sábado, junho 19, 2010

... então estamos juntos

O antigo combatente da Luta de Libertação Nacional, Jorge Rebelo, entende que os desafios que os jovens têm que enfrentar hoje não têm nada a ver com a libertação do país tal como aconteceu com a sua geração no passado. Falando em Maputo por ocasião dos 35 anos da Independência Nacional, num encontro promovido pelo Parlamento Juvenil de Moçambique, o também antigo ministro da Informação no governo de Samora Machel defendeu que o mérito conquistado pela geração que trouxe a Independência ao país também podia ter sido alcançado pelo jovens de hoje caso tivessem vivido no mesmo contexto. Jorge Rebelo chamou atenção aos jovens no sentido de não olharem para os antigos combatentes com tanta veneração. “Muitas vezes tenho sentido que os jovens encaram os antigos combatentes dessa forma, mas é preciso reparar que eles fizeram o que fizeram porque sentiram que a Pátria precisava deles para libertarem o país”, elucidou. Acrescentou que hoje já não é preciso libertar o país. No passado, os jovens da Frelimo tiveram que ir à escola aprender a pegar em armas, a estudar a posição do alvo, a disparar, mas hoje os jovens devem direccionar a sua inteligência, conhecimento e coragem para outros combates, como o combate à pobreza, ao analfabetismo, a SIDA, à corrupção, a descoberta de novas formas de aumentar a produção agrícola, a comercialização, assim como criar mercados internos e externos. Rebelo disse não compreender muito bem o que é Geração da Viragem, uma vez que nunca ninguém apareceu a explicar muito ao certo se a tal viragem significa virar para onde. “É para frente? Não percebo como é que se pode virar para frente”, disse. Para se expressar melhor diante dos jovens, o antigo combatente recorreu a um artigo do jornalista Bayano Valy, publicado na última edição do SAVANA Rebelo concorda com muitos aspectos colocados pelo jornalista, o qual propôs, ao invés de uma geração da viragem, uma geração da verdade. No referido artigo, Valy refere que a Geração da Verdade seria uma geração de jovens pensantes, com vontade e consciência própria, que não se preocupassem em defender as cores de seja qual fosse o partido politico, raça, religião, etnia, mas sim as cores da bandeira nacional, visando promover o bem-estar cultural, social, económico e politico. Bayano Valy, parafraseado por Rebelo, defende uma geração que colocaria as ferramentas científicas ao seu dispor na busca constante da verdade, comprometida em promover a cidadania e alargar o debate na esfera pública, uma geração que promoveria ideias pelo seu mérito e não pela sua atracção política, religiosa, racial ou étnica. No entender de Rebelo, os jovens também podem encontrar inspiração para a construção dos seus ideais na Carta Africana da Juventude. Jorge Rebelo avisou que é necessário que os jovens tenham um espírito aberto e que saibam aceitar as posi-ções dos outros, mas combatendo sempre os dogmas através do questionamento constante das soluções aca-badas. Isso, segundo ele, tem que ser feito da maneira mais científica possível, quebrando tabus. “O contrário disso atrofia a análise e leva-nos a aceitar tudo o que vem como certo, incontornável e indiscutível. Aceitar tudo equivale ao lambebotismo, que é o maior mal que graça a nossa sociedade, onde as pessoas tendem a querer agradar o chefe, com todas as artimanhas possíveis”, precisou. Rebelo disse ter aceite o convite do Parlamento Juvenil de Moçambique pelo facto de ser uma organização de jovens que tem sido conotados como rebeldes. “Foi isso que me atraiu a vir ao debate. Primeiro porque sou um rebelde, não aceito soluções acabadas. E, segundo, porque esta é a maneira de lutar e corrigir o que está errado. Se é verdade o que se diz, que vocês são rebeldes, então estamos juntos”, disse o antigo combatente, arrancando uma enorme ovação entre os presentes. Jorge Rebelo também abordou questões que dizem respeito ao seu próprio partido. Quando se fala da Frelimo, segundo ele, a tendência é sempre dizer que é o melhor partido do mundo, que é o mais perfeito, mas também é preciso analisar porque é que somos membros da Frelimo. “No meu caso, sou membro da Frelimo por razões históricas: já estou no partido há 50 anos. O que farei é apoiar o partido para que siga os ideais inscritos nos seus programas. Mas quanto aos outros: estão no partido por inércia?, comodismo?, oportunismo?, falta de alternativa?”, questionou, acrescentando que é preciso não perder de vista que a Frelimo é que está no poder e é ela que deve ser o centro das atenções. Lamentou, ainda, que há uma grande resistência à crítica no seio do partido, referindo que tal se deve ao facto de existir muito lambebotismo. “Há uma orientação no sentido de se fazerem apresentações pela positiva, nunca pela negativa”, destacou, acrescentando, em resposta à jornalista Bordina Muala, que "há muito lambebotismo e quando as botas já estão limpas não há nada a fazer". No concernente ao combate à corrupção, Rebelo referiu que estamos em presença de uma palavra que tem que ser analisada sob ponto de vista histórico. Basta reparar que aquilo que se considerava corrupção no passado hoje já não é, o que era comportamento negativo no passado hoje é normal. “Hoje já não existe o xiconhoca, que ontem era a excepção hoje já é a regra”, demonstrou.

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