"Nem sempre o que é apoiado pela maioria
é que é correcto ou bom."
Margareth Thatcher
A conceituada revista britânica 'The
Economist', que neste ano completa 75 anos desde que começou a ser publicada em
1843, contém na sua edição de 10 de Março último, um artigo que analisa com
inusitada profundidade, a tendência geral dos eleitores dos países com
democracia multipartidária em África, Américas, Ásia e na Europa, onde a
maioria tem votado mais pelos novos partidos populistas e não pelos mais
estabelecidos ou históricos com uma longa experiência governativa.
Nesse artigo intitulado 'A Vote for
Irresponsability' (ou Um Voto pela Irresponsabilidade) e que me inspirou tanto
o título como este artigo, tem como principal tema as últimas eleições gerais
italianas, realizadas a 4 de Março último, em que os partidos históricos
sofreram derrotas humilhantes, enquanto os de tendência populista que foram
formados nos últimos anos, tiveram a preferência da maioria dos eleitores.
O 'The Economist' diz que o que é mais
alarmante é que dois dos novos partidos mais votados são exactamente os mais
populistas, porque prometeram o irrealizável aos cidadãos italianos. Trata-se
do Movimento 5 Estrelas (M5E), fundado há menos de cinco anos pelo comediano
italiano Beppe Grillo, mas que agora é liderado pelo seu comparsa Luigi Di
Maio, e a Liga Italiana (LI), sob a presidência de Matteo Salvini.
Praticamente, o M5E e a LI passam a ser pela
primeira vez os principais partidos da Itália, colocando assim na cauda todos
os antigos que durante décadas governaram aquele País europeu. Estas eleições
italianos são já tidas como um "desastre político" para aquele País.
É um DESASTRE POLÍTICO que me parece que poderá ocorrer também em Moçambique,
se nada licitamente contrariante for feito com urgência, dado que tenho notado
que há cada vez mais moçambicanos que afirmam que irão votar contra o seu
partido histórico, que é a Frelimo, durante as próximas eleições municipais de
10 de Outubro próximo e as gerais de 15 de Outubro do próximo ano.
Uma das antecâmaras desta tendência
pro-partidos populistas com agendas irrealistas foi, a meu ver, a vitória de
Paulo Vahanle na Intercalar de Nampula, porque também pescou o eleitorado com
promessas tão falsas quanto dos charlatães que dizem ter medicamentos que curam
tudo, como a SIDA, ou que podem nos enriquecer ou fazer com que uma mulher
muito bonita ame loucamente qualquer homem. Uma das suas falsas promessas de
Vahanle foi dizer que caso fosse eleito, daria emprego a todos os jovens da
cidade de Nampula, e resolveria o problema do lixo que se acumulou após o
bárbaro assassinato de Amurane em seis meses. Estas promessas revelaram em
ponto grande esse populismo de que fala o 'The Economist'. É que seis meses é o
tempo que alguém precisa para se inteirar desses problemas e reunir depois os
meios com que os resolver.
O 'The Economist' vinca que o que é mais alarmante e
preocupante é que a Itália é apenas um de tantos outros países dos cinco
continentes que viram os seus partidos históricos serem preteridos pela maioria
dos seus eleitores a favor dos recém-constituídos, que têm como 'modus
operandi' o tal populismo puro. O que é mais preocupante é que esta febre
populista afecta mesmo os países cujos povos vivem num bem-bom, como é a
próspera Alemanha, onde ocorreu quase o mesmo durante as eleições realizadas em
Setembro do ano passado, a tal ponto que o país ficou seis meses sem governo
até Março último. O partido CDU no poder já há 21anos, de Angela Merkel, acabou
sendo forçado a fazer uma grande coligação com vários partidos para que pudesse
finalmente constituir neste mês um Executivo com um mínimo de condições para
governar com alguma estabilidade. Teve de se coligar porque o CDU teve apenas
33% dos 61 milhões de alemães que votaram, de um total de mais de 81 milhões
que são podiam votar.
Outro dos países europeus que regista uma
tendência de se votar os partidos com menos experiência por prometerem mais do
que Deus pode atribuir, é a Noruega, o único país do mundo cujo povo se assume
feliz, porque já tem tudo o que quer, mas que ainda assim não está nada feliz
com os políticos que os lideraram para o bem-estar absoluto em que está. Tal
insatisfação política viu-se durante as últimas eleições do ano passado, em que
o Partido Trabalhista (PT) no poder, a quem se atribui em parte o mérito de ter
ajudado a catapultar os noruegueses ao bem-estar em que vivem, teve apenas 27%
dos votos, ou 49 dos 169 assentos do Parlamento. Isto traz de volta o caso de
do então Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill, que perdeu as eleições
gerais depois de ter liderado a Grã-Bretanha durante a II Guerra Mundial até à
vitória dos aliados em 1945.
