Escrevo este ensejo numa altura em que a nossa
"casa" está em "chamas".
Escrevo para dizer que o "nosso modus vivendus em Matalane" foi
exposto ao público e ao mundo. A humilhação e a violação constante dos nossos direitos
em nome da preparação para um "futuro melhor" e protecção e segurança
da pátria veio à tona.
Não escrevo para mim justificar e muito menos expôr tudo,
mas para dizer que Matalane é onde meus sonhos foram colocados a prova. Aqui em
Matalane, ser mulher com atributos é pesadelo (...) "todos querem passar
por ti, se não é por bem será por mal. Como foi com a Mbite, menina linda lá
das bandas de Bajone, na Maganja da Costa, rosto de actriz Indiana, corpo
desenhado que nem uma guitarra descrita na música ‘Ana parece novela’ de Matias
Damásio”.
O sonho da Mbite era fazer parte da polícia e um dia ser
Comandante-Geral da corporação. Tão jovem e habilidosa, o pecado dela foi ser
admitida em Matalane e o instrutor “Mwuathu” dizer que está será minha por bem ou
por mal. Aquilo foi o fim para ela. Mbite voltou grávida e infectada. Hoje
pensa em tirar e desistir da vida. Mesmo com tantos conselhos de nós as amigas,
ela diz que a família não lhe aceita, porque desonrou a mesma. Mesmo quando diz
que foi violada por várias vezes pelo instrutor, a família não entende.
Escrevo este ensejo para revelar que (in) felizmente os
instrutores e nem os meus colegas pensaram em tocar-me porque dizem que tenho
postura de comando ou o famoso “vilão Fenda”, o homem que violentou o actor
Jean- Claude Vandamme. Porque eu não mostro os meus dentes para ninguém, que
minha bunda é rijá que nem a pata da “galinha do mato”. Que eu venço todos os
homens nos treinos, seja em artes marciais, tácticas operativas, resistência ou
qualquer outro exercício. Eles têm medo de mim.
Mas hoje quando vejo que algumas passaram por um total
inferno. Anteciparam um projecto de vida que não tinha chegado a hora. Trocaram
de sonhos forçosamente, devido à gula excessiva dos inspectores M’pino,
Choquito ou Tembesi. Penso que estou num lugar errado. Penso que eu tinha que
fazer algo. Mas não fiz! Mas derepente, surge uma voz no fundo dos meus
tumultuosos pensamentos e diz continue para que faças o diferente. Para que
defendas todas as mulheres vítimas de qualquer tipo de violência.
“Fiques para que o mal não vença o bem. Para que a
fisionomia da mulher não alimente apetites insanos e competitivos dos homens.
Só cabe, a pessoas como tu colocarem a ordem nas fileiras. A usarem do lado bom
da formação e instrução para servir a nação”, diz-me a tal voz.
Escrevo esta carta para dizer que em Matalane também tem
mulheres diferentes que não são preguiçosas e de use descartável. Escrevo este
ensejo para revelar que as 15 são uma gota no oceano dos horrores que ocorrem
em Matalane, Muinguine, Montepuez, Mueda, Nacala, nas esquadras, comandos,
ministérios afectos e outros locais, onde mulheres que querem a farda têm
passado.
Por hoje, término por aqui!
Estórias de centros de instrução e formação em Moçambique
... criação do autor do texto “Omardine Omar”.
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