Os principais factores por detrás do negócio como a emergência de
Moçambique como um powerhouse (grande potência) do LNG, com investimentos
multinacionais de mais de 100 biliões de dólares e a segurança do Canal de
Moçambique como o corredor marítimo que vai escoar toda essa produção, a partir
de 2018, bem como as perdas decorrentes da pesca ilegal, não regulada, da
pirataria, do trafico ilícito de pessoas e drogas, são sempre, por conveniência
político-jornalística, preteridos na analise, a favor de argumentos que não
sendo menos importantes, como a consulta ao parlamento, a transparência na
tramitação financeira do processo, etc, não são per se , e contudo, os únicos
argumentos determinantemente válidos, - também gostaria de me recordar de um
crédito externo que, no nosso caso, tivesse passado primeiro pelo parlamento,
para aprovação.
O académico Louis Bergeron, consultor de segurança política, sugere no
Riskintiligence, strategic insigths nr 54, novembro 2014 que a aquisição da
frota de barcos de pesca da EMATUM deve ser vista no contexto de uma abordagem
internacional coordenada da segurança da navegação no Canal de Moçambique. Em
2013 antes da conclusão do negócio, segundo Bergeron, era também essa a
expectativa do The Economist.
A frota da EMATUM é uma combinação inteligente de oportunidades comerciais
e vigilância marítima, militar. Do orçamento, o que na verdade vai para o atum
são 350 milhões de dólares. Não foi por acaso que o ministro Maleiane afirmou,
na Assembleia da República, que o governo vai pagar, da operação, apenas 500
milhões, cabendo o remanescente a EMATUM. Muitos países democráticos camuflam,
na sua prática orçamental, os seus orçamentos da defesa nas rubricas que os
cidadãos e as organizações da sociedade civil gostam de ver mais robustos.
Até este momento a costa moçambicana é patrulhada pela marinha de guerra da
África do Sul ao abrigo da operação Cooper, acordada entre os governos dos dois
países. Em 2013 o governo italiano expediu um porta-aviões (uma espécie de base
militar) que permaneceu dois meses na Bacia do Rovuma, protegendo os interesses
privados da ENI, porque Moçambique não consegue oferecer a segurança
necessária.
Antes da frota da EMATUM, a pesca do atum no Canal de Moçambique era feita
por concessionárias, principalmente da União Europeia, que pagavam uma receita
anual combinada de 4.5 milhões de dólares ao governo sem que este pudesse
sequer verificar se o concessionário pescou 10 ou 100 toneladas. O governo com
os seus atuneiros pode produzir perto de 80 milhões de dólares ano. Em que é
que se baseia o assessment segundo o qual a EMATUM nunca teria a capacidade de
chegar a meta que nos propõe? Pode ser que as receitas dos primeiros 3 anos
sejam deficitárias dado o pouco know how dos moçambicanos na pesca do atum, mas
não é isso que deve perpetuar o status quo. Quanto a mercado, o Japão e a
Coreia do Sul, que estão entre os maiores consumidores internacionais de atum
fresco, já se posicionam como clientes potenciais. Notar que no conjunto dos
seus interesses económicos geo-estratégicos no Canal de Moçambique o Japão e a
Coreia do Sul adquiriram através da Mitsui e da Korea Gas Corp 25% das accoes
da Anadarko, e 10% da ENI, respectivamente. Acontece o mesmo com outras
potências emergentes do continente asiático preocupadas com fontes alternativas
de energia. A India, na pessoa da India Oil and Natural Gas Corporation, da
India Oil Limited e da Bharat Petroleum Corporation comprou, tambem, 30% das
concessões da Anadarko a um custo de 5 biliões de dólares americanos. Em 2013,
por sua vez, a China National Petroleum comprou à ENI 25% das suas accoes
naquilo que foi o maior investimento chinês de sempre no estrangeiro em campos
de gás, 4.2 biliões de dólares.
No seu artigo Bergeron sugere que os multi-bilioes investidos no gás devem
ser acompanhados de accoes de empoderamento local que previnam o terrorismo.
Cita os protestos e a desobediência civil que tomaram conta de Mtwara em 2013
quando o governo tanzaniano anunciou um acordo multi-bilionario com a China
visando a construção de um pipeline de gás ligando o sul ao porto norte de
Dar_es_Salam. Cita igualmente a emergência em 2000 do grupo armado para a
emancipação do Delta do Niger que pôs em causa as receitas petrolíferas da
Nigéria com raptos, sabotagem e pirataria. No negocio do atum nenhum
moçambicano era parte até a EMATUM.
No Canal de Moçambique toda a logística de apoio, comercial e de segurança
deve ser construída praticamente do nada e os imperativos orçamentais dos
barcos da EMATUM, sem obviamente descurar as possíveis más praticas no processo
da sua aquisição, podem ser um factor muito pequeno via-a-vis a multitude dos
interesses em jogo no Canal de Moçambique. Uma leitura reiteradamente parcial ou
distorcida dos nossos principais dossiers, bem assim o hábito de deixa-los
difusos, turvos com suspeitas no ar que nunca são esclarecidas porque ou são
especulação, ou são rumores podem levar-nos a situações de grande instabilidade
social e política.
O barulho da EMATUM no nosso país é uma ressonância de um lobby comercial
europeu, via organizações da sociedade civil suas financiadas, preocupado com o
que perdeu no negócio do atum. Há obviamente outros aproveitamentos políticos
locais que depois de apresentarem o processo como um escândalo sem precedentes
implicam, com outros horizontes eleitorais e eleitoralistas, o anterior e o
novo timoneiro do estado moçambicano. Nenhum país quer ser governado por um
presidente que tira sono aos seus cidadãos. Lembram-se daquele pássaro que poe
os seus ovos num lugar e faz o seu barulho noutro?
(Por Armindo Chavana Jr.)
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