Coincidência ou não, a verdade é que a cidade de Maputo
sofreu (e ainda sofre) graves restrições de energia eléctrica logo após o segundo
desfile de tiros entre a Renamo e as forças governamentais, danificando ainda mais
as relações entre ambos. No dia seguinte ao indesejável episódio ficamos sem corrente
nas tomadas, convencidos que no final do dia estaria tudo resolvido. Quando o
sol se pós fomos cobertos pela escuridão. Infelizmente, como que a ecoar,
tivemos no segundo dia uma espécie de reedição do primeiro. Ao terceiro e
quarto dias, na sequência da manutenção da “situação”, mas com a gravidade
progressivamente em queda, começamos a perceber que a reposição total da
normalidade levaria cerca de mês e meio. Tanto tempo, tanta ansiedade!
Ora bem, a questão da energia eléctrica é crucial para
qualquer cidade ou vila dependente da mesma. Não pode ser negligenciada sob
nenhum pretexto. A cidade de Maputo não escapa a essa regra. Nos poucos lugares
onde a corrente eléctrica criava ou cria alguma satisfação, deu para acompanhar,
pela televisão, não só o desespero dos clientes da Electricidade de Moçambique
como também, em geral, o quotidiano moçambicano. É que o sumiço da corrente
eléctrica está associado aos problemas de fornecimento de água. Sem água, como
sempre se repete, não há vida. Uma cidade sem vida transforma-se numa “cidade
fantasma”. Torna-se desagradável e multiplicam-se paulatinamente os focos que se
podem constituir em potencial atentadoà saúde pública ou mesmo à segurança pública. A vaga de calor,
associada ao problema de fornecimento de energia eléctrica, contribuiu para que
muitos optassem por um bom mergulho nas nossas praias. Um mergulho que funcionou
como uma boa receita para esquecer a nossa paz-podre, esquecer comoo whatsapp pode fazer emergir “verdades inconvenientes” no
palco de conflitos político-militares, receita para relembrar que um debate político
é tempo perdido quando nele só está uma única corrente de opinião borbulhando
os seus desesperos, …esquecer, enfim, que há muita ironia na fervura da paz. Mas
agora já não é só a “situação” da energia eléctrica, da paz e/ou “guerra” e das
vagas de calor e de deterioração deste e daquele alimento, é
também a “situação” da vaga de subidas de preços tsunamizados pelo dólar norte-americano
e outros factores. Os impactos, esses, poderão ser minimizados pela folga que
cada um conseguir criar no processo do “apertar do cinto”.
Cá entre nós: a
vaga da “suposta” derrapagem do metical está a deixar bastante febril a
economia moçambicana, está a obrigar-nos a reapertar um cinto que já não
oferece novas oportunidades e que, por isso, deve ter um outro nome; está a
(re)enervar quem tinha na sobrevivência uma prática diária. Como reequacionar a
questão da sobrevivência do cidadão comum que luta incansavelmente por
conquistar o lugar de digno cidadão neste ambiente crescentemente severo? Como
parar esta subida surda, cega e galopante do custo de vida? Resta-nos sempre,
por detrás de uma lágrima, uma nova vaga de esperança por atracar. (Luís Guevane)
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