TVM é a nossa
televisão pública. É, de entre os tantos canais de televisão que temos em
Moçambique, aquele que deveria nos oferecer um serviço público de TV. Devia
caber, nesse serviço público, a provisão de informação televisionada que
satisfaça as nossas necessidades de informação.
Talvez seja
necessário definir o que, no nosso contexto, seria “serviço público de
televisão” e que deveria ocupar a TVM e seus profissionais.
É que, a meu ver, não
podemos confundir a estrutura empresarial da TVM com serviço público. Esta
definição é importante e urgente para sairmos da actual situação em que (me
parece) se confunde serviço público com ser canal oficial das actividades do
Governo quase num contexto de “jornalismo sentado” (de conferências apenas).
É frustrante assistir
a uma entrevista que de GRANDE só tem o nome do programa. O exemplo disso foi a
entrevista com o Edil de Maputo David Simango na quinta-feira passada; uma
entrevista sem roteiro, sem sequência e que terminou da mesma forma como
começou. É que, o edil de uma cidade capital que enfrenta desafios enormes como
a nossa tem muito a dizer e devia ter sido suficientemente espremido para falar
desses desafios e de como a edilidade está preparada ou se está a preparar para
os enfrentar. A verdade é que foram vários minutos de conversa quase que
informal em que a entrevistadora não ousou fazer uma única questão de fundo que
obrigasse o edil de Maputo a elaborar de forma clara e realística sobre os
principais problemas da nossa cidade capital: mobilidade, gestão de resíduos,
planeamento territorial etc, dentro do que é competência do Município tratar.
Infelizmente todas as
“grandes” entrevistas são, na verdade, grandes conversas estéreis com
excepcionais momentos de alguma lucidez.
Moçambique é vasto e
com uma riqueza cultural enorme mas, no entanto, os poucos espaços de promoção
do que de melhor se faz é usado para promover inutilidades como “Mulher Bacia”
(uffffff) num contexto que os nossos melhores músicos se queixam de falta de
espaço para se mostrarem. E isso me entristece pela ideia que tenho de que uma
Televisão Pública que se prese e ciosa do serviço público que deve prestar,
deveria estar comprometida com conteúdos educativos, com a decência etc. Que
tal levar à TV o grupo “Timbila Muzimba” e outros do género que vão remando
pela preservação da Timbila, esse instrumento que a humanidade se apossou dele?
Que tal levar ali o trabalho musical de Aly Faque, Filipe Nhassavele, Mussodji
e outros nomes sonantes e ainda anónimos da música e outras manifestações culturais?
Que mensagem se quer transmitir com a promoção de “Bacias”?
O que é que
pretendemos da TVM? É uma questão que devemos nos colocar e buscar respostas o
quanto antes. Ser politicamente correcto (no sentido de neutralidade) pode ser
uma opção; uma opção até defensável mas, ser subserviente mesmo que ao Governo
que canaliza parte do financiamento para o funcionamento da TVM (em parte
através dos nossos impostos, diga-se) não deveria ser se quer cogitado. É que o
serviço público que se pretende daquela casa não se compadece com isso.
Um verdadeiro serviço
público, que traga moçambique na sua diversidade cultural, política, social etc
era a minha expectativa. Essa expectativa vem sendo frustrada há muito tempo.
Não encontro na TVM um provedor de serviço público de informação; antes pelo
contrário. Encontro uma instituição que insiste em ser excludente, que se nega
a abrir a diversidade quer de pontos de vista, quer de visão do Moçambique que
queremos. É uma instituição que pretende que vejamos o país pelas mesmas lentes
e nos convida insistentemente para monólogos aparentemente pré-ensaiados.
PS: Cresci a pensar
que os jornalistas e/ou profissionais da comunicação social são irreverentes/revolucionários.
Aliás, os códigos deontológicos que os regem impelem-nos a essa irreverência.
Vejo isso em alguns canais em Moçambique. Na TVM é só reverência e uma
reverência que fadiga.(Julio Mutisse)
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