Tenho noção de
que alguns supostos militantes da Frelimo, meu partido de eleição, andam a
questionar a quem me dá espaço para partilhar o meu pensamento com outros
moçambicanos, a razão de dar-me esse espaço. Dizem esses "militantes"
que eu ando a atacar os nossos líderes. Granda mentira!
Eu não podia
esperar uma opinião mais mesquinha sobre o pensamento que decido partilhar com
os meus compatriotas (moçambicanos). O que é provável é que esses
"militantes" ignoram que mentir é pecado mortal. Com efeito, politicamente
a Frelimo está a morrer por causa das mentiras que alguns desses
"militantes" vêem insistindo em impingir aos moçambicanos.
A propósito, é
preciso dizer que os verdadeiros inimigos internos da Frelimo e de Moçambique
são aqueles malandros que advogam que os erros não são para serem apontados em
público. Tenho comigo que esconder erros é errar exponencialmente, para além de
ser insulto à inteligência de outrem. Erros não são para serem escondidos, mas
sim para serem denunciados e corrigidos. E o seu reconhecimento e aceitação
como tal erros por quem os cometeu torna mais efectiva a sua correcção. Erros
escondidos viram tumor maligno ou cancro: matam lenta e dolorosamente. Quem
duvida disto, detenha-se só um pouco para apreciar a forma como a Hillary
Clinton e o partido Democrata acabam de perder as recentes eleições gerais nos
Estados Unidos da América.
A propósito das
recentes eleições norte-americanas, devo confessar que tive uma acesa discussão
com alguns dos meus amigos versados em política internacional, quando eu lhes
disse, desde o princípio, que Donald Trump tinha o discurso com o perfil
adequado para ganhar estas eleições. Esses meus amigos, por sinal funcionários
seniores do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação (de Moçambique) fizeram
troça não só da minha opinião como também de mim próprio. Disseram eles que eu
tinha que deixar de me armar em político, que mal entendo, e me ocupar da
Física. Em retrospectiva, lembrei a eles que me tinham dito a mesma coisa
quando, em 2008, eu lhes disse que Barack Obama e ia ganhar as eleições gerais
daquele ano nos Estados Unidos da América. Recordo-me que nessa altura eles
disseram que os norte-americanos ainda não estavam preparados para ter um
presidente qual Barack Obama: um homem com sangue da mãe África negra. Ocorreu,
entretanto, que Barack Obama ganhou não só aquelas eleições, mas também as
seguintes, em 2012. E hoje, Donald Trump e o partido Republicano ganharam as
eleições gerais norte-americanas, novamente validando os meus argumentos.
E quais são
esses argumentos?
Primeiro, a
vontade do eleitorado de ver mudança que faça diferença. Quando Barack Obama
foi eleito pela primeira vez, o seu discurso de campanha cativou a atenção do
eleitorado porque prometia uma mudança real ressonante com a vontade da maioria
do eleitorado norte-americano naquele momento. Naquela altura, era necessário
terminar com a guerra no Iraque e associar os Estados Unidos da América com o
movimento internacional a favor da economia verdade, alimentada por energia gerada
a partir de fontes renováveis, em vez dos convencionais combustíveis fósseis,
cuja liderança os Estados Unidos estavam a perder a favor da União Europeia.
Isto a nível da política internacional. A nível da política doméstica, os
norte-americanos precisavam da sair da recessão em que a guerra do Iraque,
sobretudo, metera a sua economia. Em suma, o eleitorado norte-americano
precisava de um presidente que se identificasse com a necessidade de colocar os
Estados Unidos da América na liderança das causas que não estava a liderar, ou
estava a perder liderança. O discurso do Barack Obama naquela altura estava
alinhado com essa pretensão.
Segundo, hoje a
economia norte-americana está recuperada do choque que sofreu durante,
sobretudo, nos quatro últimos anos do mandato do George W. Bush. Barack Obama
pode gabar-se de ter operado essa mudança positiva. Mas pecou por não conter o
expansionismo que sempre caracterizou a política dos democratas americanos, e
que torna os Estados Unidos da América um alvo preferencial do terrorismo
internacional. O povo norte-americano está farto da política de confrontação
com a Rússia que Barack Obama abraçou e a Hillary Clinton ia continuar. Bernie
Sanders tinha o discurso de mudança positiva que os norte-americanos queriam
ver acontecer, mas a liderança do partido democrata quis impingir-lhes a
Hillary Clinton. O povo negou e preferiu ir pelo Donald Trump. Simples!