Essas eleições foram então ganhas por outro
populista, Clement Attlee, porque prometeu o que chamou dum novo "contrato
social" para todos os britânicos, aproveitando o seu cansaço pepel guerra
e pelo racionamento dos produtos alimentares básicos, como acontecia com os
moçambicanos durante a guerra dos 16 anos.
Esta tendência de se punir os partidos no
Poder ou antigos é geral, como se viu também na França, onde o seu eleitorado
atirou para o lixo as formações históricas e elegeu o recém-formado partido de
Emanuel Macron, bem como nos EUA onde se assume que todos têm tudo, mas que
entretanto o seu eleitorado catapultou o empresário e apolítico Donald Trump à
Casa Branca, onde tem estado a revelar as suas incongruências, e que levam
mesmo os que votaram nele a se arrependerem. Tal como na Alemanha, o PT viu-se forçado
a se coligar com mais cinco partidos para poder formar um governo
representativo.
Como se pode ver, mesmo os povos cujos países
são já Paraísos na Terra aos olhos de quem ainda vive nos que estão ainda na
estaca zero do seu desenvolvimento, são manipulados pelos populistas que os
prometem melhores paraísos, como o fez Trump quando prometeu aos seus
compatriotas que faria da América "grande outra vez" e resgataria os
empregos que alegou terem sido roubados pela China. Agora que ganhou as
eleições ele está na verdade reduzindo a sua grandeza com as asneiras que vai
cometendo. Entre elas destaco as guerras bélicas que vai movendo, como os
bombardeamentos que moveu agora contra a Síria, e as económicas contra a China
e a Rússia, bem como contra os seus vizinhos, mais concretamente contra o
México onde já começou a preparação da construcao do tal murro.
Como dizia num artigo que escrevi a 30 de
Março último, antes mesmo de ler esse do 'The Economist' que acabou
inspirando-me este, reitero que tenho notado que há cada vez mais compatriotas
que estão sendo persuadidos pelos populistas, para que votem neles, mas que a
meu ver só levarão Moçambique ao abismo em que sempre tentaram atirá-lo pela
força das armas que vêm empunhado há 42 anos já. Cheguei a esta conclusão na
base de algumas auscultações ao nível das zonas urbanas em particular, que
agora cimentei mais ainda com o que li neste artigo da 'The Economist'.
O que é que mais preocupante para mim é que
entre nós não temos só populistas, como temos políticos que não valorizam a
própria vida humana, dado que ao longo de vários anos só mataram impiedosamente
os seus próprios compatriotas. Quem tentar negar este facto que estou aqui a
dizer, é o mesmo que negar que o Sol existe, que nunca o viu, que jamais o
iluminou ou que nunca o queimou com o seu calor. O facto inegável é que temos
pelo menos um partido que está sendo mais preferido, mas que nos caçava sem
piedade até ao Natal de 2016, ao mesmo tempo que nos metia medo de viajar à
vontade, só para forçar o Governo de Nyusi a entrar num pacto que lhe
permitisse governar também mesmo que não tenha ganho as eleições à luza das
leis em vigor no país, que determinam que só governa quem tiver 50% por cento
dos votos mais 1 na contagem geral.
O que é mais triste é que entre os problemas
que nos afectam agora, há muitos que foram provocados pelos mesmos partidos que
agora prometem nos levar ao paraíso, quando na verdade só nos empurrarão cada
vez mais para o inferno, uma vez que nem sequer conseguem organizar-se no seu
próprio seio, não obstante alguns deles existam há 42 anos já. Este é o caso da
RENAMO, que foi criada um ano depois da nossa independência, isto é, em 1976, e
que viria a iniciar uma guerra sem quartel em 1977 contra o governo de Samora
Machel, o proclamador da nossa independência em 1975. A RENAMO encaixa na
definição feita por Khadafi no seu 'O Livro Verde', de que "o partido da
oposição que deseja alcançar o poder, opta por sabotar as realizações do
governo para o desacreditar perante o povo".
O que temos que nos perguntar é porquê é que
esta mesma Renamo começou a mover uma guerra contra o fresco governo de Samora
Machel, não obstante fosse constituído por moçambicanos de todas as regiões de
Moçambique e de todas as etnias e raças que comprazem o multirracial povo
moçambicano, como se pode ver através das fotografias da época que estão nos
arquivos e na mágica Google. Se não fazermos isso, nunca ganharemos o juízo como
nos instou Elísio Macamo num célebre artigo que publicou há semanas, em que nos
alertando sobre o perigo que corremos de querer alternância a todo o custo, sem
avaliarmos bem quem tomará conta do leme do nosso País. Se não ganharmos o tal
juízo, não tardará muito que acordaremos no abismo que está sendo cavado pelos
tais partidos populistas de que fala o The Economist.
