A implementação de uma solução político-militar que se assemelhe à que
foi adoptada em Angola, em que a eliminação de Jonas Malheiro Savimbi forçou a
um acordo de paz ou fim de hostilidades, com o chefe do executivo de Luanda no
poder, não pode ser ignorada em Moçambique.Por realismo e
responsabilidade, por coerência, os líderes até aqui beligerantes devem
encontrar-se e dar sinais inequívocos de que a guerra é coisa do passado. Mas não tenhamos ilusões sobre determinados aspectos. Se, de um lado, temos um
PR que ganhou fama de arrogante e prepotente, do outro lado temos um líder da
Renamo que se pode vangloriar de ter vencido cercos e tentativas de captura ou
assassinato.O cenário real de derrotas ou quase nenhuma vitória para apresentar ao
comandante-chefe é deveras perigoso, do ponto de vista de potencial de
aventuras de última hora. Algum militar ou policial especialmente treinado como
”sniper” pode tentar eliminar o líder da Renamo com uma bala certeira de última
hora. Equacionar tal cenário deve estar presente e constituir preocupação do
executivo de Maputo e de toda a liderança da Renamo. Não queremos mártires que provoquem o reacender do espectro da guerra, qualquer
que seja a agenda dos políticos em presença.Nesse sentido, convém que se
coloquem todos os potenciais executantes de acções de provocação afastados dos
cenários em que circulará Afonso Dhlakama em Maputo ou em qualquer outro lugar
do país. O tempo não está para “brincadeiras” de última hora nem para
cumprimento de instruções de células estranhas ao poder.Vivemos num país real e
sabemos que nem todos são do nosso agrado, mas isso é um daqueles “sapos” que
se tem engolir. Ninguém escolhe o vizinho que tem, e a história política do
país não é uma linha recta preenchida por gente correcta e alinhada com uma
suposta linha correcta. Com tantos interesses em jogo e com a possibilidade
real de o poder mudar de mãos, muitos pensarão que eliminar AMMD é prestar
serviço a um partido.
É infantilíssimo e perigoso tecer estratégias como essa, mas a história recente
de alguns países africanos ensina que a eliminação de adversários políticos tem
sido seguida e implementada. Com ou sem sucesso, alguns julgam que tais actos
são necessários para se manter ou conquistar o poder. Outra coisa que convém
esclarecer e que é necessária no quadro dos esforços para estabilizar o país é
não se correr atrás da galinha com sal nas mãos. Existem “dossiers” que devem
merecer tratamento acelerado, sério e responsável. A reestruturação das Forças
de Defesa e Segurança constitui um daqueles factores dissuasores da violência
pré- e pós-eleitoral. É preciso alcançar um patamar irreversível da paz, e isso
faz-se com as forças militarizadas aquarteladas e apartidárias.Os ânimos
quentes que possam existir no seio dos comandos das forças até agora beligerantes
devem ser acalmados através de acções concretas de reintegração e
reestruturação. Aquele exército único apartidário a construir deve ser colocado
fora do comando dos partidos políticos, através de um executivo sério e de um
parlamento actuante. Dizer uma coisa e depois fazer outra não deve ser
permitido nem promovido como política de Estado. Moçambique precisa de um
figurino de Forças Armadas e da Polícia que se enquadrem naquilo que são os
preceitos de uma república moderna. Não se pode ter tranquilidade política e
económica quando as forças militarizadas obedecem a comandos partidários. Os
acontecimentos violentos das eleições no passado foram protagonizados por
forças militarizadas instruídas por comandos partidários.Haja seriedade e
responsabilidade, haja contenção viva e quotidiana.
Não se faz política eleitoral com grupos de choque.
Não se faz política republicana e de interesse nacional com agendas feudais.
Um encontro ao mais alto nível entre a Renamo e o Governo de Moçambique deve
ser o prenúncio de uma era de paz e de respeito escrupuloso das leis da
República pontificadas na Constituição vigente.Compatriotas, dar uma
oportunidade à PAZ requer que nos coloquemos ao lado dela e tudo façamos para
que não haja derrapagens e instrumentalização de sensibilidades. Moçambique
continua a ter capacidade de acolher todos os seus filhos sem discriminação de
espécie alguma. Que o protagonismo político seja feito em prol de um novo país,
vibrante e respeitador dos direitos políticos e económicos dos moçambicanos. Sem
ambiguidades nem subterfúgios, é possível cimentar a paz e viver com dignidade
neste país que, afinal, é de todos os moçambicanos. (N.Nhantumbo)
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