Nos últimos 90 dias usei métodos
jornalísticos para aferir a tendência política dos moçambicanos residentes nas
cidades municipais como Maputo, e notei que há um crescente número deles que
acha que a Frelimo já não é um bom partido, e alguns dizem que nas próximas
eleições autárquicas de Outubro próximo, votarão noutras formações políticas da
oposição.Entre os que responderam às perguntas com que
me baseei para diagnosticar o ambiente político prevalecente neste momento,
houve também muitos que disseram que não votariam em nenhum candidato ou
partido, porque não vale apena. Alegam que todos os políticos moçambicanos são
mesma farinha que só difere em estar em sacos diferentes. Alguns sustentaram
que tal se viu agora na segunda volta da Intercalar de Nampula, onde todos os
partidos da oposição apoiaram o candidato da Renamo. Isto provou que o que
todos eles querem é destronar a Frelimo do Poder mesmo que para tal tenham que
entrar num Pacto com o Diabo. Durante as conversas que entabulei com vários
compatriotas, notei também que tanto os que dizem que continuarão a votar na
Frelimo, como os que apostarão na oposição, o seu somatório tende a ser pouco
em relação à totalidade dos que revelaram que não irão votar simplesmente.
Entendem que mesmo votando não mudará o marasmo em que para eles o país está
mergulhado.
Fiquei com a percepção de que caso não se
faça nada de vulto que altere a atitude pessimista e negativista,
particularmente entre os jovens, haverá um grande absentismo, tal como se viu
agora naquela Intercalar de Nampula a 14 deste Março, em que 75% dos que deviam
votar não votaram simplesmente. Aliás, esta Intercalar confirmou grande parte
do que já havia apurado nesse diagnóstico jornalístico com que baseei-me para
elaborar este artigo. Já o meu colega Paul Fauvet aduzira assim que se
divulgaram os resultados da Intercalar de Nampula, que também nas eleições
municipais de 2013, o absentismo foi igualmente tão elevado quanto na primeira
e segunda voltas da Intercalar de Nampula. De resto, mesmo nas gerais
realizadas entre 1994 e 2014, registou-se em quase todas um acentuado
absentismo. Para os simplistas, isto prova que os moçambicanos já se
aperceberam que os políticos não os servem.
Só que o problema é mais complexo
que exige uma análise mais aturada.Para tentar perceber porquê há cada vez mais
moçambicanos que já acreditam que a Frelimo está a governar mal, ou que optam
por não votar simplesmente, porque assumem que não mudaria as suas sôfregas
vidas, fiz um estudo comparativo com os eleitores dos países cujos povos não se
confrontam com problemas tão básicos como os que asfixiam a maioria dos
moçambicanos, que neste caso consistem em salários baixíssimos que os condena à
fome e outros problemas que os tira a paz do espírito e até o sono.
No estudo escolhi a Grã-Bretanha, que conheço
mais ou menos bem, dado ter vivido lá um bom par de anos, a Alemanha, porque e
lá por algum tempo, é lá onde fiz alguns estudos profissionais e, finalmente, a
Noruega, que foi proclamado este ano como o único país do Mundo cujo seu povo
se considera agora feliz, dado ter as suas necessidades básicas já
completamente satisfeitas. Basta dizer que a partir deste ano, mesmo os seus
desempregados passam a ter um salário calculado em função do que custa um cabaz
normal e o do arrendamento duma habitação condigna.
Mas por incrível que pareça, o que apurei no
tocante ao seu sentimento politico e tendências eleitorais, surpreenderam-me
bastante também pela negativa, e levou-me a dar mais razão ainda ao agora
falecido jornalista português, Augusto de Abelaira, quando dizia que Governar é
Desagradar. O que apurei convenceu-me tambem da validade da tese do nosso
ex-Presidente, Joaquim Chissano, de que a tendência do ser humano é ser sempre
insatisfeito com tudo.
O que prova tanto a veracidade das teses de
Abelaira e a do Presidente Chissano, é que apesar dos povos destes três países
não viajarem em My Loves, mas em transportes públicos de luxo se não for no seu
próprio, apesar de que vão à cama tendo comido o suficiente e não pouco comida
ou nada, como acontece com a maioria dos moçambicanos, apesar de que os seus
governos não contraíram dividas ocultas, apesar ainda de que todos eles têm
hospitais públicos de grande qualidade, apesar de que os seus filhos estudam em
escolas e universidades públicas que têm todas as condições…apesar ainda de que
os seus povos recebem dos seus governos quase tudo o que precisam, ainda assim
a maioria tem votado cada vez menos nos partidos que estão no poder, como o
provam os dados eleitorais que passo a revelar, referentes às ultimas eleições
realizadas o ano passado em cada um dos três países.
