quarta-feira, setembro 18, 2019

Será que o grupo tem alguma base ideológica?



Numa  altura  em  que  Moçambique  ainda  estava  num  longo  processo  negocial  com  vista  a  pôr  termo  ao  conflito  decorrente  dos  resultados  eleitorais  das  eleições  gerais  de  2014,  o  país  foi  surpreendido,  a  5  de  Outubro  de  2017,  com  notícias  de  um  ataque  armado  às  instituições do Estado na vila-sede de Mocímboa da Praia, província de Cabo Delgado. Per-petrado  por  um  grupo  desconhecido,  com  reivindicações  da  prática  de  um  Islão  radical,  este  ataque  armado  era  um  fenómeno  novo  no  processo  político  moçambicano  e  trazia  uma série de questões não só do ponto de vista da natureza do grupo e suas motivações, como também no que se refere às implicações políticas, sociais e económicas do próprio fenómeno para o país. Apesar  de  vários  órgãos  de  comunicação  social  nacionais  e  estrangeiros  terem  dedicado  atenção ao fenómeno, desde o primeiro ataque, a informação disponível sobre o assunto ainda continua escassa. Tem sido cada vez mais difícil, por parte de jornalistas e pesquisa-dores, o acesso aos locais assolados pelos ataques. Aliás, desde o início dos ataques arma-dos  em  Outubro  de  2017,  foram  detidos,  pelo  menos,  seis  jornalistas:  três  estrangeiros  e  um moçambicano, em 2018, e dois moçambicanos, em 2019 (DW, 2019).  Além disso, foram instaurados seis processos-crimes contra indivíduos suspeitos de estar ligados aos ataques. Dois desses processos, com cerca de 221 arguidos, foram concluídos pelo Tribunal Judicial da Província de Cabo Delgado, tendo resultado em 57 condenados a penas de prisão, que variam de 16 a 40 anos.

Imagem relacionadaOs restantes quatro processos, visando 50 arguidos, ainda não fo-ram concluídos (Achá, 2019). Entretanto, a situação na região, particularmente na zona nor-te da província de Cabo Delgado, continua tensa. Com efeito, contrariamente ao discurso governamental, que sublinha a ideia da acalmia e do controlo sobre a situação, a realidade mostra que os episódios de ataques continuam com alguma regularidade, causando medo e clima de terror, particularmente nas aldeias afastadas dos centros urbanos e vilas. Neste  contexto,  pesquisadores  do  Instituto  de  Estudos  Sociais  e  Económicos  (IESE)  e  da  Fundação  Mecanismo  de  Apoio  à  Sociedade  Civil  (Fundação  MASC)  desenvolveram  uma  pesquisa exploratória com o objectivo de analisar a natureza e os factores explicativos da violência  com  incidência,  inicialmente,  em  Mocímboa  da  Praia  e,  mais  tarde,  em  outros  distritos circunvizinhos. Este relatório de pesquisa resulta do trabalho de campo desenvolvido entre os meses de Novembro de 2017 e Fevereiro de 20181. Nesta fase, a pesquisa procurou centrar as aten-ções, essencialmente, para as origens do grupo, a sua natureza, mecanismos de financia-mento e reprodução. Concretamente, a pesquisa procurou recolher e analisar informação à volta das seguintes questões:

Saiba mais clicando em O que leva a aliar-se ao grupo? na coluna da direita do blog



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