O 'The Economist' aponta algumas das causas
comuns que provocam a crescente rejeição dos partidos históricos e fomentam
esta tendência de se votar mais pelos novos. Aponta, entre outros, o acentuado
desemprego entre jovens de ambos os sexos na fasquia etária dos 15 aos 24 anos,
a estagnação dos salários em contrapartida com o crescente custo de vida, que
está afectando a maioria das famílias mesmo nos países ocidentais, incluindo
nos EUA onde mais de 56% dos habitantes confessam que já não aguentam mais com
a carestia da vida, e a percepção de que os políticos só se servem mais a si
próprios e não aos que os colocam no poder---que é o povo que vota neles.
Estas causas já tinham sido diagnosticadas no
começo da década de 90 pelo então Secretário-geral da ONU, Boutros-Boutros
Ghali, quando em oposição às políticas económicas desumanas da globalização
económica, alertava que ao se favorecer mais a acumulação da riqueza nas mãos
dos privados com a bênção dos próprios políticos, tal causaria um divórcio
entre estes e os seus povos.
Volvidos pouco mais de 20 anos, esse divórcio
já está a acontecer. Só que como os próprios divórcios entre os casais, o mais
provável é que deixarão um sabor amargo para ambos, porque está mais que
provado que as novas formações políticas que estão sendo mais votadas não irão
proporcionar os paraísos que prometem. O que os seus fundadores querem mesmo é
se valerem dessas falsas promessas para chegaram também ao poder, e desfrutarem
dele até ao dia em que serão também pontapeados, tal como aconteceu já com
vários outros populistas na História de muitos países, entre os quais destacou
pela afinidade connosco, o então sindicalista zambiano, Frederikc Chiluba, que
derrotou o partido independentista UNIP, do Pai da Nação zambiana, Kenneth
Kaunda, na mesma década de 90.
É imperioso dizer que o entao falacioso
Chiluba praticou uma grande corrupção que dizia que iria combater até ser
levado à barra do tribunal, como não conseguiu dar leite e mel a todos os
zambianos como havia prometido, e deixou a Zâmbia pior do que quando era
governada por Kenneth Kaunda. Com Chiluba ficou provado que nem sempre o que é
preferido pela maioria é bom como dizia em vida Margareth Thacher. Eu podia dar
muitos outros exemplos da nossa região como do resto do Mundo que provam que os
populistas não têm força mágica nem remédios milagrosos para proporcionar a
cada um e todos os seus compatriotas a abundância. Não é por acaso que Martin
Luther King Jr. avisou há mais de 60 anos, que O Estado de abundância não é algo
que se encontra, mas que se faz com o trabalho árduo. Não há governos que dão
tudo o que cada um dos seus cidadãos quer. Infelizmente noto com preocupação
que há cada vez mais compatriotas que acreditam cegamente que há
partidos-deuses que nos darão tudo numa bandeja. Quem assim acredita é ingénuo.
O bem-estar de cada um de nós virá do trabalho árduo de cada um de nós e
obviamente de todos nós.
E no caso dos jovens, tudo deve começar pelo
estudo sério e não pela arte de bem cabular que tem sido o modus operand de
muitos deles. Temos de aprender com o exemplo dos chineses que há 30 anos
acordaram e assumiram o trabalho árduo como religião da sua salvação. Alguma
coisa está mal connosco próprios, porque cidadãos de outros países que aqui se
fixaram estão prosperando por entre as nossas lamentações, como são os casos
dos portugueses que estão fazendo negócios, dos da Ásia que fazem o mesmo, até
mesmo dos da nossa África, como os da região ocidental africana que aqui
criaram pequenos e grandes negócios e estão enriquecendo a olhos vistos!
Não é por acaso que o filósofo alemão Goethe
dizia que a miséria que te oprime não tem nada a ver com a sua profissão mas
consigo próprio, porque a mesma profissão faz prosperar outros. Temos que
acordar do longo sono em que a maioria de nós está, e deixarmos de acusar o
nosso governo de nada fazer por cada um de nós. Falei longo? Sim, falei mas é
imperioso debatermos com franqueza e de forma directa todos os problemas que
nos afectam, antes que se tornem insolúveis. Eles não se dissiparão nunca por
negar a sua existência---só falando com frontalidade é que chegaremos a um
entendimento, porque como bem diz o académico Norman Nel, só as palavras têm o
poder de motivar, inspirar, encorajar e mesmo de CURAR. E nós precisamos duma
CURA URGENTE E ADEQUADA para não perdermos a nossa VISÃO e o CAMINHO que nos
levarão à Terra que nos foi Prometida por Eduardo Mondlane e Samora Machel e
por todos os que libertaram este País do tenebroso colonialismo.
(Por Gustavo Mavie /jornalista)
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