Por exemplo, nas eleições gerais do ano
passado, apesar de que o partido no poder de Ângela Merkel teve sempre um bom
desempenho durante todos os três consecutivos mandatos que já teve desde que
ganhou pela primeira vez há cerca de 20 anos, o certo é que desta vez, não
conseguiu votos suficientes que a permitissem formar sozinha um governo, sem
ter que se coligar com outro(s) partido(s).Na verdade, o país esteve durante mais de
seis meses sem governo, porque nenhum dos partidos que se posicionaram a seguir
aceitavam coligar-se com a União Democrata Cristã (CDU), de Ângela Merkel. O
CDU teve apenas 33% dos mais de 61 milhões dos que votaram, de um total de mais
de 81 milhões de alemães. Não conseguiu constituir o executivo porque o SPD, de
Schulz, que neste caso averbou 20,8% dos votos, se recusava a coligar-se com a
CDU.
O mesmo cenário se passou na Grã-Bretanha,
onde o Partido Conservador da Primeira-Ministra Theresa May empatou quase com o
seu eterno adversário, o Partido Trabalhista, dado que a diferença de assentos
entre os dois foi de apenas 55 parlamentares. Este desfecho de 317 deputados
para os Torys contra 262 dos trabalhistas forçou May a se coligar com o Partido
Unionista Democrático (DUP), da Irlanda do Norte, para puder somar com os 10
assentos deste, e assim puder ter uma maioria parlamentar para governar com
alguma estabilidade.Onde se prova que os seres humanos nunca se
sentem satisfeitos com nada que têm já, é na Noruega, onde nas últimas eleições
de 2017 o seu Partido Trabalhista (PT) no poder teve apenas 27% dos votos ou 49
dos 169 assentos do Parlamento, e que teve de se coligar com mais cinco
partidos para poder formar um governo representativo.\
O PT teve que se coligar com o Partido
Conservador, que teve 25% dos votos correspondentes 45 assentos, com o Partido
do Progresso, que obteve 15,2% ou 27 assentos, com o Partido da Esquerda que
arrecadou 19 lugares correspondentes a 10,3% da totalidade dos votos validos e,
finalmente, com o Partido Liberal, que averbou 11 lugares, o que equivale a
4,2% dos que votaram. Esta tendência de se punir os partidos no Poder ou
antigos é geral, como se viu na França onde o seu eleitorado atirou para o lixo
as formações políticas históricas e elegeu o recém-formado partido de Emanuel
Macron ou mesmo nos EUA, onde se assume que todos os seus cidadãos têm tudo,
catapultaram o empresário e apolítico Donald Trump à Casa Branca.
Como se pode ver, mesmo os povos cujos países
são Paraísos na Terra quando vistos pelos olhos de nós que estamos ainda na
estaca zero do nosso desenvolvimento, e que faz com que o que temos a mais
sejam problemas e sofrimento, não estão em consenso sobre quem os deve
governar, daí que os seus votos estejam dispersos em mais do que um partido.
Isto prova que é válida a tal tese de Abelaira de que Governar é (de facto)
Desagradar, ou essa de Chissano de que os seres humanos são sempre
insatisfeitos com tudo. Minha mãe diz sempre que se os que morreram antes da
nossa independência pudesse ressuscitar e ver como está o nosso país, diriam
que o transformamos num autêntico paraíso. Ela diz isto sempre que vê crianças e jovens
de cor irem massivamente às escolas e universidades quando no tempo dela tal
era nos negado deliberadamente pelos colonialistas, sempre que vê jovens de
raça negra de ambos os sexos ao volante dos seus carros, sempre que vê jovens a
viveram em casas de alvenaria e não mais nas de caniço e capim…Ela remata
sempre que nunca pensou que isto fosse acontecer aqui no nosso país. Por isso,
ela fica muito ofendida quando ouve alguns jovens formatados pela Quinta-Coluna
proclamarem que temos que nos libertarmos dos nossos libertadores.
Já Nelson Mandela contou no seu mais famoso
livro A Longa Marcha para a Liberdade, que quando viajou na Etiópia em 1962 num
avião pilotado por negros, ficou perplexo, e sentiu-se mais impelido a lutar
contra o regime racista do apartheid. Mandela vinca que este facto levou-o a
concluir que Independência é sinónimo de se passar a ter direito a tudo o que
nos era negado pelos regimes coloniais ou racistas, incluindo o direito à saúde
e educação.
