Manuel Araújo, Presidente do Conselho
Municipal de Quelimane.
Está disponível para recandidatar-se?
Isso não depende de mim. Depende dos
munícipes de Quelimane. Se disserem avança, irei me recandidatar, para além de
que estou disponível para mais um mandato porque há necessidade de terminar o
trabalho que comecei. É que, neste momento, se vier outra pessoa, há sérios
riscos de Quelimane voltar ao buraco onde esteve durante 40 anos e isso iria
doer-me bastante. Porém, se o desejo for contrário, também vou aceitar, porque
não posso recusar o pedido do meu povo.
Se avançar para a recandidatura será pelo
MDM?
Até ao momento não vejo razões para não
concorrer pelo MDM. Já recebi convites de outros partidos, mas neste momento
sou do MDM e é pelo MDM que vou concorrer.
Pode citar nomes desses partidos?
Não interessa mencionar, mas os
partidos que têm domínio do espaço político nacional são sobejamente
conhecidos.
Está a falar da Renamo?
Não falei de partido, mas de partidos e
não vou mencionar nomes.
Como irá reagir, caso o partido opte por
um outro candidato?
Desobedecer a vontade dos munícipes seria
um grande erro do partido, porque isso seria um sinal de que os órgãos do
partido desprezam as bases, não escutam a base. Qualquer órgão que não escuta a
vontade da base é um órgão ilegítimo e não deve ser obedecido.
Em Dezembro, teremos o II Congresso do
MDM. O que espera que esta magna reunião traga de mais-valia para o partido?
Espero maior democratização interna do
partido. O MDM precisa de se democratizar mais ao nível interno e espero que
isso se materialize neste Congresso.
E se o teu desejo falhar?
Se falhar, será uma grande frustração para
mim, para os restantes membros e para o povo moçambicano, isso porque o povo
depositou muita esperança no MDM como uma possível alternativa à eterna
colonização da Frelimo.
Se essa democratização interna não se
materializar, aventa a possibilidade deixar o partido?
Não sou pessoa de abandonar o barco no
meio do caminho. Luto pela defesa das minhas ideias. Desistir é arma predilecta
dos fracos. Apesar de todas as fragilidades que ele exibe, o general Alberto
Chipande me ensinou alguma coisa. Na Frelimo, o general Chipande engoliu sapos
desde 1962 até hoje, resistie acabou vencendo. Se o general Chipande tivesse
desistido da luta, Filipe Nyusi não seria Presidente de Moçambique. Portanto, há
que aprender alguma coisa desse exemplo de resistência e perseverança.É preciso
saber esperar, é preciso saber lutar, não limitar a sua visão a resultados imediatos,
mas a longo prazo.
Como é que analisa a crise entre a direcção
do MDM e o edil de Nampula?
A minha posição é do domínio da
direcção do partido. Manifestei o meu ponto de vista através de uma carta que
fiz ao presidente do partido, com o conhecimento da Comissão Política.
O que diz a carta?
Manifestei a minha indignação com a
forma como o partido geriu a questão do conflito. Disse ao presidente do partido
e aos membros da Comissão Política que me distanciava da estratégia do partido
em relação à gestão do conflito de Nampula. Acho que o partido teria gerido
aquele assunto de outra maneira.
Qual seria a melhor estratégia de gestão
na sua óptica?
Primeiro, é importante que o MDM tivesse
um espaço de interacção dos quatro edis. Um meio em que os quatro edis se
reunissem regularmente. Esse espaço não existe dentro partido.É esse espaço que
nos permitiria discutir muitos assuntos de ordem interna e evitar que as nossas
questões ou inquietações furassem paredes. No caso de Nampula, houve erros de ambas
as partes e a consequência foi aquilo que o povo assistiu. Se tivesse havido
uma boa gestão, sobretudo da direcção do partido, não teríamos chegado àqueles
níveis. Numa organização, os conflitos são coisas normais, fazem parte do
crescimento, agora, a forma como esses conflitos são geridos é que marca a diferença.
O diálogo. É o diálogo que nos permite prever,
prevenir, gerir e resolver conflitos. Se numa organização falta espírito de
diálogo, os conflitos serão regulares e o fim será desastroso para as partes.
Ao pronunciar-se sobre a crise, o edil
de Nampula relatou uma situação que também aconteceu com o senhor num passado
não distante. Estou a falar de uma espécie de linchamento público por parte da
direcção do partido. Como é que geriu a situação.
Maturidade.
De quem?
Da minha parte.
Quer dizer que o edil de Nampula é um
principiante?
O que eu disse é que se não fosse
maduro, Quelimane estaria na mesma situação
de Nampula.
O edil de Nampula disse ainda que alguns
membros da direcção do MDM queriam aproveitar-se do município de Nampula para
proveitos pessoais, mas ele recusou. Aconteceu consigo também?
Isso acontece em qualquer organização e
não apenas com a direcção do MDM. Isso acontece na Frelimo e na Renamo, no nosso
sistema político os partidos não têm meios de sobrevivência e a espectativa é
que os membrosque estão nos órgãos de direcção da administração pública
sustentem a sobrevivência dos partidos.
