
Desde muito jovem
Marcelino abraça a causa do nacionalismo moçambicano e da Luta contra o
colonialismo e o fascismo: dá provas disso ainda em Moçambique e depois na sua
passagem por Lisboa (1948 – 1951), onde se destaca na Casa dos Estudantes do
Império e no Centro de Estudos Africanos.Perseguido pela PIDE, por causa das
suas actividades políticas e para escapar à prisão, acabou por ter de abandonar
Portugal, por volta de 1951, partindo para França. Aí aprofundou a sua amizade
com Mário Pinto de Andrade e participou com este, em muitas acções contra o
colonialismo.
Juntamente com Mário
Pinto de Andrade, Amílcar Cabral e Aquino de Bragança, teve um papel muito
importante na criação da CONCP (em 20 de Abril de 1961) e em convencer o Rei
Hassan II, de Marrocos, a apoiar a Luta de Libertação das Colónias Portuguesas,
aceitando o estabelecimento da CONCP em Rabat e apoiando-a política,
diplomática, material e financeiramente. Desse modo, foi nomeado Secretário
Geral da CONCP. Nas vésperas da Conferência Constitutiva da CONCP, quando
tomou conhecimento da criação da UDENAMO, através duma conferência de imprensa,
em Dar-es-Salaam, feita por Adelino Guambe, mandou-lhe imediatamente um convite
e este ainda veio a tempo de participar nesta I Conferência da CONCP. A
CONCP teve uma grande importância, porque foi uma maneira de fazer uma frente
única dos oprimidos, contra o colonialismo português. Umas das técnicas do
salazarismo era tentar dividir para reinar e o estado de desenvolvimento das
lutas de libertação nos diversos países era diferente, o que era propício à
divisão. Marcelino dos Santos foi a figura de proa desta frente unida dos
Movimentos de Libertação e dos povos das colónias portuguesas. Sempre que, na
opinião pública internacional, surgiu uma dúvida sobre a unidade dos Movimentos
de Libertação Nacional, a CONCP sempre apareceu, no momento oportuno, a mostrar
que essa unidade era real e efectiva.
Em Marrocos, Guambe
convidou Marcelino para ser o Chefe do Departamento das Relações Exteriores da
UDENAMO e também o convidou para ir visitar a sede da UDENAMO, em
Dar-es-Salaam. Aí, Marcelino constatou que a UDENAMO não tinha estatutos e
escreveu os estatutos da UDENAMO. Em 1962, Marcelino dos Santos voltou a
escrever os Estatutos da FRELIMO, que são uma adaptação e um rearranjo dos da
UDENAMO. Como Chefe do Departamento das Relações Exteriores da UDENAMO, usando
todo o prestígio internacional que já tinha granjeado, colocou a UDENAMO no mapa
político mundial. Juntamente com Aquino de Bragança, Marcelino teve um
papel relevante em convencer o Primeiro-Ministro, da União Indiana, Jawaharlal
Nehru a fazer a ocupação das Possessões Portuguesas na Índia, pelas Forças
Armadas da União Indiana.

As autoridades do Daomé
acolheram esta iniciativa e intimaram os ocupantes portugueses do forte, a
abandoná-lo, tendo o administrador e seus colaboradores sido expulsos do Daomé.
A ideia era de fazer uma campanha mediática a mostrar que o Império Colonial
Português, se começava a desagregar, mas isso não foi conseguido, como era
desejado. A Feitoria de São João Baptista de Ajudá era muito pequena, não tinha
qualquer valor económico ou social; unicamente valor histórico para o povo do
Daomé. A ocupação deu-se de forma pacífica. A imprensa internacional não achou
a notícia de interesse.
Mas os dirigentes da
CONCP, não desistiram.

