Apesar de o Presidente
da Federação Moçambicana de Futebol, Alberto Simango Júnior, ter recuado, semana
finda, da ideia de banir os clubes não licenciados do Moçambola- 2017, Ananias
Couane garantiu que esta medida irá continuar, pois, é a única forma de
garantir uma prova com clubes
sustentáveis.
Que balanço faz ao Moçambola-2016, o primeiro sob sua liderança e o
primeiro com 16 equipas?
-Estamos satisfeitos com
os níveis alcançados, em termos de organização. Quando preparamos o plano de actividades
e o orçamento para a prova não contávamos com a actual situação económica. Mas,
sentimo-nos satisfeitos porque terminamos bem o nosso primeiro Moçambola e com
16 equipas. Em termos competitivos, sentimos que houve competitividade, pelo
que assistimos ao surgimento de novos atletas que deram vigor ao campeonato.
Tivemos a situação de crise nos clubes, mas fizeram de tudo para que se
mantivessem até ao fim do campeonato.
Qual foi o verdadeiro impacto desta crise, ao nível da LMF?
-Afectou na medida em
que tivemos de adiar o pagamento de
alguns serviços. Há outros que tivemos de negociar com os fornecedores porque
nem todos os patrocinadores desembolsaram os valores. Também não foi possível aumentarmos
os subsídios dos árbitros, melhorar as suas condições de acomodação e
transporte terrestre (seria a LMF a pagar o transporte terrestre e não os
próprios árbitros). A tensão político-militar também nos afectou porque não foi
possível as equipas da zona centro deslocarem-se via terrestre, o que reduziria
a factura de transporte.
Uma falta de comparência e paralisação de treinos, devido a questões salariais,
marcaram este campeonato. Olhando para a situação que os clubes atravessam, é
possível considerarmos a passagem de 14 para 16 clubes, uma decisão acertada?
-Penso que não há
nenhuma relação.Temos de olhar as duas situações de forma distinta. Quando
aumentamos o número de equipas, havia um objectivo por atingir (aumentar a
competitividade) e conseguimos. Por outro lado, constatamos que as equipas
repescadas (Desportivo de Nacala e 1º de Maio de Quelimane) souberam estar na
prova, diferentemente do Desportivo do Niassa, que estaria mesmo sem o seu
alargamento. Portanto, não há nenhuma ligação. A crise teria nos afectado da
mesma forma com 14 clubes.
Embora os custos da
organização da prova recaiam sobre a LMF, não sente que ter um maior número de
clubes “deficientes” afecta a competição e a LMF, como organizadora?
-Se os clubes tivessem
tido crise, faltando um mês para o fim do campeonato, apontava o aumento de número
de clubes como responsável. Mas, a crise verificou-se antes do final da
primeira volta. Portanto, o aumento de clubes não tem nada a ver com a crise
financeira. O nosso desafio não é reduzir o número de clubes, mas ter clubes
organizados (em termos financeiros e noutros aspectos ligados ao marketing desportivo).
Podemos concluir que para 2017 estão confirmados os 16 clubes...
-É nosso objectivo, mas
é verdade que a situação financeira ainda vai nos abalar em 2017, pois, as
previsões indicam a melhoria para 2018. Porém, qualquer alteração será feita na
Assembleia-Geral, onde se aprovou o alargamento.
Disse publicamente, que “só o licenciamento ditaria quem deve estar no
Moçambola”. Neste momento, apenas duas equipas estão licenciadas (Liga
Desportiva de Maputo e Ferroviário da Beira) e oito estão à espera, sendo que
cinco (incluindo as duas equipas que ascenderam a primeira divisão) ainda não
moveram palha. Com este facto, há condições para estas colectividades fazerem
parte da prova?
-Estamos preocupados
porque o tempo já não existe e os clubes não estão a cumprir com os prazos.
Mas, o licenciamento é a chave para estar no Moçambola. Se não estiverem
devidamente licenciados não vão participar no Moçambola de 2017. Mas, acredito
que os clubes vão resolver a situação porque é na base do licenciamento que
vamos poder ver a sua mínima
organização.
Ou seja, é possível não termos 16 equipas, caso não se licenciem...
-Sim. Tem de se cumprir com
os requisitos.
Que informações têm sobre os clubes que ascenderam ao Moçambola.Não está a
caminho um novo“Desportivo
do Niassa”?
-A questão dos novos
clubes ainda não está concluída. Estamos à espera de uma comunicação oficial, como
também ainda não comunicamos quem são os despromovidos. A verdade desportiva é
um dos seus “cavalos de batalha”.
Na penúltima jornada, o treinador da UDS apontou nomes dos que
“arquitectam”
campeões. Até que ponto, esta declaração belisca esta prova e a própria
LMF, tendo em conta,também, a situação dos “nove minutos” da época passada?
-Estamos preocupados em
ver esse assunto resolvido, mas em termos de resultados desportivos estamos claros
de que o Ferroviário da Beira é justo vencedor. Ninguém deve questionar isso.
