Os
vários teóricos da ciência politica discutem o conceito e o alcance do poder de
diversas maneiras em determinado espaços políticos, contexto e horizonte
temporal, sendo que é de consenso que o poder está intrinsicamente ligado à
capacidade de influência. Nicolau Maquiavel discute o poder como sendo a
capacidade que um determinado actor político tem de influenciar o outro, usando
todos meios possíveis, ou seja, os fins justificam os meios, naquilo que
chamaríamos de realismo politico. Emmanuel Kant olha para o poder também na
capacidade de influencia, mas discorda do maquiavelismo, ou seja, os fins para
Kant não justificam os meios, estaríamos em presença do idealismo.
O maquiavelismo tem vindo a caracterizar o comportamento dos actores políticos
na esfera mundial, embora já esteja aprovado que estas teorias são nocivas a
paz, a estabilidade politica, democracia e justiça social, justificando que o
indivíduo sempre age em conformidade com os seus interesses, e como o individuo
é que constrói o Estado, esse comportamento passa a ser o modo operante do
Estado, que por sinal é conduzido por um grupo de indivíduos organizados em
partidos políticos, e que querem defender os seus interesses ou do grupo,
partindo da premissa básica de que todos partidos políticos tem como objectivo
a conquista, exercício e manutenção do poder. A diabolização do outro faz parte
da cultura humana, principalmente dos actores políticos. Nossa historia, o
colonialismo usou a mesma estratégia, politizando as massas, as etnias, tribos,
religião e chegando a chamar os movimentos de libertação de turras ou
terroristas, tudo para mantar o regime fascista e satisfazer os interesses políticos
e econômicos da metrópole.
A nossa pátria amada acaba de sair de uma segunda guerra civil a que eu
chamaria da guerra dos dois anos. São vários pontos que podemos levantar para
melhor discutir os determinantes da mesma, gostaria de trazer ao debate dois
pontos: a privação relativa dos recursos versos a diabolizacao dos actores
políticos da oposição ou mesmo o aniquilamento dos discursos contrários ao
poder politico. Nos últimos anos assistimos a uma galopante assimetria entre os
pobres e ricos, aonde os mais pobres vão ficando cada vez mais pobres e os mais
ricos ficam cada vez mais ricos, onde os pobres são a maioria e os ricos são a
minoria e vivem a custa das grandes massas, ou seja, dos mais pobres, criando a
ideia de que o dinheiro público é dinheiro que o governo tira dos que não podem
escapar, para dar os que sempre escapam, como já dizia o pensador Friedman,
ora, o conceito do Estado e sua função social ficou resumido a um grupo de
pessoa resultante da alta instrumentalização do mesmo para fins políticos
partidários a favor do partido no poder, abrindo espaço para a exclusão social.
Nos últimos dez anos, assistimos toda uma tentativa de construção do um partido
dominante, que se caracteriza pela a diabolização da oposição, aniquilamento
dos discursos contrários ao regime, proveniente dos acadêmicos e membros da
sociedade civil, havendo discurso como bandidos armados, não se pode negociar
duas vezes com o mesmo bandido, os grupos de organizações da sociedade civil
são agente da mão externa e sem sentido patriótico, apóstolos da desgraça,
discursos separatistas como moçambicanos de gema, e outros. Este tipo de
comportamento que em minha opinião e igual aos regimes fascistas coloniais,
ganhou forca com a criação de grupos de choque por parte do partido no poder
com objetivo de promover através da comunicação social, culto de personalidade
a figura do chefe do Estado e reabilitar a imagem do seu partido desgastada com
a guerra dos dois anos e a má politica que se fez sentir principalmente na base
da pirâmide, onde começamos a ver convulsões sociais, greves no sector da
saúde, falta de transporte, onde as pessoas passaram a ser transportados em
carros de caixa aberta em como se de algum gado se tratasse, altos índices de
crime organizado, corrupção e mais. A diabolização do Outro passou a ser um
argumento ou uma estratégia de fuga para frente por parte do poder politico,
para justificar os erros da sua má politica. A questão que se coloca é: será
que isso resolveu os nossos problemas ou simplesmente os intensificou? A
intolerância do outro numa sociedade de tecnologia de comunicação e informação
já não eh fonte de manutenção do poder, mas sim do conflito, porque mesmo no
tempo colonial a voz do povo falou muito mais alto que a diabolização do
movimento de libertação, a informação circula de uma forma muita rápida o que
não acontecia neste período, ou mesmo na guerra civil, envolvendo os dois
beligerantes da guerra dos dois anos, permitindo que as pessoas tenham mais
capacidade analítica dos acontecimentos. A maneira como o poder politico
construiu a animalização do seu adversário no campo da batalha e o discurso de
que o país não estava em guerra, mas sim tratava-se de uns incidentes
localizados, perpetuados por homens armados de um partido sem sentido de Estado
em nada ajudou para fim rápido das hostilidades.
Nos como moçambicanos precisamos mudar a nossa forma de fazer politica e nos
enquadrarmos no contexto actual, caracterizado pelo surgimento de muita massa
critica que anualmente sai das universidades, a evolução e surgimento de vários
meios de comunicação. Podemos construir um Moçambique melhor com pluralismo de
pensamento sem precisar negar aquele que pensa diferente de nos, sem olhar para
as cores partidárias, onde todos nós podemos ou devemos estar comprometidos com
o desenvolvimento da nossa pátria, a diabolização do outro em nada ajuda para
as conquista dos novos desafios que se colocam ao pais. Moçambique não é dos
partidos políticos, muito menos de uma elite politica com interesses
econômicos, mas sim é dos moçambicanos.Todas
ideias devem ser ouvidas, assim podemos construir um Moçambique melhor.
0 comments:
Enviar um comentário