Não é
fácil prever o futuro político de Moçambique depois dos acontecimentos da
última sexta-feira na cidade da Beira, onde uma equipa da Unidade das Operações
Especiais da polícia assaltou a residência do líder da Renamo, Afonso Dhlakama,
desarmando todos os homens da sua guarda. Mas mesmo no meio desta incerteza, é
possível imaginar que estes acontecimentos tornam-nos cada vez mais próximos do
fim deste conflito entre o governo e a Renamo, pelo menos na sua componente
militar. Os acontecimentos foram mais rápidos do que muitos previam e poderão
ter aberto o caminho para uma solução definitiva do conflito. Só que essa
solução dependerá muito da forma como a Renamo reagir perante a actual
situação. A Renamo pode assumir uma postura de cooperação e facilitar dessa
forma a solução do problema, ou pode optar por uma postura de confrontação, e
por essa via cavar ainda mais o seu próprio túmulo. Se a Renamo não cooperar
dentro do quadro criado pelos acontecimentos do dia 9 de Outubro, ela
arrisca-se a ser alvo de uma acção mais radical do governo, com consequências
que neste momento serão difíceis de imaginar. Não parece, por agora, que tal
seja o principal objectivo do governo, mas se a isso forem obrigados, elementos
mais radicais dentro da máquina securitária poderão ganhar ascendência sobre os
políticos e agirem com mais autonomia para tomar acções mais extremas. Isso não
trará benefícios para os moçambicanos, que continuarão a viver na instabilidade
e na incerteza. Nunca será admitido publicamente, mas está a ficar cada vez mais
claro que os dois ataques de que Dhlakama foi alvo no último mês foram
cuidadosamente planeados para fragilizar a Renamo e a sua liderança, e
transmitir uma mensagem sobre o que pode vir a acontecer se esta crise for
arrastada por mais tempo. A Renamo e Dhlakama podem estar neste momento
fragilizados, mas esse, por si só, nunca deve ser o fim. Mesmo nas actuais
circunstâncias, Dhlakama deve receber garantias de que a sua segurança nunca
será posta em causa, desde que ele aceite continuar a reivindicar os seus direitos
dentro do quadro legal. Para isso, deve aceitar o princípio do seu desarmamento
da Renamo e da integração dos seus homens em conformidade com o entendimento de
5 de Setembro do ano passado. A oposição, quer dentro quer fora do parlamento
deve continuar a fazer parte da equação para a solução dos problemas políticos
que o país enfrenta. O diálogo deve prosseguir com honestidade e conduzir a uma
situação em que todos os moçambicanos se sintam parte integrante do processo de
construção de um Moçambique livre, próspero e democrático. O processo de
revisão da Constituição deve prosseguir de forma séria e com a devida profundidade.
A legislação eleitoral deve ser melhorada de modo a que as eleições sejam mais transparentes,
verdadeiramente livres, justas e credíveis. Isto tudo deve ser feito de modo a
que as próximas eleições de 2019 sejam realizadas dentro de um quadro que
inclua um novo modelo de devolução do poder para as províncias. Nesta
perspectiva, a Renamo, todos os partidos políticos e outros sectores da
sociedade têm um papel importante a desempenhar. Não deve haver mais tempo a
perder com pequenas querelas políticas que só podem contribuir para afundar o
país.
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