A cantora Angélique Kidjo, que esteve em Maputo a participar na
quarta edição do More Jazz Series, afirmou que antes de se tornar cantora quis ser
advogada e conhecer os Direitos Humanos. kidjo falava no MasterClass realizado
com os alunos da ECA (UEM) em parceria com Morejazz Promotion. “Sempre
quis defender esses valores. Os Direitos Humanos sempre cativaram-me, quis
fazer Direito. Tinha duas amigas que já estavam numa universidade na França e
quando cheguei lá em 1983 já não havia vagas e fui estudar música clássica italiana.
Mas todos os dias lutava pela justiça. Mesmo ainda criança sempre entrei em
pancadaria quando sentisse que os meus direitos e dos outros estavam a ser
violados”, recorda Angélique Kidjo. Quando confrontada pelo Director do
departamento de Direito na universidade, na França,sobre os porquês de querer
fazer curso, a artista respondeu: “os negros sempre sofreram quando se fala em
Direitos Humanos. Queria perceber se esses direitos funcionavam da mesma
maneira entre os brancos e os negros”, explica a artista. Questionada se a
possibilidade de fazer alguém ir para a cadeia sem que se comprovasse a sua
culpa num crime fez com que desistisse do sonho de ser advogada, a artista
respondeu: “foi quando vi que não estava
preparada para fazer Direito e preferi a música. O meu sentimento pelos
Direitos Humanos não justifica que em certos casos possa levar alguém para a
cadeia, isso fez-me desistir dessa carreira”, lamenta. Por ser negra, a artista
enfrentou várias adversidades para inserir-se na universidade. “Quando ia
registar-me no departamento de música da universidade encontrei duas moças brancas
que me perguntaram o que ia fazer na universidade? Eu respondi que ia estudar
jazz e elas disseram que os pretos não estudavam jazz. Fiquei mais convicta de
que tinha de provar o contrário para todos que pensavam assim. Hoje elas não
têm carreira musical”, frisa. Apesar das dificuldades, a artista encontrou apoio
e motivação para continuar com os seus estudos. “O Director do departamento
depois de ter ouvido a conversa com as moças brancas disse para eu não ligar ao
que diziam, que elas não sabiam o que estavam a falar. Não se discute com um
burro para não ser confundido com ele. Os meus pais sempre disseram que quando
queremos aprender alguma coisa na vida temos que conhecer os nossos limites, ambições”,
alerta. As cláusulas contratuais fizeram com que a artista saísse da França. “Saí
da França quando as coisas ficaram complicadas. O contrato que eu tinha com
Griss Blackwell, a gravadora que registou muitas músicas de Bob Marley, não me
dava a liberdade de dizer que música tinha de escrever.
Os franceses têm uma
ideia, um tecto sobre como os africanos têm de se comportar no seu país. Até
hoje pensam que a África continua na mesma, que vivemos nas cavernas”, aponta. A
música intitulada “Agolo” que significa “por favor” mostrou uma outra realidade
da música africana no mundo. “Esta música trouxe uma nova perspectiva da música
africana. Por isso que quando o artista grava os vídeos tem de incluir os
lugares emblemáticos do seu país para serem conhecidos no mundo. A capa do disco
tem de ter as cores que representam a sua cultura, país e por aí fora”,
vaticina. Com trabalho árduo, a artista ganhou seu espaço no mundo musical na
Europa e América. “Na Europa quando ven des os discos ganhas dinheiro. Mas na
Inglaterra e Estados Unidos antes de vender os discos tens que pagar pelo que
fizeste. Ganhei dinheiro senão não estaria aqui onde cheguei”, remata. Os
europeus continuam a pensar que a África continua na mesma.(in savana)
0 comments:
Enviar um comentário