O
estado indiano de Bihar enfrentava, nesta segunda-feira (17), duas crises de
saúde. Por um lado, um vírus cerebral que estaria vinculado ao fruto tropical
lichia e que provocou a morte de mais de 100 crianças, e por outro a onda de
calor extremo que já deixou 78 mortos. Trata-se da segunda onda de calor mais
longa já registrada na Índia, o que levou as autoridades a imporem restrições
similares a um toque de recolher nesta região pobre do norte do país.
Mas
o estado de Bihar, com alguns dos piores indicadores de saúde do país, também
enfrenta desde o começo de junho um surto de Síndrome de Encefalite Aguda
(AES), uma infecção viral.
Oitenta
e cinco crianças faleceram no maior hospital público do estado, o Sri Krishna
Medical College and Hospital (SKMCH), na cidade de Muzaffarpur, enquanto outras
18 morreram em um centro privado, apontou Ashok Kumar Singh, um funcionário de
saúde da região citado pela Press Trust of India. A maioria das crianças sofreu
uma perda repentina de glicose no sangue, explicou Singh à AFP. Imagens de
televisão mostraram pais angustiados junto a seus filhos, vários deles
amontoados em uma mesma cama no hospital. Um dos pais interpelou o ministro da
Saúde indiano, Harsh Vardhan, quando este chegou ao hospital para uma inspeção
junto com uma delegação oficial. Um médico disse a um canal de televisão local
que o centro de saúde está mal equipado para atender uma onda de pacientes como
esta. A maioria das crianças chegaram semiconscientes ao hospital. Anos atrás,
cientistas americanos advertiram que esta doença cerebral pode estar vinculada
a uma substância tóxica presente na lichia.
A
lichia contém uma substância chamada hipoglicina, que impede o corpo de
produzir glicose e faz com que os níveis de glicose no sangue caiam. Mas isso
só será um problema em casos extremos. (/iStock)
Recentemente,
a morte de centenas
de crianças na Índia foi associada ao consumo de lichia. Segundo o
estudo, publicado na revista científica The Lancet, a condição, que
provoca convulsão, perda de consciência e pode levar ao óbito, é causada
pela ingestão da fruta quando a criança está de estômago vazio. Mas, a lichia
seria capaz de fazer mal? De acordo com a nutricionista Gisele Paiva, sim. Mas
em condições extremas.
“A
lichia tem uma substância chamada hipoglicina, que altera o metabolismo da
glicose pelo corpo e faz com que os níveis de glicose no sangue caiam. Mas isso
só vai ser um problema se os níveis de glicose já estiverem muito baixos e se
você comer uma quantidade muito grande de lichia. Caso contrário, não há razão
para se preocupar.”, explica Gisele, nutricionista da Clínica
DrummonDermato. Esse foi o caso das crianças na Índia. Segundo o estudo,
a maioria das vítimas vivia em uma área pobre na região que é a maior produtora
de lichia do país. As crianças que não estavam em boas condições nutricionais e
já apresentavam baixos níveis de açúcar no sangue por não terem se alimentado
nas últimas horas, comiam as frutas – provavelmente em grande quantidade –
que caíram dos pés nas plantações. De acordo com os relatos dos familiares, as
crianças acordavam no meio da madrugada gritando, antes de sofrer convulsões e
perder a consciência em função de inchaço no cérebro. “A glicose é o nutriente
mais importante do cérebro. A falta dele provoca fraqueza excessiva,
tontura, perda de memória, sonolência e, quando atinge um nível muito
baixo, pode levar à morte.”, diz Gisele.
Desde
que os médicos passaram a recomendar que os moradores não deixem as crianças
ficarem muitas horas sem se alimentar e restrinjam a quantidade de lichias
consumidas por dia, o número de mortes começou a cair.
Os
pesquisadores que investigaram o caso também descobriram uma associação entre
os pacientes indianos internados entre maio e julho de 2014 e um surto de uma
doença que também provocava convulsão e inchaço do cérebro em crianças no
Caribe. O surto caribenho foi provocado pela ackee, fruta parente do guaraná que
contêm hipoglicina, substância que impede a produção de glicose – e também é
encontrada na lichia. Por Giulia Vidale
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