É tema incontornável, nos tempos
que correm, a reposição da ordem, segurança e tranquilidade públicas, na região
de Santunjira (ou Sandjujira...) pelas forças de defesa e segurança, num
exercício normal de controlo da soberania do Estado. Porém, o que soa a anormal
é o coro de críticas vindas dos habituais séquitos da desgraça, para quem o
certo se confunde com o que vai egoisticamente nas suas mentes. Não me parece
defensável este titânico, mas inglório exercício de apelo à amnésia colectiva,
como se de uma cooperativa de raciocíniose tratasse, à imagem dos seus
defensores.
É imperioso, portanto, fazer uma
resenha cronológica dos acontecimentos vividos na região centro do país, para
perceber que as críticas de hoje são a prova inequívoca de se usar um peso,
duas medidas. Após a humilhante derrota que Afonso Dhlakama teve em 2009,
reconhecendo a sua insignificância no cenário político nacional, o homem
preferiu refugiar-se em Nampula, sem nunca deixar de proferir impropérios
contra as instituições legitimamente constituídas, de premeio, com ameaças de
destabilizar o país, supostamente por não reconhecer o Governo. Assistimos, a
seguir, a concentrações militares dos soldados da Renamo, num claro desafio à
autoridade do Estado e, não tendo logrado os seus intentos, Dhlakama preferiu
(?) ser sequestrado em Santunjira, donde foi aumentando o tom das suas ameaças.
Pensou Afonso Dhlakama que este
exercício condicionaria o funcionamento normal do Estado, olvidando que o povo
moçambicano tem uma agenda claríssima. Eis que o nosso homem passou para a
materialização de ataques contra alvos civis e militares, perante tamanha
paciência demonstrada pelo Comandante-chefe das Forças de Defesa e Segurança. Lembro que o primeiro acto concreto de
banditismo foi anunciado por Manuel Bissopo, seguindo-se a ajuntamentos e
demonstrações militares e, para finalizar, Gerónimo Malagueta, através de um
comunicado anunciava o bloqueio da N1, entre Muxúngue e Rio Save, “apelando”
aos moçambicanos a evitarem aquele troço.
Efectivamente:
- No dia 4 de Abril de 2013 a Renamo atacou o
Posto policial de Muxúngue, tendo morto 5 polícias.
- No dia 7 de Abril a Renamo voltou a incendiar
viaturas de civis, na Estrada Nacional nº 1.
- Para não variar, a Renamo atacou o paiol de
Savane, em 19 de Julho, matando 7 militares.
- Não satisfeita com o desenvolvimento do país,
o partido de Afonso Dhlakama assaltou posições das FADM em Samacuze,
ferindo militares destas, em 27 de Setembro.
- Em 4 de Outubro – talvez não satisfeita com a
paz – a Renamo atacou as FADM em Muxúngue
- Em 21 de Outubro, respondendo a mais um
ataque da Renamo, as FADM tomam o controlo da Base/Academia/Residência
Oficial do líder da Renamo, da qual Afonso Dhlakama saiu em debandada.
Para a surpresa colectiva, veio a
Embaixada dos Estados Unidos, de Portugal e algumas organizações que sempre se
arrogaram de exclusivamente personificar a sociedade civil, vieram condenar a
suposta violência protagonizada pelas Forças de Defesa e Segurança, como se
estivessem a agir fora do que se deve esperar da parte delas. É estranho que
para as entidades acima citadas a crítica à violência só faça sentido quando
forças com poder legitimado repõem a ordem, segurança e tranquilidade públicas.
Será que o sangue derramado por forças estranhas ao nosso processo de
desenvolvimento é menos valioso que a antiga base de Dhlakama? Espanta-me que
este choro colectivo venha em defesa de quem não quer conformar-se com o quadro
legalmente instituído e use a força e a selva como meios de sobrevivência
política. Mesmo quando actos de banditismo puro da Renamo recomendavam
tratamento mais incisivo, o Presidente Armando Guebuza soube manter a calma e
se mostrou disponível para ouvir as preocupações de Afonso Dhlakama e remeter
aos órgãos competentes. Mas numa atitude de pura arrogância e prepotência, o
líder da Renamo sempre pensou que era mais forte que o Estado, preferindo
lançar impropérios contra a nossa paciência. Entretanto, hoje muitos saem a
condenar e a pressionar o Chefe de Estado para que haja diálogo.
Onde é que estavam essas entidades
quando civis e inocentes morreram ao longo da Estrada Nacional nº 1? Onde è que
estavam quando bens privados e públicos foram pilhados? Estas entidades
perderam tempo e acobertando o discurso e actos sanguinários da Renamo e Afonso
Dhlakama e hoje aparecem a dizer há guerra porque a base da RENAMO foi tomada?
Até podem ter razão, mas estão
largamente atrasados. A RENAMO violou os direitos humanos, pilhou bens, hoje o que
está a acontecer é exactamente aquilo que nãoquiseram evitar. Todos os que hoje
choram o assalto a Santunjira ignoraram, num passado recente, a morte de civis
inocentes. Se estão comprometidos com a paz que sejam coerentes e não usem um
peso, duas medidas.
Quosque tandem Renamo abutere
patientia nostra? (Até quando a Renamo continuará a abusar a nossa paciência?)
Até breve.
Alexandre Chivale (advogado)
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