Moçambique
atravessou, nas últimas semanas, um período político difícil que, caindo em
cima da já difícil situação económico-social, fez disparar os sinais de alarme
entre a comunidade diplomática residente e os actuais e potenciais
investidores. A crise
política veio juntar-se a uma má conjuntura para os países detentores de
recursos energéticos, afectados pela quebra e volatilidade dos preços de venda
(quando os custos de exploração são os mesmos) e pela baixa geral do valor das
commodities.
Como
se isto não fosse bastante, países como a China e o Brasil, dois BRICS
tradicionalmente envolvidos no investimento no continente africano, atravessam
momentos difíceis. A própria Europa está longe da abastança financeira e da disponibilidade
política, entre o peso das dívidas públicas e privadas dos países do sul e as
divisões levantadas pela crise dos refugiados. Nada
disto deixa tempo, recursos ou vontade para acudir a crises políticas
endógenas, sobretudo quando não parecem ter muita racionalidade e razão – como
a absurda crise da Guiné-Bissau, ditada por um capricho presidencial, mas que
em dois meses pôs em causa a restauração da confiança no país e ainda não parou
de incomodar. Moçambique
não pode seguir esse caminho, mas os recentes ataques (por grupos armados cuja
identidade e condição continuam obscuras mas cujo à vontade e impunidade levam
a suspeitar de altas cumplicidades), transmitiram ao exterior uma impressão de
instabilidade e insegurança que não é encorajadora.
Os dirigentes
moçambicanos – no poder e na oposição – devem ter presente que, hoje em dia, as
decisões de investimento são pensadas e repensadas a vários níveis e escalões,
sobretudo nos sectores energéticos, mineiros e industriais, que implicam altos
capitais e um longo tempo de retorno. São decisões tomadas em círculos
colegiais, escrutinadas a nível técnico, financeiro e de risco político. E o
clima actual já dissuade e desencoraja, só por si, investimentos de risco em
países instáveis.
Depois
da enorme confusão de 6.ª feira passada – da atribulada mas curta
clandestinidade pós-atentado de Afonso Dhlakama e dos incidentes com a sua
segurança –, resta a esperança de que o líder da Renamo, agora na Beira, se
encontre com o Presidente da República e que desse encontro saia um
entendimento real e sólido. Um entendimento que não se limite à mais ou menos
calorosa fotografia celebrativa do costume, mas que seja marcado pela vontade
de estabelecer regras de confiança e convivência entre as forças políticas do
país. Só assim pode devolver-se a confiança aos investidores e, acima de tudo,
ao povo de Moçambique – que, mais uma vez, é a vítima principal de todas estas
confusões.(José Nogueira Pinto)
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