Aqui em casa
(em Moçambique), a popularidade da Frelimo está em queda livre porque a certo
momento da história de Moçambique independente apareceu uma classe de
dirigentes políticos que se julgavam os mais espertos e inteligentes que os
demais moçambicanos. Isso ocorreu de forma mais aberta depois da morte de
Samora Machel. Tudo aquilo que Samora Machel combatia sem tréguas (pelo menos
no seu próprio discurso), essa classe de dirigentes passou a permitir. Sem
qualquer critério justo, privatizaram quase tudo, e eles passaram a ser os
proprietários. Hoje eles que são o senhorio do Estado; o Estado paga renda a
eles.
São esses
dirigentes, que permitiram a corrida desenfreada para enriquecimento sem
princípios, que colocaram a Frelimo em queda livre. E aqui não posso não
apontar Joaquim Chissano como quem permitiu isso, porque também tinha vantagens
a colher. Passivamente, ele permitiu a corrosão dos princípios e valores
defendidos por Samora Machel. A corrupção passou a ser "oficial"
durante os 18 anos que Joaquim Chissano esteve no poder. É por isso que eu não
vejo razão para celebrar Joaquim Chissano como obreiro da paz. Paz real ou
efectiva Moçambique NUNCA teve desde que é país independente. Estava-se no auge
da Guerra Fria quando Moçambique ficou independente. O sistema de governo então
escolhido pelos nossos libertadores, por conselho de "intelectuais"
como Marcelino dos Santos, Sérgio Vieira, Jorge Rebelo e José Óscar Monteiro,
entre outros, foi tal que mergulhou Moçambique numa confrontação directa com o
Ocidente. Qual é, então, essa paz que Joaquim Chissano construiu em Moçambique,
para ser celebrado como "obreiro da paz"?
Aceito celebrar
Joaquim Chissano por ter continuado a cultivar o terreno que Samora Machel
começara a preparar para lançar a semente da paz efectiva para Moçambique. Ele
terminou de lavrar esse terreno e lançou a semente da paz, e esta
germinou, mas a planta não foi bem cuidada. Acarinhar Afonso Dhlakama com uma
guarda pessoal privada e armada, fora dos prazos fixados no Acordo Geral de Paz
(AGP), foi uma decisão MUITO ERRADA, tomada por Joaquim Chissano, e hoje está a
servir para acelerar a queda livre da Frelimo.
Só Joaquim
Chissano pode explicar aos moçambicanos por que deixou inconclusiva a
implementação do AGP. Enquanto isso não acontece, eu vou especulando que
Joaquim Chissano queria usar o Afonso Dhlakama para se manter no poder e
inviabilizar o fortalecimento da república em Moçambique. Não encontro melhor
explicação para o facto de ele (Joaquim Chissano) e Afonso Dhlakama terem
deixado inacabado o processo de implementação do AGP. Estou até a pensar que
Joaquim Chissano permitiu a corrupção para formar uma classe que iria defender
a sua permanência no poder vitaliciamente. É essa classe que hoje vê Joaquim
Chissano como "obreiro" de uma paz que Moçambique NUNCA teve, e
insistem em impingir esta falácia a todos os moçambicanos. E os jornalistas moçambicanos
ajudam essa classe na empreitada de impingir aos moçambicanos a falácia de que
Joaquim Chissano é obreiro da paz. Qual paz qual carapuça!
Ocorreu que os
camaradas perceberam que Joaquim Chissano os estava a querer fintar. É aqui que
Armando Guebuza entra em cena. Ao contrário do que se pretende fazer crer, a
transição da liderança da Frelimo de Joaquim Chissano para Armando Guebuza não
foi nada pacífica do ponto de vista ideológico. Isso pode ser explicado pelo
discurso de campanha para a conquista do primeiro mandato presidencial de
Armando Guebuza. Falava-se de «acabar com o espírito do deixa-andar», em
referência ao facto de que a liderança de Joaquim Chissano tinha deixado a
corrupção galgar terreno em todas as instituições da República de Moçambique.
Tal discurso moralizou o povo, que começou a confiar na mão já conhecida como
dura de Armando Guebuza para recolocar a sociedade nos carris da ética.
