicação ao país, que deverá feita na manhã de sexta-feira, e os funerais de Afonso Dhlakama.

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