Terminou com maior número de pontos e golos marcados. Mas, os pronunciamentos merecerão
o seu devido tratamento porque levantam dúvidas
sobre a organização do
campeonato. Se houver matérias que não sejam desportivas, mas que atentam a nossa
verdade desportiva iremos encaminhá-las para as entidades competentes.
Será que teremos, de facto, resultados deste trabalho? Aquando das palavras
de Augusto Matine não tivemos desfecho...
-Faremos de tudo para
que possamos esclarecer este caso. Vamos analisar as questões desportivas e traremos
resultados.
O que falhou para que o blackout declarado aos treinadores não tivesse efeito...
será o melhor caminho para preservar a imagem da competição?
-O árbitro não é o
elemento mais importante do jogo, mas fundamental. Quando falamos de não comentar
sobre o trabalhos do árbitro, referíamo-nos à necessidade de se usar uma
linguagem cuidada, por um lado, e, por outro, fazer leitura do jogo porque o habitual
é não fazer análise do desempenho da equipa ou o mérito e demérito do adversário.
Foca-se, simplesmente, no trabalho do árbitro.
O calendário voltou a ser colocado em causa, na medida em que houve período
em que as equipas faziam jogos num espaço de três dias, enquanto as condições
de transporte são as que conhecemos...
-De facto, precisamos
melhorar a nossa calendarização e no trabalho que faremos com a FMF
procuraremos não ter jogos ao meio da semana e nem jogos da Taça da Liga, em
datas-FIFA. Porém, a Taça da Liga veio para melhorar a utilização dos recursos
humanos dos clubes porque os planteis são constituídos por 25 a 26 jogadores.
Por isso marcávamos jogos nas datas-FIFA.
Com este argumento, a LMF não estará a ditar que atletas devem ser utilizados
nesta competição, competência exclusiva aos treinadores e numa prova já
declarada oficial e, ao mesmo tempo, milionária?
-O nosso objectivo era
trazer a competitividade e despertar talentos. Mas, com esta crise, os clubes preferiram
apostar na equipa principal, pelo que nos leva a pensar e reorganizar o
calendário desta prova. Já não queremos que os jogos coincidam com os da
selecção nacional. Se as condições financeiras e climatéricas permitirem iremos
começar a prova, em Fevereiro, para permitir que o Moçambola seja jogado apenas
aos fins-de-semana, assim como a própria Taça da Liga.
Uma das maiores batalhas travadas por esta direcção é das transmissões
televisivas do Moçambola. Que avaliação faz da implementação do acordo com a
ZAP?
-Embora se tenha
transmitido poucos jogos, a avaliação é positiva porque veio trazer mais-valia
ao nosso campeonato, pois, passa a ser visto fora do país e com imagem de qualidade.
Estão surpreendidos com a qualidade do nosso campeonato e pela forma como está
a decorrer, podemos renovar.
Nesta fase, só tivemos a transmissão de jogos disputados, em Maputo. O que
prevê o contrato sobre este aspecto e o que está sendo feito para que na
próxima época, o cenário seja diferente...
-Neste ano, a empresa
estava numa fase experimental. Estando satisfeita vai aumentar o investimento
para que possa transmitir jogos a partir de outras cidades. Mas, o jogo de
Songo e o da consagração não foram transmitidos, devido à tensão político-militar,
pois, era difícil se deslocarem por via terrestre.
Qual é a vantagem financeira deste contrato para os clubes. Há relatos de
que vão render 300 mil MT por ano, valor considerado irrisório. Pode
explicar-nos como é feita a partilha deste bolo?
-Os ganhos financeiros
deste contrato serão definidos em AG Extraordinária, entre Novembro e Dezembro.
A violência voltou a manchar o nosso campeonato. Além de jogos à porta
fechada, que outras medidas concrectas a LMF está a tomar para acabar com esta
situação?
-Estamos a elaborar um
regulamento específico sobre a segurança nos campos de futebol. Vamos buscar
também outras experiências, como a inglesa em que também não era fácil ver o
futebol. Mas, não são só as leis e nem penalizações que vão mudar o
comportamento. É preciso que haja um trabalho de educação cívica para que as
pessoas saibam que o futebol é um sítio de lazer e não um campo de batalha. É
um trabalho a ser feito pela sociedade e não apenas pela LMF ou
FMF.
As condições dos nossos campos (falta de bancadas em alguns) não propiciam
estes actos?
-Propicia. A violência
tem várias origens e é uma delas. É um desafio que se coloca aos clubes para
melhorarem os seus campos. A UDS tem um projecto para ampliar as bancadas. Em
Nacala não temos informações, mas deviam ter um projecto similar.
Mas, não havendo projecto, o que a LMF irá fazer?
-O regulamento que
estamos a preparar já prevê a capacidade mínima dos campos que devem acolher o Moçambola
e a partir daí faremos o controlo das presenças, se ultrapassou-se ou não o
limite. (foto:Ferroviário da Beira/Campeão Nacional 2016)
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