Como é que geriu?
Mandei-os passear...
No início caracterizou as divergências
entre o edil de Nampula e a direcção do MDM como sinal de crescimento do
partido. Ao que tudo indica, estamos perante uma grave crise interna que poderá
redundar numa cisão. Que lhe parece essa leitura?
O MDM não está dividido. Vai às eleições
autárquicas com uma dissidência.Contudo, não podemos deixar de frisar que qualquer
dissidência fragiliza, a união é que faz a força. Continuoa ver esta situação
como própria de crescimento.
Para além da dissidência de Amurane, a
Renamo aposta em concorrer nas próximas autárquicas. A presença do MDM em
Nampula não estará ameaçada?
O MDM já existia antes de Nampula se
libertar da colonização frelimista. Isso foi graças ao MDM. Portando, manter
Nampula era uma mais-valia para o partido, mas perder não pode ser visto como o
fim do MDM.
O presidente do município de Nampula acusou-o
de cobardia, aparentemente por assumir uma postura mais defensiva em relação à
direcção do MDM. Que comentário lhe merece
esse adjectivo?
Achei aquilo normal. Sou uma pessoa madura.
A minha educação, a minha forma de estar e o meu ser não me permite concentrar
nesses aspectos.A minha experiência de vida permitiu-me aprender a aturar
malucos, loucos, intelectuais e filósofos. Isso me permite relacionar-me com
todos.
Onde é que coloca Amurane nesse grupo?
Eu compreendo que o edil de Nampula foi
imaturo. Ele está a fazer política há três anos e eu faço política há mais de 22
anos. Portanto, mesmo que não concorde, respeito a opinião dele.
O edil de Nampula caracterizou o líder
do MDM como ditador. Acha que o partido é dirigido de forma autoritária?
A opinião é dele. Aliás, a nossa
Constituição abre espaço para cada moçambicano dizer aquilo que pensa e o edil de
Nampula não podia ser excepção. Agora, uma coisa é certa, precisamos de aprofundar
a democracia no nosso partido.
Como é que avalia o encontro Nyusi-Dhlakama?
Acha que o actual processo negocial vai colocar termo definitivo às crises
políticas cíclicas que o país tem vindo a viver?
Estou muito feliz com os últimos
desenvolvimentos. Tive a oportunidade de falar com os dois líderes e
congratulei/os pelas conquistas.Agora, é importante termos na mente
que esta não é uma paz segura, porque não
tem bases sólidas. Precisámos de uma paz transparente e conclusiva, visto que a
paz não é só ausência de guerra. Por várias vezes, tivemos o calar das armas,
mas não tivemos paz, porque faltou reconciliação entre os moçambicanos. A
reconciliação passa por cada moçambicano aceitar o pensamento do outro. Todos
os moçambicanos são iguais.
A relação institucional entre os edis
da oposição e os governadores da Frelimo foi sempre problemática. Como está a
sua relação com o governador Abdul Razak?
Abdul Razak é uma figura que respeito bastante,
foi uma pessoa que quando chegou, tinha alto sentido de Estado, mas mudou de
postura. Isso porque foi isolado dentro do partido dele. Na última reunião da Frelimo
na Zambézia, ele concorreu para o Comité Central, mas teve de retirar a sua
candidatura, porque não tinha apoio. Há um conflito entre o governador e o primeiro
secretário da Frelimo na Zambézia, há uma crise interna dentro da Frelimo e uma
das vítimas é o governador. Abdul Razak está a ser sacrificado, porque tem
sentido de Estado, tinha boas relações com Manuel de Araújo. Ademais, o
primeiro secretário da Frelimo na Zambézia esperava mordomias de Estado por
parte do governo da Zambézia. Abdul Razak está isolado dentro da Frelimo na
Zambézia e quase que não manda. Não tem nenhum poder...quem manda é o primeiro secretário
e os seus pupilos que estão no governo provincial. Eu não me entendia com os
anteriores governadores, porque não tinham postura de Estado. Tinham postura partidária.
O actual governador tinha postura de Estado e é por isso que me entendia com
ele, mas isso lhe custou isolamento. Para salvar a sua pele, está a
distanciar/se de Araújo. Por exemplo, pela primeira vez, Abdul Razak não participou
nas festividades dos 75 anos da cidade de Quelimane, não recebeu os embaixadores
que foram assistir ao dia da cidade. Isso não era comum da parte de Abdul Razak.
O primeiro secretário da Frelimo na
Zambézia disse recentemente que Manuel de Araújo estava a trazer colonos de
volta a Quelimane. Qual é o seu comentário?
Aquele indivíduo é ignorante. O meu pai
ensinou-me a não responder a ignorantes. Ademais, a
ignorância é uma doença e todo o ignorante
deve ir ao hospital para se curar. O que aconselho àquele senhor é ir à escola,
porque ele não estudou. Por vezes, não percebo como é que um partido com tantos
quadros de qualidade admite ter um primeiro secretário ignorante numa província
tão estratégica como Zambézia.
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