segunda-feira, outubro 17, 2011

Porque não é "Zé Ninguém", o escritor....

....... moçambicano Mia Couto, homenageado na quarta edição do Escritaria, em Penafiel, acha que perante a situação actual “é preciso sair à rua; é preciso revoltarmo-nos; é precisa esta insubordinação”.Interrogado pela agência Lusa sobre o movimento dos “indignados”, que desfilaram um pouco por todo o mundo, Mia Couto admitiu que preferia a ingenuidade combativa dos manifestantes “à resignação, que acaba por ser uma aceitação antecipada de um veredicto que é o da marginalização e o da redução ao nada”. Ele, que foi um militante empenhado da luta pela independência moçambicana, acha “que só há que saudar gente que faça coisas e não cruze os braços, mesmo que não ainda compreenda exactamente qual é a saída”. “Pelo menos vem dizer que não aceita o que está a acontecer, e isso é importantíssimo”, concluiu.Para o escritor, “há uma espécie de imposição de lógicas que têm de ser interrogadas”. “Dizem-nos que o mundo está mal e que o mundo precisa do nosso sacrifício, que entendamos a situação, mas acho que, uma vez mais, estão a pedir sacrifícios a quem sempre foi pedida a mesma coisa”, afirmou. Reportando-se à situação moçambicana, lembrou que, quando se juntou à revolução, o lema era que o militante da Frelimo era o primeiro no sacrifício e o último no benefício. “Acho que isso morreu para a Frelimo, morreu no mundo hoje”.Sobre a inversão do fluxo de emigração a que a crise tem obrigado muitos portugueses, Mia Couto diz esperar “que este novo movimento, que já não é só de sul para norte, mas também de norte para sul, de este para oeste, nos coloque numa situação de maior partilha, numa condição mais igualitária do que no passado”. E esclareceu: “Não que eu fique contente com a crise que está a acontecer neste centro que é a Europa, mas o que se passa é a emergência de outro centro. O Brasil é esse centro e, por isso, joga um papel decisivo dentro desta família de língua portuguesa”.Não deixa, no entanto, de reconhecer que Portugal continua a desempenhar o papel de “porta-giratória” da lusofonia, no que à cultura diz respeito. “Para que eu conheça o que está a ser publicado em Angola, em Cabo-Verde, em São Tomé, eu tenho de vir a Portugal. Nós não temos contactos directos. A nível de África, são muito escassos e o Brasil, embora menos, também depende do que se passa em Portugal”, afirmou.

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