Portanto, assumo que os moçambicanos que
dizem não irão votar ou que só optarao pela Oposição, podem estar a provar
também uma tese de Giovani Papini, que reza que a tendência dos humanos é
gostar mais do ignoro, isto é, do que é novo ou que nunca antes provaram.É este gosto pelo ignoto que faz com que
mesmo os quem teem belíssimas esposas, se sintam atraídos pelas outras
mulheres, mesmo que não sejam mais bonitas ou ajuizadas que as suas. É este
mesmo gosto que faz com que apreciemos mais a mobília da loja mesmo que não
seja melhor que a que temos nas nossas casas.
É este gosto que fará com que
alguns de nós votemos nas próximas eleições nos partidos que de partidos não
têm nada, incluindo os que são assassinos por tendência, só para satisfazermos
a vontade de mudar por mero capricho, ou como dizem os ingleses, for sake of
change. Não é por acaso que o conceituado sociólogo e analista Elísio Macamo
nos alerta para não apostarmos em mudar por mudar, no seu último artigo que
publicou nas redes sociais este fim-de-semana, com o título TER JUÍZO.
É imperioso que tenhamos juízo, para que não
sejamos levados a preferir aqueles que nuca fizeram nada de especial senão
terem feito do nosso país um autentico inferno, e terem retardado o nosso
desenvolvimento.
Temos que TER JUIZO porque há todo um esforço
coordenado e consertado pelas chancelarias dos países que não toleram ver os
povos cujos países estão abençoados por imensuráveis riquezas naturais
desfrutarem delas. Temos que TER JUIZO, porque se desejassem o nosso bem, não
aplaudiriam os tais partidos que nos têm submetido no belicismo infernal, e
depois atribuirem sistematicamente culpas ao nosso governo ou sempre que são
perpetrados crimes pelos malfeitores, como o estão fazendo agora que o meu
colega Ercílio de Salema, foi raptado e brutalmente mal tarado. No lugar de nos
providenciarem com os meios sofisticados de que dispõem para que a nossa
polícia descubra os seus autores, o que fazem é apregoar a tese de que o seu
rapto foi mais uma obra do regime sem apresentem provas.
A única prova que dão é que ele foi alvo do
rapto porque criticou a conduta de Florindo, um dos filhos do presidente Nyusi.
Isto é falácia, porque há muita gente que tem diabolizado o próprio o
presidente Nyusi e que tem indignado muitos moçambicanos pelos insultos que proferem
contra ele nos seus jornais, mas que ele nunca se vingou contra nenhum deles.
Porque será agora que ele se vingaria contra Salema por ter criticado o seu
filho?
A maneira leviana com que se tem feito as
acusações contra os sucessivos governos da Frelimo, é como se Moçambique fosse
o único país onde ocorrem crimes ou raptos. Qualquer um que fazer uma busca na
Google dar-se-á conta que há raptos em quase todos os países, incluindo nos que
têm máquinas que filmam quase tudo que ocorre, como os EUA e outros ocidentais,
mas que mesmo assim não conseguem esclarecer todos os crimes que são
perpetrados. Mas já querem que seja a nossa polícia a apanhar todos os
raptores, não obstante seja um facto notável que já tivemos momentos em que os
raptos ocorriam todas as semanas de dia e de noite, mas que agora reduziram
quase para zero, graças ao trabalho da mesma polícia que se acusa de nunca
fazer nada.Temos que nos indagar da razão que leva os
que culpam recorrentemente o nosso governo, mas já não culpam aqueles políticos
da oposição que de facto são assassinos por tendência e assumem publicamente
que o são. Porquê é que nunca os acusam, e em contrapartida os aplaudem e os
apoiam por todos os meios, para que sejam cada vez mais os preferidos pelos
eleitores incautos. Porquê será? Será mesmo porque nos querem o bem, ou é para
que tenhamos no futuro governos que os dêem de bandeja todas as nossas
riquezas?
Para que não sejamos empurrados para a
lixeira política, temos que TER MESMO JUÍZO, como nos alerta Elísio Macamo,
para que não caiamos no abismo em que os nossos multiplicados inimigos e seus
aliados da Quinta-Coluna, nos querem atirar. Temos que ter em conta que o que
fizemos nos 43 anos da nossa independência infernizada por esses nossos
multiplicados inimigos É MUITO, e teríamos feito muito mais, se não fosse
porque nos devastaram pelas guerras que nos foram movendo.Acima de tudo, temos que saber donde partimos
e com que meios humanos, materiais e financeiros em 1975. Com isto não quero
dizer que não se cometeram erros e não houve roubos, mas não há país que os não
se cometem. O importante é afinarmos o método de escolha dos que nos devem
liderar, e mudarmos os que continua montado sem justa causa os nossos cavalos
de guerra, e não os próprios cavalos que já provaram que são bons corredores.
Por: Gustavo Mavie
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