Entre os
funcionários de Estado com cargos de direcção, os directores nacionais figuram
entre os que mais duram nos cargos. Os directores provinciais e os directores
distritais também. E, finalmente, os secretários permanentes a todos os níveis.
Não quero
discutir se isso é bom o que não. Quero discutir o que isso promove: fraudes.
Alguém que
fica mais de 5 anos num cargo de direcção sem passar por um processo de
escrutínio, desenvolve apetite pela fraude. E a fraude mais simples é mentir
para os superiores hierárquicos novatos, que assumam funções por nomeação do
Presidente da República, do Ministro ou do Governador Provincial.
O esquema
funciona há mais de 20 anos, e é assim:
(i)
identifica-se uma actividade que carece de legislação específica e se elabora
uma proposta de lei para a sua regulamentação;
(ii)
comunica-se ao ministro que superintende ou tutela a actividade em questão e se
lhe convence sobre a importância socioeconómica da mesma e das perdas que
Estado soma por falta dessa lei;
(iii)
oministro fica sensibilizado e manda preparar uma proposta de diploma legal
para regulamentar o exercício da actividade eleita;
(v)
durante a preparação da proposta do diploma legal, os técnicos evolvidos
(alguns) identificam oportunidades de negócios para proveito próprio;
(vi) na
calada, sem ninguém perceber quase nada, eles projectam a criação de sociedades
empresariais que terão o Estado como seu cliente, quando a norma em processo de
produção for aprovada e entrar em vigor;
(vii)
seguidamente, aqueles técnicos identificam alguém conveniente para criar uma
sociedade comercial que tomará as oportunidades de negócio que a implementação
da lei em preparação irá criar;
(viii)
agora é só "tchunar" a proposta de lei para o Conselho de Ministros e
a Assembleia da República a aprovarem sem emendas de vulto;
(ix)
preparar os argumentos a emprestar ao ministro para este defender a lei no
Conselho de Ministros e na Assembleia da República; e
(x) já
está: está pronto o esquema para os técnicos que tiveram a iniciativa de lei
mamarem "legalmente" das tetas do Estado.
Este modus
operandi dos bandidos instalados no aparelho está tão aperfeiçoado que passa
despercebido diante de quem tem o dever de fiscalizar a acção legislativa do
Governo, nomeadamente a Assembleia da República... Quem ganha concurso público
em Moçambique são as firmas privadas que nascem por recomendação de quem
participa na concepção e elaboração das propostas de diplomas legais. Do que o
Estado paga a essas firmas, os "autores da lei" que gerou o negócio
recebem "royalities".
A
propósito, quem não conhece um "Director" nacional, provincial ou
distrital que detém um património acima da média para um funcionário público de
seu nível, e até superior ao de um ministro, governador provincial ou
administrador distrital? Quem alguma vez se questiona sobre a origem da riqueza
material relativa daqueles funcionários públicos? Só da aplicação das suas
poupanças?!...
Enfim, é
assim que o povo é privado de justiça e feito trabalhar para enriquecer
larápios. O que estou a querer dizer é que a Assembleia da República tem que
preparar exercer melhor a sua acção fiscalizadora sobre o Governo. Muitas leis
da iniciativa do Governo prejudicam, e vez de beneficiar, o cidadão. Esta é a
forma como os moçambicanos são sistematicamente privados de jutiça: a
legalização ardilosa do roubo por instituições que deveriam defender o
interesse público. Urge mudar. E espero que essa mudança comece já, com o
debate mais criterioso das propostas de lei ora depositadas na Assembleia da
República. A proposta de lei das transacções electrónicas, por exemplo, encerra
um esquema ardiloso para a legalização do saque do Estado por entidades
privadas fantasmas, na fase da sua implementação, caso seja aprovada como está.
(JCumbane in facebook)
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