Quando o Papa Francisco aterrar na próxima
quarta-feira (04) no Aeroporto Internacional de Mavalane encontrará um país onde
o catolicismo está a perder fiéis particularmente para centenas de religiões
protestantes que proliferam particularmente nas zonas mais carenciadas. “O que
nós temos em Moçambique são dúvidas, temos dúvidas se algumas são religiões ou
não, é Igreja ou não” disse Dom António Juliasse, Bispo Auxiliar de Maputo revelou
que a vinda Santo Padre católico mais do que tirar dúvidas poderá despertar os
moçambicanos para o ecumenismo e o diálogo inter-religioso.
Dom António Juliasse, que é o coordenador da
Visita Apostólica, recorda que quando Moçambique recebeu a primeira visita de
uma Papa, em 1988, “estávamos em período de transição de maneira de estar, de
uma ideologia que era praticamente contrária, ou contra, a prática religiosa. E
aquele momento, é o momento de certas aberturas em relação a Igreja e essa
abertura acelerou-se depois da vinda do Papa (João Paulo II)”.
“A devolução dos bens da Igreja que tinham
sido nacionalizados começou a acontecer de forma célere e também alguns dos
nossos políticos que tinham crescido praticamente no berço da Igreja, alguns
gerados na Igreja, nas Missões e Seminários, na altura da independência eles
estiveram a liderar os processo contra a Igreja. Com a vinda do Papa João Paulo
II vimos o retorno dessas pessoas à Igreja e daí nunca mais saíram, alguns
deles hoje sentam-se nas cadeiras da frente, quer dizer que acelerou-se o
processo de abertura para a liberdade religiosa, o respeito pela acção da
Igreja, que começou com a devolução das Missões e a Igreja passou a fazer de
novo a sua acção religiosa e também começou a colaborar na dimensão do ensino e
saúde”.
Decorridos 31 anos Moçambique tem mais
crentes protestantes do que católicos, o IV Recenseamento Geral da População e
Habitação revelou existirem 8.781.534 crentes das religiões Zione/Sião,
Evangélica/Pentecostal e Anglicana comparativamente aos 7.313.576 fiéis da
Igreja de Cristo. Uma realidade que na perspectiva do Bispo de Maputo indicia
que: “O que nós temos em Moçambique são dúvidas, temos dúvidas se algumas são
religiões ou não, é igreja ou não, existe alguma autenticidade, quem confere
essa autenticidade para ser Igreja?”.
“Ou há instrumentalização do elemento
religioso para benefícios próprios e de alguns, mas ao mesmo tempo, essa
instrumentalização do religioso, pode estar a instrumentalizar pessoas e isso é
altamente perigoso para uma sociedade, a sociedade não se projecta, não vai
para frente porque vão funcionar mentiras, a recta moral não vai existir, e a
recta consciência não vai existir, que sociedade podemos formar! Penso que a
partir dos conceitos de ecumenismo e de diálogo inter-religioso poderia-se
esclarecer bastante estes aspectos”, argumentou.
“Uma coisa é ter um credo diferente,
outra é sentirmos que todos somos irmãos e o coração bate quanto eu olho para o
outro como moçambicano”
Dom Juliasse disse que esta Visita Apostólica
poderá ajudar a tirar muitas destas dúvidas. “O Papa tem feito sinais muito
grandes no diálogo inter-religioso e do ecumenismo, de ir até ao mundo
muçulmano, dialogar e sem pretender dizer eu é que tenho a última palavra mas
estar como irmãos e depois dizer vamos juntos. A Humanidade é criação de Deus e
deve estar acima das nossas diferenças e nós temos de ser irmãos, esse sentido
de irmandade é que deve ser criado. Isto é próprio da nossa orientação e penso
que o Papa Francisco a vinda dele vai nos dar força para despertarmos nesse
sentido”.
“Esse despertar para o ecumenismo e o diálogo
inter-religioso são dois conceitos que a Igreja tem. Ecumenismo entre todos
aqueles que acreditam em Cristo, é a mesma religião cristã mas são denominações
diferentes. Inter-religioso é com outras religiões como hindus ou muçulmanos.
Quando nós nos voltamos para essa realidade e aprofundamos o que isso significa
compreenderemos o que significa a religião, e quando compreendermos o que
significa uma religião tudo o resto purifica-se, então todas as tendências
nocivas a própria religião e que podem estar numa sociedade em nome de religião
e que não são religião nenhuma então isso vai cair, porque nós vamos criar como
sociedade princípios saudáveis para o bem de todos”, explicou.
O coordenador da Visita Apostólica chamou
atenção que um dos momentos mais importantes será encontro inter-religioso de
jovens com o Jorge Mario Bergoglio , a meio da manhã de quinta-feira (05) no
pavilhão do Maxaquene.
“Teve-se em atenção a diversidade religiosa
que a sociedade moçambicana tem e escolheu-se a juventude se calhar para lhes
inspirar, no sentido de que a diversidade das religiões que existe numa
sociedade não pode constituir um ponto de desencontro de pessoas da mesma
sociedade, mas deve-se encontrar sempre caminhos de diálogo, de conversa, para
poderem caminhar juntos no que diz respeito ao bem de todos. Uma coisa é ter um
credo diferente, outra é sentirmos que todos somos irmãos e o coração bate
quanto eu olho para o outro como moçambicano”, aclarou Dom Juliasse.
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