A libertação de Goa,
Damão, Diu, Dadrá e Nagar-Aveli pelas forças armadas indianas teve grande
impacto no movimento nacionalista, em Moçambique. Outro aspecto que nunca
podemos esquecer é a colaboração de Marcelino dos Santos, com Mondlane, na
construção e manutenção da Unidade Nacional. Quero deixar aqui bem claro que o
verdadeiro Arquitecto da Unidade Nacional é, de facto, Eduardo Mondlane, mas,
sem dúvida nenhuma, teve em Marcelino dos Santos o mais importante adjunto
nessa tarefa hercúlea..Para que a unidade acontecesse e, mais importante ainda,
para que essa unidade se consolidasse, se mantivesse e não viesse a ser
destruída, foi um trabalho muito difícil. Mondlane encontrou sempre em
Marcelino dos Santos o colaborador muito dedicado, a esse tão importante
objectivo.
10.2. Muitos não sabem e
outros sabem, mas deturpam: a preceder a reunião constitutiva da FRELIMO, em
Junho de 1962, em Dar-es-Salaam, houve uma outra reunião, em Acra, que foi
realizada à margem da «All Freedom Fighters Conference», que se realizou de 31
de Maio a 02 de Junho de 1962. Marcelino dos Santos participou, nessa
Conferência, em tanto que Secretário-Geral da CONCP, mas levava a incumbência
de Mondlane, que não pôde participar nesta reunião, de tudo fazer, para que os
dirigentes da UDENAMO e da MANU cumprissem, o que tinha sido previamente
acordado, isto é, que assinassem um memorando de entendimento de que, aceitavam
o princípio da UNIDADE e que iriam trabalhar para a unidade.
Krumah e Nyerere tinham
muitas divergências, mas é muito menos conhecido que eles tinham alguns pontos
de acordo. Era absolutamente necessário que se lutasse, usando a via
armada, já que Portugal já tinha dado provas cabais de que não queria
negociações, nem queria conceder a Independência.
10.3.2. Os dois percebiam
que aqueles Movimentos de Libertação de Moçambique eram fracos, não tinham uma
rede de militantes no interior do país e as suas lideranças, não tinham a
capacidade política, nem académica, para conduzir a luta. Era preciso uma
reformulação profunda da Luta de Libertação em Moçambique, com a fusão dos
partidos existentes e era preciso fazer surgir uma nova liderança, mais
instruída e com capacidade e visão políticas. Aos olhos de ambos (Krumah e
Nyerere), Eduardo Mondlane e Marcelino dos Santos eram a solução para uma nova
liderança dum partido unificado.

Foi essa
pesada tarefa que lhe foi confiada. E ele meteu mãos à obra com sucesso. A
sua posição também se consolidou cada vez mais, pela sua ponderação, pela sua
grande experiência política, pela sua constante defesa das posições justas,
pela sua extraordinária dedicação e engajamento à causa popular. Ele tornou-se,
no plano interno, uma referência, aquele a quem todos nós nos dirigíamos quando
precisávamos de um conselho ou uma orientação e donde sempre saímos, não só
esclarecidos e mais confiantes em nós próprios, mas também confortados com uma
palavra amiga.
16. Não poderia terminar
este comentário sobre este grande homem contemporâneo, sem sublinhar a sua
modéstia e sua falta de ambição pessoal. Marcelino sempre foi correcto para os
líderes com quem conviveu de tão perto, sempre os respeitou e sempre pautou
pela honestidade. É de todos os dirigentes políticos que conheci, o que mais
respeito sempre teve pelas estruturas em que se integrou e pelas decisões
colectivamente tomadas..Marcelino foi sempre um individuo de uma afabilidade
extraordinária. Era capaz de se relacionar com toda a gente, desse os
intelectuais, ao povo, aos estrangeiros que se relacionavam com a FRELIMO e,
depois da Independência, com o seu Ministério, que também era responsável da
cooperação internacional e aos empresários e quadros que vinham tratar de
relações económicas.
18. Marcelino sempre foi
e mantêm-se ainda hoje, uma referência ideológica, um indivíduo de um bom senso
ideológico; só falava no fim e falava bem. Porque apreendia tudo aquilo que as
pessoas diziam e foi sempre um homem dedicado ao povo e à causa popular. Mas
sobre o Marcelino dos Santos no pós-Independência muitas outras pessoas podem
testemunhar. Finalmente Marcelino foi poeta. É considerado um dos mais
insignes autores da poesia de combate. Os seus textos, assinados com os
pseudónimos de Lilinho Micaia e Kalungano, inspiraram várias gerações de
escritores. Com estes pseudónimos tem poemas seus publicados no Brado Africano
e em duas antologias publicadas pela Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa.
Com o seu verdadeiro nome, tem um único livro publicado pela Associação dos
Escritores Moçambicanos, em 1987, intitulado “Canto do Amor Natural”.
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