Infelizmente, Armando Guebuza não conseguiu implementar a sua estratégia de
combate contra a corrupção. Aliás, ele se encantou com a corrupção, quando
percebeu o que lhe podia proporcionar em pouco tempo. Afinal, o legado de
Joaquim Chissano—a corrupção—era mais apetitoso do a vontade de combatê-lo. E
assim que, paulatinamente, o combate contra o "espírito do
deixa-andar" foi substituído pela instalação do "espírito de
deixa-falarem".
Porém,
objectivamente, em termos comparativos, em 10 anos Armando Guebuza fez MUITO e
MELHOR pela Frelimo e pelo Estado moçambicano do que Joaquim Chissano fez em 18
anos. Ou seja, definitivamente para além de ter lançado a semente para a
paz—que até germinou, mas a planta foi mal cuidada—não existe outro motivo
inequívoco para celebrar Joaquim Chissano como obreiro da paz. Tal exercício é
forçado por aqueles que até hoje estão a contribuir para a aceleração da queda
da Frelimo. A liderança de Armando Guebuza equipou a Frelimo com um
pára-quedas. Com efeito, logo que assumiu a liderança da Frelimo e do Estado
moçambicano, Armando Guebuza iniciou e conduziu, com sucesso, o processo de
revitalização das bases da Frelimo. A Frelimo voltou a ser aquela organização
vibrante que era poucos anos antes da morte trágica de Samora Machel, seu líder
carismático.
A revitalização
da Frelimo sob liderança de Armando Guebuza assegurou a este um segundo mandato
mais tranquilo. Só que Armando Guebuza, depois de um primeiro mandato bem
conseguido, no segundo mandato cometeu o erro crasso de fazer-se rodear por
antigos "C-class students". Anteriormente já expliquei o conceito de "C-class
students": são indivíduos que no seu tempo de escola eram alunos de
classificação máxima "suficiente", em todas as provas; suas notas
nunca passavam disso, e para as obterem, tinham que copiar ou cabular.
Portanto, no seu segundo mandato, Armando Guebuza rodeou-se de pessoas com
grande défice de honestidade intelectual e integridade moral; pessoas para quem
os fins justificam os meios. Havia algumas excepções, claro, mas grosso modo,
no seu segundo mandato, Armando Guebuza fez-se rodear de pessoas de ideias pequenas
e poucas, mas altamente arrogantes e pedantes. São essas pessoas que fecharam o
pára-quedas da Frelimo, que entrou novamente em queda livre; são essas pessoas
que nos levaram (a nós todos, moçambicanos) para onde estamos hoje. Tal foi o
erro crasso de Armando Guebuza, e a minha intuição me diz que ele cometeu este
erro de forma deliberada: não queria ser confrontado pelos seus colaboradores,
para assim ele poder viabilizar os projectos que tinha em carteira, entre os
quais liderar pessoalmente a negociação dos contratos de exploração dos
recursos naturais que Moçambique possui.
Erradamente—assim
eu penso—, alguns camaradas acharam que Armando Guebuza queria também
perpetuar-se no poder, qual tentara Joaquim Chissano. Foi então—eu avento—que
começaram a preparar Filipe Nyusi para a sucessão. A esperança desses camaradas
era de que, qual não fora sonho de Filipe Nyusi um dia vir a ser Presidente da
República de Moçambique, ele seria mais receptivo à sugestão e, por via disso,
os camaradas que lhe escolheram poderiam influenciar a governação, quer em
defesa de interesses de grupo, quer para voltar a abrir o pára-quedas da
Frelimo. Enganaram-se. Filipe Nyusi é suficientemente instruído para saber que
não deve obediência às pessoas que propuseram para ser Presidente de Moçambique
e da Frelimo; ele sabe que deve tão-somente obediência à Constituição da
República e aos Estatutos da Frelimo, não às pessoas. Só que este entendimento
do Filipe Nyusi—que até é correcto—está a fazer com que ele cometa o mesmo erro
cometido por Armando Guebuza: fazer-se rodear por antigos "C-class
students", pessoas com um grande défice de vergonha; pessoas habituadas a
viver de esquemas; pessoas instruídas na escola de Joaquim Chissano, que
aceitou, sem explicação convincente, a eliminação da disciplina de Educação
Política do currículo escolar.
