As declarações do ministro de Economia e Finanças,Adriano Maleiane, semana finda,
em Londres, assumindo a incapacidade total e completa do país em honrar com os
pagamentos das “dívidas ocultas” foram consideradas pelos académicos António
Francisco e João Mosca como sendo machadada final que confirma que estamos
perante um Estado falido. No entanto, saúdam esta postura governamental
apontando que “o reconhecimento da doença é já princípio de cura.
Os académicos entendem que, depois de inúmeras vezes
terem advertido o governo sobre a insustentabilidade da dívida e aconselhado sobre as medidas que
devia tomar, as declarações de Maleiane mostram que não são
desestabilizadores, como são rotulados por alguns círculos de
opinião. Os académicos falavam numa mesa
redonda sobre monitoria da dívida pública: auditoria à dívida pública
como solução “quick fix solution” ou oportunidade para uma reforma estrutural na gestão das finanças
públicas em Moçambique. O argumento para o debate é que, nos últimos cinco
anos, a dívida pública moçambicana teve um crescimento galopante, com
uma previsão de que, em finais de 2016, a dívida pública bruta irá atingir 130,0% do PIB, sendo que no
total dessa dívida 80% representará o endividamento externo.
O investigador do
Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), António Francisco, diz que
esta foi a confirmação daquilo que já dizia desde há muito
que, com avultadas dívidas e sem capacidade de pagar, somos um Estado
verdadeiramente falido.Recorrendo às classificações das
agências de notação financeira, Francisco diz que Moçambique nasceu, cresceu e
continua no lixo, sendo que ao longo do tempo pouco fez em termos de políticas
para se desembaraçar dessa situação e acabou se precipitando para a falência. “Já
estamos na falência e a minha maior preocupação é que não sejamos um Estado
falhado, devido à falta de pagamento da dívida aliada à guerra e raptos que
fazem com que o Estado perca a capacidade de controlo de gestão básica do país”,
atirou. O académico recordou que esta é terceira situação de crise financeira em
que o país se encontra. A primeira crise, segundo António Francisco, foi em 1984,
quando o país era dirigido por Samora Machel e não se procurou culpados porque
todos estavam imbuídos na construção da uma nova sociedade. Foi exactamente neste
período em que o país aderiu às instituições da Bretton Woods para debelar
a crise. A segunda, diz o pesquisador, verificou-se na década 90 e graças à
conjuntura de combate à pobreza, boas relações com os parceiros e sociedade
civil foi uma vez mais ultrapassada. Agora estamos na terceira falência, que
surge numa altura de quebra de diálogo com a sociedade civil e falta de confiança
dos parceiros para com o governo. “O governo não consegue dialogar,
quebrou a confiança. O governo pensa sozinho e a sociedade civil fala sozinha.
Há dois anos, o governo dizia que que a dívida estava controlada e rondava os 30%
do PIB agora estamos nos 130% e verifica-se incapacidade”,disse. No entender de
Francisco, houve um delírio financeiro do lado governamental que pensava que
havia ganho um jackpot com os recursos
naturais e começou a endividar-se de forma irresponsável. Recorrendo ao adágio
popular segundo o qual “ o
reconhecimento da doença é o princípio da cura”, em alusão à declaração de
incapacidade de pagamento da dívida feita por Maleiane, o pesquisador do IESE refere
que aqui pode começar uma nova fase de debate, pois entende que o governo “vai
iniciar novos debates” para que a situação seja encarada de uma forma
realística. Francisco diz não vislumbrar outra saída que não passe pela ajuda
da instituição comandada por Christine Lagarde, pois até ao momento todos os
doadores aguardam um gesto seu para poderem agir. Deste modo, isto vai implicar
abertura por parte do governo para uma auditoria internacional.
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