Agora está a
ocorrer que, na tentativa de fazer entender que não governa na base de recados,
Filipe Nyusi está a confundir opiniões válidas, dadas gratuitamente para lhe
ajudar a governar bem, com recados. É por isso—assim eu penso—que Filipe
Nyusi está a fechar-se em si mesmo, não quer ouvir a mais ninguém, execra a
crítica, rejeita até opiniões úteis, e vai contradizendo o seu discurso
inaugural—aquele discurso bonito que ele proferiu no dia 15 de Janeiro de
2015—com cada decisão que toma. Esta forma de estar no poder que Filipe Nyusi
está a adoptar pode acelerar ainda mais a queda da Frelimo. Mas há ainda espaço
para ele rever tudo isso e evitar a queda da Frelimo. Basta ele saber contar
com uma geração sem nome de moçambicanos: refiro-me àquela geração de
moçambicanos que estudou ou ensinou educação política; eles são homens e
mulheres de Moçambique que execram a vida de cabrito comer onde estiver
amarrado, que a escola de Joaquim Chissano ensinou aos moçambicanos.
Quando exponho
publicamente este pensamento, não estou a atacar os nossos líderes, qual
pretendem fazer crer os que estão habituados a viver de esquemas fraudulentos,
que começam a considerar-me uma ameaça contra o seu o seu modo de vida. Não
entendem que estou a ir em seu socorro, porque estão tão obcecados de viver à
base da fraude. Nunca acreditaram na máxima de que a mentira tem perna curta.
Porque eu exponho o que penso sobre onde as nossas lideranças levaram a Frelimo
e a Moçambique, por culpa própria e induzida por esses sequazes da fraude, eles
começam a querer cortar-me as pernas. Estou a ser acusado de indisciplina, por
dizer o que penso e sei com clareza. Neste mural, esses sectários da vida
fraudulenta raramente registam comentários. Preferem contactar-me no "in
box", a protestar contra, ou a apoiar, certos conteúdos que partilho neste
mural. Não tenho nada contra isso, desde que não vise coarctar a minha
liberdade de pensamento e de expressão.
Haverá alguma
saída para reabrir o pára-quedas da Frelimo?
Há, sim! É
seguinte:
1. Restaurar a
credibilidade de Moçambique no mundo. (A auditoria das dívidas da EMATUM,
Proindicus e MAM é um bom passo nesta direcção.)
2. Aprimorar a
cultura de comunicação do Executivo com a sociedade, como um mecanismo de
prestação de contas aos cidadãos. (O silêncio do Governo ante denúncias, ainda
que infundadas, é percebido pelo eleitorado como significando cumplicidade.)
3. Restaurar a
autoridade do Estado através da credibilização do sistema de administração da
justiça. (A Procuradoria-geral da República tem que investigar todas as
denúncias, e prestar esclarecimentos ao público sobre o constatar nas suas
investigações, nos termos da lei.)
4. Moralizar as
forças de defesa e segurança, modernizando-as em termos de formação e
equipamentos. (Já não fica bem a polícia de protecção andar armada com AKMs nas
cidades.)
5. Solicitar a
revisão urgente da Constituição da República de Moçambique, para fixar balizas
claras sobre a estrutura do aparelho do Estado e o perfil de quem pode servir
na função pública e nos partidos políticos. (Actualmente há indícios de que a
Assembleia da República—onde a Bancada Parlamentar maioritária é da Frelimo—não
está a fiscalizar devidamente a acção legislativa do Governo.)
6. Solicitar
uma revisão dos Estatutos da Frelimo para se conformarem melhor com a
Constituição da República de Moçambique. (A disposição que advoga que os
militantes da Frelimo só se devem pronunciar sobre a vida do partido nos
órgãos, é uma afronta à liberdade de expressão, consagrada na Constituição da
República de Moçambique como um direito fundamental dos cidadãos
moçambicanos.)
7.
Intervencionar TODOS os bancos criados com capitais de origem duvidosa e, por
via, disso, desbaratar o esquema dos veteranos de luta de libertação nacional
de impingir líderes ao povo moçambicano. (Os líderes não se impingem, eles
revelam-se, ao povo.) Isto o Rogério Zandamela já começou a fazer (vede a lista
de bancos na zona vermelha, na imagem que aqui vai junta) e eu acho MUITO
correcto.
Mais eu não disse.
Mais eu não disse.
(Por Julião João Cumbana in facebook)
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